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O vestido da noiva está deslumbrante, as flores foram escolhidas a dedo, a música que remete ao primeiro encontro enche o ambiente e os corações. Suspiros por todos os cantos, nervosismo, felicidade, cheiro de vida nova no ar. Foram meses de insônia, de reuniões com os pais e com a cerimonialista. A escolha dos padrinhos, das damas, dos convidados, do fotógrafo, dos docinhos… Em meio a tantos preparativos, quase some da mente das noivinhas que o casamento é MUITO mais do que aquele momento mágico, que o casamento de verdade, começará na manhã seguinte e durará o resto da vida. Em meio a tantas expectativas quanto à nova vida, nova casa, novos amigos, nova família, novo estilo de vida, quase sempre esquecemos de um pequeno detalhe: aquele jovem que era um querido amigo e se tornou meu noivo, agora é a pessoa responsável por mim diante de Deus! Os pombinhos, inebriados pelas delícias da nova vida, não se lembram disso nos dias de sua viagem de lua de mel. É quase como se depois da maravilhosa viagem, cada um fosse voltar para a casa de seus pais e a vida continuasse como sempre foi. Mas eis que chega a segunda feira! A primeira semana, o primeiro mês, o primeiro ano.

Com certeza a adequação à nova realidade é uma das partes mais difíceis do casamento. Como parar de tratar meu marido como mais um amigo da igreja e passar a olhá-lo com outros olhos? Como passar a vê-lo como autoridade sobre mim? Como posso elevá-lo a este patamar se não for instruída a isto? “Mamãe devia ter me ensinado” que preciso ser submissa àquele jovem rapaz que me desposou. Devia ter me ensinado que a submissão não fica em stand by, aguardando eu me tornar uma senhora mãe de vários filhos! A submissão ao marido de 22 anos é tão bíblica quanto a submissão a um marido de 50.

No final deste ano, eu e Orebe completaremos 25 anos de casados, pela bondade de Deus. Não obstante o longo tempo passado, ainda me lembro muito bem da sensação que tive quando ele tentou “mandar” em mim pela primeira vez! “Ei, peraí! Quero continuar sendo sua namorada. Sem essa de dar uma de pai para cima de mim!” Talvez estas não tenham sido as exatas palavras, mas foi desta forma que me senti. Por causa da falta de um ensino doutrinário sólido, eu via o casamento como uma excelente oportunidade de me livrar de um pai exigente e viver livre, leve e solta, aventuras deliciosas com o amor da minha vida! Ninguém me contou que ele me diria um sonoro NÃO de vez em quando. Eu não sabia que teria que me submeter a ele como eu me submetia a meu pai. Eu ignorava completamente os princípios contidos no quinto mandamento!

Entendendo o quinto mandamento

Quero começar mostrando o que o Catecismo Maior de Westminster nos ensina sobre este mandamento. O Catecismo Maior é um dos documentos adotados como símbolo de fé pela Igreja Presbiteriana do Brasil e por tantas outras igrejas reformadas. Portanto, se você se considera reformada, precisa entendê-lo!

Pergunta 123: Qual é o quinto mandamento?
Resposta: O quinto mandamento é: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.”

Pergunta 124: O que significam as palavras pai e mãe no quinto mandamento?
Resposta: As palavras pai e mãe no quinto mandamento significam não apenas os pais naturais, mas todos os superiores em idade e dons e especialmente todos aqueles que, por ordenança de Deus, têm autoridade sobre nós, seja na família, na igreja ou no Estado.

O que seriam superiores em idade e dons? Seriam aqueles que são mais velhos que nós ou que, por causa do lugar dado por Deus a eles na família, na igreja ou no Estado, exercem função de autoridade sobre nós. E aqui vai um adendo importante: sempre que eu me referir a superiores e inferiores, palavras largamente usadas no Catecismo, lembrem do sentido primário em que estas palavras são usadas no texto original: funcionalmente superiores ou inferiores!!!! Entendido isto, posso perguntar: Sua mãe te ensinou que, por causa da ordenança de Deus, seu marido, aquele jovem e sorridente rapaz, é seu superior diante de Deus? Você sabia que por causa disso ele tem sérias obrigações diante de Deus em relação a você? Sabia que você tem também obrigações, definidas pela lei de Deus, em relação a este seu superior, tanto quanto tinha em relação aos seus pais? Sabia que para ter longa vida sobre a terra, precisa respeitar estes limites que a diferença de funções instituídas por Deus gera? Será que você tem violado seguidamente o quinto mandamento sem nunca ter se dado conta disto? Para te ajudar a analisar suas atitudes para com este superior, que é seu marido, leia com muita calma e  em voz alta a pergunta que se segue (não vá engasgar como aconteceu comigo na primeira vez que me deparei com este ensino!!):

Pergunta 127: Que honra devem prestrar os inferiores aos seus superiores?
Resposta: A honra que os inferiores devem prestar aos seus superiores é toda a reverência que se deve a eles de coração, em palavras e atitudes; a oração e a ação de graças por eles; a imitação das suas virtudes e graças; a obediência voluntária às suas ordens e conselhos legítimos; a devida submissão às suas correções; a fidelidade, a defesa e a manutenção de suas pessoas e autoridade, conforme os seus vários escalões e a natureza dos seus postos; suportar suas falhas e encobri-las com amor, sendo uma honra para eles e para seus governos.

Dá para ter uma noção de quantos ricos ensinamentos podemos tirar desta resposta? Gostaria, então, de analisar alguns aspectos abordados aqui com vocês!

Devemos honrar nosso marido

Mas o que isso significa na prática? A palavra honra tem alguns sinônimos interessantes para entendermos sua abrangência: demonstração de respeito, lugar de importância ou de destaque, apreço, consideração, estima, distinção. Agora tente aplicar estes sinônimos ao modo como você fala com seu marido quando está irritada, por exemplo, e me diga se confere!! Lembre-se da forma como você retrucou uma posição antagônica na última vez que vocês discordaram de algo. No meio desta discordância e na tentativa de mostrar a ele o quanto você está correta e ele redondamente enganado, teria você se lembrado que deve honra a ele? Teria tratado-o como alguém superior a você? Teria falado com ele com o mesmo respeito e consideração que demonstraria ao discordar de um pastor ou presbítero de sua igreja? Será que no calor das emoções temos deixado de dar a ele o lugar de destaque e de importância que a posição que ele ocupa reclama? Com base em minha própria experiência e na de dezenas de irmãs que compartilham suas dificuldades comigo, temo dizer que sim! Temos sim, quebrado repetidamente o quinto mandamento de forma insolente.

Devemos honrá-los de coração, em palavras e atitudes

Palavras grosseiras e impacientes têm sido uma prática no lidar diário com seu esposo? Que nota ele daria a você se fosse solicitado a avaliar o tom de voz e a forma como você fala com ele? Algumas de nós têm se tornado especialistas em contradizer os maridos, cutucá-los e chamar sua atenção, contradizê-los e retrucá-los em público. Você costuma tratar seu marido como um moleque de cinco anos, ou como um representante de Deus em sua vida? Você ousaria falar com Quem o instituiu autoridade sobre você, da mesma forma que fala com ele? O primeiro passo para vencermos este pecado é dominarmos nossa língua. Tiago tem muito a nos dizer sobre este assunto que, definitivamente, não é um assunto fácil.

Mas, ao batalhar contra a língua, não nos esqueçamos que nossa atitude também pode revelar muito sobre nós. Olhares atravessados e cheios de reprovação, sobrancelhas levantadas, suspiros altos o suficiente para serem percebidos, cara feia, poucas palavras, greve de sexo. Todas estas armas podem ser usadas para demonstrar que não estamos satisfeitas com a liderança exercida sobre nós. E cada uma delas é tão pecaminosa quanto o uso ferino da língua.

E para piorar a situação, a honra que devemos ao nosso marido não é apenas exterior, de palavras e atitudes, é também de coração. Você se lembra que no sermão do monte Jesus coloca em pé de igualdade o matar e o proferir insultos? O adulterar e o olhar com lascívia? O que isto quer dizer? Quer dizer que você pode até ter um temperamento mais dócil e não expressar em palavras e ações o que seu coração sente. Mas se este sentimento escondido não for de submissão, mesmo que seu marido nunca saiba, você o está desonrando e pecando contra ele e contra Deus em seu coração.

Devemos obediência voluntária às suas ordens e conselhos legítimos;

Como já dissemos a obediência é um ato da vontade, por isso, precisamos disciplinar nosso coração a acatar as decisões dele e a seguir seus conselhos. É claro que podemos discordar e expor nossa posição, desde que isto seja feito com respeito e de forma privada. O que não podemos é exigir que ele acate nossas sugestões! A palavra final é sempre dele, e devo demonstrar mansidão e honra quando a decisão tomada for diferente daquela que eu sugeri.

A esta altura algumas leitoras podem estar se perguntando: mas e se meu marido não for crente? Minhas irmãs, não existe a possibilidade de fugir desta ordem quanto à submissão! Nem se seu marido for ímpio. Sim, você precisa se submeter às suas ordens e conselhos legítimos. A única possibilidade de você gentilmente se esquivar de obedecê-lo, é se a ordem dada for pecaminosa. Neste contexto é que lemos: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens.” Atos 5.29

Devemos a eles a defesa e a manutenção de suas pessoas e autoridade

Como posso falhar nestes aspectos? De muitas e variadas formas já fiz isto e tenho visto irmãs fazendo o mesmo ao longo dos anos. Lembra daquela roda de amigos conversando, quando todos se viram contra seu esposo? Seja na brincadeira ou numa discussão séria, de que lado você se posiciona? Você é primeira a rir DELE e não COM ele? Você faz piadas dele de forma que o envergonhe e o faça parecer um idiota na frente de todos? Ele tem sido sempre o motivo de chacota entre os amigos por sua causa?

Outra forma de quebrar o mandamento é quando não defendemos e mantemos sua autoridade. Quantas vezes você já se pegou permitindo que seus filhos façam algo que papai proibiu? Ou já cochichou em seu ouvidinho: “quando o papai sair mamãe te dá o sorvete…mamãe também acha que esta ordem do papai foi exagerada…”? Quantas vezes você mesma tem tomado atitudes contrárias ao que seu marido deseja nas costas dele?

Devemos suportar suas falhas e encobri-las com amor

Novamente o cenário é um almoço entre amigos. E qual é o prato do dia? As falhas de seu marido! Um chá de mulheres, telefonemas para sua mãe, reunião para estudo bíblico: todas estas têm sido oportunidades para falar mal de seu esposo e expor seus erros e pecados? Ou temos agido piedosamente perdoando e levando o problema apenas a quem de direito? É claro que muitas vezes precisamos nos aconselhar com nosso pastor e sua esposa, ou com uma amiga mais experiente, e contarmos os problemas conjugais que temos passado, expondo, assim, os pecados do nosso marido. Mas isso é completamente diferente de difamarmos nosso esposo.

Devemos ser honra para eles e para seus governos

“A mulher virtuosa é a coroa de seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão em seus ossos” Pv 12.4. Em qual destas categorias posso me encaixar? Tenho sido coroa ou podridão? Será que tenho honrado meu esposo e honrado a autoridade dada a ele por Deus? Meu marido é “estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra” por causa da minha submissão amável?

Querida irmã, que este seja o desejo do seu coração e que você persiga este alvo todos os dias! Que sejamos mulheres que, não apenas se sujeitam às decisões de seus maridos, mas que nos esforcemos diligentemente para proteger sua imagem,  tratá-los com doçura e respeito, dando-lhe a honra que sua posição reclama.

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simone* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.

Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler…  de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por meu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.