Virou moda nas redes sociais lançar desafios e métodos para quase tudo! Maneiras pessoais de pensar e desenvolver estratégias para lidar com os mais diversos problemas do dia a dia, têm sido vendidos como a única solução para a vida das pessoas, sobretudo das mulheres que tendem a ser mais suscetíveis a este tipo de coisa. Correndo por seu feed ou stories, você encontrará vários deles: “30 dias para deixar de gritar com seus filhos”, “desafio da pia limpa”, métodos para arrumação, faxina; o modo certo para amamentar e alimentar seus filhos, de se despegar do consumo ou manter seus filhos longe da televisão; como você deve se arrumar para ficar em casa e os benefícios extraídos daí. Parece que se não houver um método específico para implementar mudanças, que tenha seus contornos bem delimitados, nossa vida não sairá do lugar.

  Alguns aspectos desta moda me deixaram preocupada e gostaria de compartilhar com vocês minhas considerações. Faremos isso em duas partes. Primeiro falaremos sobre os “desafios” e, depois, sobre “métodos”.

                   Os desafios de 30 dias

“Este mês você deverá tratar seu marido de forma gentil. Quando tiver vontade de dar uma resposta grosseira, ore por ele.”

 Fiquei pensando no quanto realmente precisamos ser desafiadas a mudar a forma, muitas vezes desrespeitosa, que tratamos nossos maridos. Mas, ao mesmo tempo, ponderei: só 30 dias? Esse não deveria ser um desafio de 30 dias, mas o desafio de TODA a nossa vida.

Talvez esses desafios estejam repletos de boas intenções em nos ajudar a mudar, mas será que estamos nos agarrando de forma indevida a eles, contando com a supervisão de pessoas que não conhecemos, tendo que prestar relatórios virtuais e alcançar metas que têm data para terminar? Será que estamos buscando mudanças mágicas para problemas e pecados com raízes profundas? Se esse for o caso, podemos não apenas perder tempo, mas nos decepcionar com o método e conosco, quando fracassarmos. Talvez isso leve a vitória contra nossos pecados para mais longe de nós.

Quando diagnosticamos um pecado em nossa vida, precisamos reconhecer que estamos no erro, e buscar na Palavra e em Cristo a mudança. Nosso exemplo, caso sejamos grosseiras com o nosso marido, por exemplo, deve ser a mulher de Provérbios 31. O texto diz que ela era uma mulher que fazia a seu marido “bem e não mal, TODOS OS DIAS de sua vida.” Esse era o motivo pelo qual o texto diz que o coração do marido confiava nela!

O coração do marido confia nela por estes motivos: pelo que ela faz – o bem; e pela duração desse bem – todos os dias de sua vida. Seu compromisso com o bem-estar do marido é verdadeiro, não falso; constante, não temperamental; confiável, não instável; e criterioso. (Comentários do Antigo Testamento, Bruce Waltke, Ed Cultura Cristã, pg. 639)

O que precisamos entender é que, não tratar gentilmente o marido ou gritar com os filhos, por exemplo, é pecado. E não temos como ter vitória sobre o pecado desenvolvendo técnicas! O pecado é muito mais forte que isso. Quando vem com sua força avassaladora, você não poderá se esconder atrás de resoluções impensadas, de promessas titubeantes ou de boas intenções. Quando a ira, o descontentamento, a preguiça e a indolência batem à nossa porta, só há uma solução: Correr para a cruz de Cristo!

A ordem bíblica tem uma linguagem de vida e morte para a luta contra o pecado: primeiro o apóstolo Paulo nos manda morrer para a nossa natureza pecaminosa, nos despojar (essa é uma palavra que dá a ideia de um despojo de guerra, tomado à força pelo vencedor) e em seguida nos ordena a substituir as velhas atitudes pecaminosas por novas. Veja:

Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria; por estas coisas é que vem a ira de Deus [sobre os filhos da desobediência]. Ora, nessas mesmas coisas andastes vós também, noutro tempo, quando vivíeis nelas. Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos.

E aí vem a contraordem:

 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Colossenses 3.5-12

Simplesmente não existem “desafios de tantos dias” que sejam capazes de nos ajudar a fazer morrer a nossa velha natureza. Não! Eles não vão criar novos hábitos redentores para nós! Precisamos desesperadamente de Cristo.

Sei que muitas irmãs que propagam a adoção desses desafios não acham que eles substituem a Cristo. Não há nenhuma acusação desse tipo aqui. Minha preocupação está naquelas jovens recém-casadas e perdidas com a rotina de esposas, mães e donas de casa, que olham para essas propagandas como a tábua de salvação para o círculo vicioso em que se meteram: não dar conta de suas obrigações, vê-las se avolumando, sentirem-se frustradas e extravasarem isso com mau humor e rispidez.

Muitas dessas mulheres não foram talhadas para serem mães carinhosas e esposas respeitadoras, e se veem numa peleja diária. De um lado seus sentimentos egoístas pedindo paz e sossego, de outro, filhos e marido com suas dezenas de demandas e uma casa da qual têm que dar conta. Elas explodem! Gritam com seus filhos, são indelicadas com seus maridos e experimentam, depois de dar à luz ao pecado, o gosto amargo que ele traz. Quando dão de cara com um desses “desafios de tantos dias”, se deslumbram. Pensam que todos os seus problemas nessa área estão resolvidos.

Não se agarre a tais ilusões! Chame pecado de pecado e trate pecado como a Bíblia manda: arrancando-os com ferocidade, rasgando seu coração em arrependimento aos pés de Cristo, que é Aquele que pode efetuar mudanças verdadeiras e duradouras. Não apenas por 30 ou 60 dias, mas fazendo com que seu viver seja constantemente doce e agradável ao Senhor.

*Continua…