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Ah, quantas de nós temos caído neste pecado! Pense numa manhã de domingo em que ao chegar à igreja, você cumprimenta a irmã Maria e ela não lhe responde. Temos duas posturas diante do acontecido: ou desculpamos a irmã, pensando que ela pode não ter nos ouvido, ou, maliciosamente, já começamos a achar que Maria está aborrecida porque pode não ter gostado disso ou daquilo que fizemos. Temos dificuldade em achar que as intenções dos nossos irmãos são puras… sempre tendemos a julgá-lo mal. E quando, além de alimentar estas suspeitas em nossos corações, as passamos adiante, acrescentamos pecado sobre pecado.

Um dia desses, me arrumando para sair de casa, coloquei uma blusa vermelha. A cor da sombra escolhida foi azul. Era a que estava à mão. Percebendo que a blusa escolhida estava manchada, corri e troquei por uma outra. Minha amiga, quando me encontrou, fez o elogio: “que linda! Combinando a cor da blusa com a da sombra!” Esta poderia sim, ter sido minha intenção, mas foi uma escolha aleatória. Pense comigo se essa amiga quisesse suspeitar mal de minhas intenções e fofocar sobre o ocorrido. A conversa com as outras pessoas poderia ser assim: “Você reparou no quanto a Simone anda fútil? Ela não ligava para nada disso, mas agora, não sai de casa se a cor da sombra não combinar com a roupa.” Este é apenas um exemplo bobo, para nos alertar de quão distante a verdade pode estar do que nossas palavras asseveram! Pode haver uma distância abissal entre aquilo que pensamos que aconteceu e aquilo que realmente aconteceu. O Catecismo comentado também descreve este pecado da seguinte forma:

“Por que é pecado “a má interpretação de intenções, palavras e ações”? Porque imaginar as intenções, as palavras e as atitudes dos outros intencional ou conscientemente é o mesmo que mentir sobre eles. Esse é um pecado bastante comum, mas os crentes em Cristo deveriam se envergonhar de agir assim. Se alguém sobressai em alguma boa causa, não temos o direito de acusá-lo de ambição egoísta. Se alguém se opõe à maneira específica de se realizar um bom propósito, não devemos tirar a conclusão de que ele se opõe àquela boa causa em favor do mal oposto. Infelizmente, esse princípio é quase sempre desconsiderado e crentes sinceros são acusados de serem a favor de várias formas de mal por não concordarem totalmente com os outros quanto aos métodos que devem ser usados no combate ao mal.”[1]

São tantas situações em que pecamos por julgar mal nossos irmãos… estes dias soube que uma amiga, que havia ficado viúva há quase um ano, estava namorando e pretendia se casar. Em dois grupos diferentes onde ouvi esta história, houve irmãos em Cristo que se apressaram a condená-la, mesmo sem conhecimento de causa: “Ela já deveria estar envolvida com esse rapaz antes do marido morrer! Foi muito rápido! Uma mulher que fica viúva dificilmente se relaciona com outro homem tão facilmente.” Quanta maldade, quanta falta de cuidado com a reputação daquela piedosa irmã! Quanto desconhecimento da dor que ela carregava! Quanta ignorância a respeito das dificuldades que ela teve para se abrir a um novo relacionamento depois que perdera o grande amor de sua vida. Por que insistimos em dar sentença em eventos que não conhecemos integralmente? Por que não procuramos saber antes de falar? Por que nos adiantamos e não damos ao irmão o benefício da dúvida, mas o julgamos e condenamos sem sequer ouvir sua história?

Precisamos nos lembrar que não temos todos os esclarecimentos sobre os episódios e isso nos impede de analisar com justiça. Mas somos rápidas em pegar as informações parcas que temos, juntar a elas as nossas interpretações e opiniões, formular uma teoria e apresentá-la aos outros, como verdade incontestável. Precisamos levar em conta que muitas vezes estamos distantes dos fatos verídicos e nossa perspectiva é facilmente alterada por tantas nuances quantas possam existir… Antes de formular uma sentença dura contra seu irmão, tenha a certeza de que as coisas podem não ser bem assim como você está pensando…… seus olhos e seus sentidos podem estar enganados, podem haver mil razões impensáveis para seu irmão agir como agiu. Quer descobrir e estabelecer a verdade? Vá direto a ele ao invés de ficar conjecturando e presumindo o que pode ter acontecido. E isto é exatamente o que trataremos no próximo tópico!

Fale com a pessoa certa!

Você acha que fulana está de cara virada pra você? Não gostou da resposta que foi dada e gostaria de saber se há algo a mais por trás? Pensa que tal ou tal atitude de seu irmão é pecaminosa, pelo que se vê? Suspeita que tem algo errado? Você tem duas opções: Não se abalar com as suspeitas que você sabe que podem estar equivocadas e preferir pensar sempre o melhor do seu próximo, ou, se a situação exigir, resolver suas desconfianças diretamente com quem de direito. Quantos problemas seriam evitados no seio da igreja se perseguíssemos este princípio bíblico!

“Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só.”. Mateus 18.15

Este é sempre o primeiro passo, mas infelizmente, o mais ignorado quando se trata de resolver demandas entre irmãos. Suspeitamos mal, alimentamos mágoas no coração, maquinamos o mal contra ele, contamos a terceiros, espalhamos rumores e boatos sobre o acontecido, mas não seguimos esta ordenança ensinada por Jesus a seus discípulos. É muito mais simples resolver os pleitos assim que eles começam…… e se iniciamos a resolução de forma correta e bíblica, quantas chances temos de solucionar a contrariedade à contento e sem envolver mais pessoas que o devido!

O livro de Provérbios também reforça o conceito de que, se temos algo a dizer a alguém, que seja dito rigorosamente a esta pessoa:

“Pleiteia a tua causa diretamente com o teu próximo e não descubras o segredo de outrem…” Provérbios 25.9

Bem, começando pelo final do verso, se você não tem nada a ver com o assunto, não se empenhe para descobrir o que está acontecendo. Não descobrir o segredo de outrem, dá a idéia de confidencialidade, de não revelar um segredo que se sabe. A palavra significa: ser exposto, estar exposto, ser ou estar descoberto, mostrar. A ética cristã nos impõe este limite: Você ouviu falar que alguém cometeu este ou aquele pecado? A primeira coisa a fazer é responder algumas perguntas: você está envolvido no assunto? O pecado foi contra você? Você tem jurisdição ou autoridade sobre a pessoa ou sobre o sucedido? Não? Então lhe cabe a segunda sentença do verso: “não descubras o segredo de outrem”. Se, no entanto, a resposta for sim, pleiteie a tua causa diretamente com o teu próximo! Vá a ele antes de qualquer coisa. Se você tem alguma coisa a dizer sobre alguém, ir diretamente a ele é uma questão de lealdade a seu irmão e de obediência à Palavra de Deus! Não tenha medo de perder a amizade dele. Amigos precisam deste exercício. Salomão nos assevera esta verdade de modo brilhante:

“O que repreende ao homem achará, depois, mais favor do que aquele que lisonjeia com a língua.” Provérbios 28.23

“Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos.” Provérbios 27.5-6

“Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo.” Provérbios 27.17

Este é o caminho excelente! Esta é a recomendação da sabedoria de Deus! Tem alguma coisa a dizer sobre alguém? Diga a ele!

A medida que uso para mim é a mesma que uso para meus irmãos?

“ Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?” Tiago 4.11 e 12

Repare se isso não acontece facilmente com você também: Se eu me atraso para o culto, tive razões plausíveis; se foi o meu irmão ele não sabe administrar seu tempo. Se me enrolo financeiramente, é porque o país está em crise; se meu irmão se endivida, é descontrolado. Se eu me irrito e perco o controle, é porque estava numa fase difícil; se meu irmão altera a voz é porque não tem domínio próprio. Deveríamos ser tão misericordiosos e complacentes com nosso próximo como somos conosco. Deveríamos julgá-lo pela mesma régua que nos medimos, com severidade para com o nosso pecado, com compaixão para com o pecado de meu irmão! O Catecismo chama este pecado de agravar as pequenas faltas e Johannes comenta:

“O que significa “agravar as pequenas faltas” e por que isso é errado? Significa considerar as pequenas falhas ou faltas dos outros como mais sérias e mais importantes do que são de fato. Não devemos chamar o branco de preto, nem o preto de branco; não devemos falar das faltas das pessoas como se fossem virtudes, ou como se não fossem faltas nenhuma, contudo é errado considerar as pequenas faltas das pessoas como se fossem questões grandes e sérias. As palavras do nosso Senhor em Mateus 7.3-5 deveriam servir para nos lembrar que temos graves falhas em nós mesmos, que deveriam ter a nossa atenção antes de nos aplicarmos à tarefa de corrigir as menores faltas na vida dos outros.”[2]

Se tiverem que saber, que não seja por você.

A intenção de proteger um irmão dos malfeitos de outro, em princípio, pode até parecer uma boa idéia. Mas se formos analisar friamente, podemos errar feio, enquanto tentamos acertar. Por vezes, também fazemos isso com o intuito secreto e malicioso, embora nem sempre percebido por nós, de depreciar alguém. Talvez por causa de orgulho encoberto, temamos que outras pessoas sejam mais respeitadas do que nós, daí, logo queremos ‘advertir’ aos outros sobre quem aquela pessoa realmente é. O Catecismo chama isso de detrair. “Significa falar mal de alguém com o objetivo de detratar (maldizer) ou aviltar (depreciar) a sua influência ou boa reputação; é desabonar ou desqualificar alguém.” (pg 452). Seja por quais motivos façamos isso, seja com ou sem razão, quando agimos assim quebramos o 9º mandamento.

Durante muitos anos eu e Orebe moramos em várias cidades diferentes e congregamos em igrejas diferentes. Era interessante notar que, em cada uma que chegávamos, rapidamente éramos informados da “ficha corrida” dos irmãos. Não nego que algumas informações eram verdadeiras e que alguns irmãos desejavam mesmo nos proteger de perigos reais. Mas na grande maioria dos casos, as pessoas se apressavam em passar para nós as experiências dolorosas que haviam tido com fulano ou beltrano, sempre, é claro, mostrando o SEU ponto de vista e o SEU lado da história. Me lembro que diversas vezes, ao chegar em uma nova igreja, evitei me relacionar com algumas pessoas por causa de rumores que havia ouvido sobre elas.

O 9º mandamento me ensina a estabelecer a verdade e não a definir uma pessoa com base em um ou dois acontecimentos duvidosos. Todo acontecimento tem detalhes que desconhecemos. As pessoas têm razões que muitas vezes não são expostas. Precisamos dar o benefício da dúvida aos nossos irmãos. E se este benefício foi dado e foi provado que o irmão tem mesmo este defeito que precisa ser concertado, não cabe a mim alertar o planeta disso!

Certamente, em alguns casos, como já foi falado, é importante e até necessário que informações sejam dadas sobre pecadores incontinentes. No entanto, é bom pensar bastante antes. Esta informação é verdadeira? Preciso mesmo proteger um irmão deste outro? Tenho permissão e autoridade para falar sobre o assunto?

Você tem se apressado em informar às pessoas sobre os defeitos de outrem? Tem se colocado em situações difíceis por isso? A falta de sabedoria expressa por palavras tem metido muitas de nós em situações dolorosas. Necessitamos urgentemente aprender com as Escrituras a nos colocar a salvo de armadilhas embaraçosas que a língua nos arma!

Quando fingimos com a língua

Há muitas de nós que temos quebrado o 9º mandamento por falta de controle da língua. Mas será que temos feito pior do que isso? Será que temos nos entregado à bajulação na frente das pessoas, e à maledicência em suas costas? Certamente este é um agravante severo para o pecado da língua e, contra ele, as Escrituras nos advertem:

“A língua falsa aborrece (odeia) a quem feriu, e a boca lisonjeira é causa de ruína.” Provérbios 26.28

“Como vaso de barro coberto de escórias de prata, assim são os lábios amorosos e o coração maligno.” Provérbios 26.23

“Aquele que aborrece (odeia) dissimula com os lábios, mas no íntimo encobre o engano; quando te falar suavemente, não te fies nele, porque sete abominações há no seu coração.” Provérbios 26.24-25

“O que retém o ódio é de lábios falsos, e o que difama é insensato.” Provérbios 10.18

Dizem que as mulheres são catedráticas na arte de elogiar na presença e, assim que a pessoa vira as costas, apontar mil defeitos, até aqueles que não existem. Quero crer que entre as mulheres cristãs esse é um pecado que tem sido abominado e abandonado. Quero crer que temos buscado ser leais aos nossos irmãos a ponto de, tudo que falarmos dele, se necessário, possa ser repetido em sua presença. Se assim não tem sido, necessitamos mudar e clamar pelas misericórdias de Deus para que não sejamos parecidas com os insensatos e para que a ruína prevista para estes não nos assole:

“A boca do insensato é a sua própria destruição, e os seus lábios, um laço para a sua alma.” Provérbios 18.7

“O perverso de coração jamais achará o bem; e o que tem a língua dobre vem a cair no mal.” Provérbios 17.20

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[1] Geerhardus Vos, Johannes. Catecismo Maior de Westminster comentado: Editora Os Puritanos, pg 453

[2] Geerhardus Vos, Johannes. Catecismo Maior de Westminster comentado: Editora Os Puritanos, pg 455

Continua…

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.