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Usando a língua para edificar

Faça um compromisso com você mesma: vigie suas palavras e as tenha em alta conta, de maneira que sejam jóias preciosas que quando chegam, acrescentam bênçãos, acalentam, consolam e edificam! Suas palavras devem trazer paz, reconciliação e harmonia. Esta deve ser uma meta de vida da mulher virtuosa, que busca viver para a glória de Deus! Como lemos em Provérbios anteriormente, nossas palavras , ao invés de ferir, devem ser medicina, trazendo cura!

“Os lábios do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos.” Provérbios 10. 21

“A boca do justo produz sabedoria, mas a língua da perversidade será desarraigada.” Provérbios 10.32

“Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo.” Provérbios 16.24

“Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco.” Provérbios 10.20

Paulo também nos exorta em Efésios a não permitir que palavras torpes saiam de nossa boca, mas “unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” Perceba que a Palavra de Deus não apenas ensina o que não devemos fazer, mas a religião verdadeira substitui os velhos hábitos pecaminosos por condutas santas! Não apenas descartamos palavreados chulos, impuros, mas também usamos nossas palavras para o que é bom para edificação, ou simplesmente, para o que é útil “transmitindo graça aos que ouvem, significando pelo termo ‘graça’, conforto, admoestação e tudo quanto coopera na salvação”. Não se trata aqui de uma linguagem bajuladora, mas como vimos, inclusive, uma linguagem que repreende quando necessário. Tanto no caso de trazer conforto, quanto no de corrigir o faltoso, o objetivo é um só: coadjuvar para que a vida espiritual de meus irmãos seja frutífera!

Como Paulo nos previne em Colossenses 4.6, as nossas palavras devem ser sempre agradáveis e temperadas com sal, para sabermos responder a cada um. João Calvino explica detalhadamente o que isso indica:

“Ele requer uma linguagem suave, de modo que os ouvintes se sintam atraídos por sua utilidade, pois ele não condena meramente as comunicações que são francamente perversas ou ímpias, mas também as que são inúteis e ociosas. Daí ele deseja que sejam temperadas com sal… pois ele considera insípido tudo quanto não visasse à edificação. O termo graça é empregado no mesmo sentido, como sendo oposto à tagarelice, ao sarcasmo e toda sorte de futilidades que são ou injuriosas ou sem valor”[1]

E quando falam mal de mim?

Certamente a fofoca e a maledicência tomam outra conotação quando são feitas contra nós. Enquanto nós estamos falando de outras pessoas ou espalhando seus defeitos aos quatro ventos, nos sentimos ‘defensores da verdade’! Entretanto, quando nós somos o alvo das intrigas e mexericos, aí sentimos, na pele, a força que estes pecados têm. Gostaria de dividir este tema em duas partes: Quando falam de nós com razão, e quando falam de nós sem razão.

Quando falam de nós com razão:

Se a especulação e os boatos que estão sendo ventilados sobre nós são verdadeiros, já devíamos esperar por isso. Embora seja pecado contra o nono mandamento fofocar sobre as falhas e pecados alheios, quando damos motivos, estamos colaborando! O povo já gosta de falar quando não acontece nada, quando acontece mesmo então… Me lembro daquele texto de Pedro, que diz que sofrermos afrontas pelo nome de Cristo é motivo de alegria, mas se sofremos porque pecamos…

“Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe.” (I Pedro 4.14-15)

Sofrer por amor a Cristo é honroso, sofrer por que pecamos é vergonhoso. Dessa maneira, quando sofremos por causa do nosso pecado não podemos sequer, pensar em reclamar. Sofrer porque pecamos é justo! Por isso as lamúrias e queixas são incabíveis. Estamos sofrendo as conseqüências de nossos pecados, mesmo que a administração deste juízo, pelas mãos dos homens, não representem a misericórdia e juízo de Deus. Neste caso devemos nos resignar, entregando ao Senhor, o Reto juiz, e dispostos a receber a disciplina que vem de Deus, por meio de mãos humanas, sabedores que merecemos juízo ainda mais severo!

Quando falam de nós sem razão:

Esta é uma experiência amarga, que indubitavelmente, muitas de nós já vivemos. Se não encararmos situações assim diante da perspectiva bíblica, o pesar e o desgosto podem se apoderar de nós de forma avassaladora. Ser alvo de mentiras e ver estas mentiras sendo repetidas e recontadas, pode gerar abatimento de alma. Esta pode ser a porta de entrada para outros pecados. Por isso é tão importante o entendimento bíblico sobre o sofrimento.

Davi conhecia bem este assunto. Passou grande parte de sua vida fugindo, se escondendo, sendo acusado por Saul de estar querendo tomar-lhe o reino. As fofocas não eram amenas e suas conseqüências poderiam ser trágicas… Davi corria risco de vida por causa delas! Sua aflição era tão grande, que ele temia pecar contra o Senhor ao abrir a boca indevidamente. Por isso, e neste contexto, ele orou:

“Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios. Não permitas que o meu coração se incline para o mal, para a prática da perversidade…” Salmos 141.3-4

João Calvino explica:

“Como Davi estava sujeito a ser ferido, em decorrência da fúria desenfreada e irrestrita de seus inimigos, e por isso ser tentado a agir de maneira injustificável, ele ora em busca de orientação divina, não para que fosse poupado da violência física, e sim para que sua língua fosse refreada de expressar reprimendas ou palavras de queixa. Mesmo as pessoas de temperamento mais equilibrado, quando injuriadas de modo ilegítimo, começarão a retaliar por ficarem ressentidos pela conduta inconveniente de seus inimigos. De acordo com isso, Davi orou para que sua língua fosse impedida, pelo Senhor, de expressar qualquer palavra imprópria. Em seguida, ele pediu que seu coração fosse guardado de todos artifícios malévolos que pudessem resultar em vingança… Visto que nada é mais difícil às vítimas de perseguição injusta do que o refrearem a língua e se submeterem, com silêncio e sem queixas, às injúrias, Davi precisava rogar que sua boca fosse fechada e guardada… imediatamente, ele explica que pretendia dizer que não desejava intrometer-se com eles na perversidade e, assim, igualar-se aos seus inimigos… Ao entregar-se à orientação divina, Davi reconhece a necessidade da influência do Espírito para refrear sua língua e sua mente, particularmente quando tentado a exasperar-se pela insolência da oposição. Se por um lado, a língua é passível de deslize e apressada demais a falar, a menos que seja continuamente vigiada e guardada por Deus, há, por outro lado, afetos íntimos desordenados que exigem restrição.

Que fábrica agitada é o coração do homem, e quantos produtos são ali manufaturados a todo instante! Se Deus não vigiar o nosso coração e língua, não haverá, reconhecidamente, limites para as palavras e pensamentos pecaminosos. O dom do espírito na moderação do falar é tão raro, que Satanás está sempre fazendo sugestões que serão imediata e facilmente colocadas em prática, se Deus não intervir.”[2]

Numa circunstância parecida, Davi reconhece a complexidade que era manter-se puro, enquanto pecavam contra ele. Como era difícil ter paciência e, meio a tão grande e difícil prova. Ele reconhece que, enquanto o perseguiam e injuriavam, seu coração também estava sendo perscrutado:

“Disse comigo mesmo: Guardarei os meus caminhos, para não pecar com a língua; porei mordaça à minha boca, quando estiver na minha presença o ímpio.” Salmo 39.1

João Calvino observa:

“Ainda que subjugara seu coração à paciência, e resolvera guardar silêncio, contudo a violência de sua tristeza foi tal que o forçou a quebrar sua resolução e arrancou dele, se assim podemos falar, expressões que indicam que ele dera vazão a um imoderado grau de dor… Não é sem razão que ele vivesse tão atento no exercício da vigilância sobre si mesmo. Ele agia assim em virtude de ser consciente de sua debilidade pessoal, e também conhecia muito bem os múltiplos inventos de Satanás. Ele, pois, olhava para a direita e para a esquerda, e vigiava de todos os lados para que a tentação não o apanhasse desprevenido e encontrasse uma fresta pela qual pudesse atingir seu coração…

Ao dizer: Guardarei a minha boca com mordaça, a fim de não pecar com minha língua, o salmista não deve ser entendido como a restringir e ocultar sua tristeza… Mas como não há nada mais enganoso e devasso do que a língua, Davi declara haver se empenhado com a máxima prudência para refrear suas aflições, para que nem sequer uma palavra escapasse de seus lábios que denunciasse nele a mínima impaciência.”[3]

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[1] João Calvino. Comentário do livro de Colosseses. Editora Fiel, pg 584-585
[2] João Calvino. Comentário do livro de Salmos. Editora Fiel, vol.4, pp. 512-514)
[3] João Calvino. Comentário do livro de Salmos. Editora Fiel, vol.2, pp. 196-197

 

Continua… 

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.