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O 9º mandamento é pouquíssimo abordado e explicado. Muitos crentes acham que “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Pergunta 143, CMW), se refere exclusivamente a mentir quando chamado a juízo, ou a levantar calúnias sobre alguém. É isso também, mas o mandamento e suas implicações vão muito além disso. As perguntas seguintes do Catecismo Maior explicam com grande propriedade o que se exige neste mandamento:

Pergunta 144. Quais são os deveres exigidos no nono mandamento?

Resposta. Os deveres exigidos no nono mandamento são preservar e promover a verdade entre os homens; preservar e promover a boa reputação do nosso próximo, bem como a nossa própria; evidenciar e defender a verdade; falar a verdade, e somente a verdade, decoração, sincera, livre, clara e plenamente, em questões de juízo e justiça e em todos os demais casos, sejam quais forem; estimar caridosamente nossos semelhantes; amar,desejar e regozijar-se na sua boa reputação; entristecer-se por suas fraquezas e encobri-las;reconhecer desinteressadamente seus dons e graças, defendendo a sua inocência;acolher prontamente as informações bendizentes a seu respeito e resistir às maldizentes;desencorajar boateiros, aduladores e difamadores; prezar pela e cuidar da nossa própria reputação e defendê-la, quando necessário; cumprir as promessas lícitas; buscar e praticar tudo o que for verdadeiro, honesto, amável e de boa fama.

Em contrapartida aos deveres exigidos no mandamento, temos também a descrição dos pecados que são proibidos:

Pergunta 145. Quais são os pecados proibidos no nono mandamento?

Os pecados proibidos no nono mandamento são: tudo quando prejudica a verdade e a boa reputação de nosso próximo, bem assim a nossa, especialmente em julgamento público, o testemunho falso, subornar testemunhas falsas; aparecer e pleitear cientemente a favor de uma causa má; resistir e calcar à força a verdade, dar sentença injusta, chamar o mau, bom e o bom, mau; recompensar os maus segundo a obra dos justos e os justos segundo a obra dos maus; falsificar firmas, suprir a verdade e silenciar indevidamente em uma causa justa; manter-nos tranqüilos quando a iniqüidade reclama a repreensão de nossa parte, ou denunciar outrem, falar a verdade inoportunamente, ou com malícia, para um fim errôneo; pervertê-la em sentido falso, ou proferi-la duvidosa e equivocadamente, para prejuízo da verdade ou da justiça; falar inverdades; mentir, caluniar, maldizer, depreciar, tagarelar, cochichar, escarnecer, vilipendiar, censurar temerária e asperamente ou com parcialidade, interpretar de maneira má as intenções, palavras e atos de outrem, adular e vangloriar, elogiar ou depreciar demasiadamente a nós mesmos ou a outros, em pensamentos ou palavras; negar os dons e as graças de Deus; agravar as faltas menores; encobrir, desculpar e atenuar os pecados quando chamados a uma confissão franca; descobrir desnecessariamente as fraquezas de outrem e levantar boatos falsos; receber e acreditar em rumoresmaus e tapar os ouvidos a uma defesa justa; suspeitar mau; invejar ou sentir tristeza pelo crédito merecido de alguém; esforçar-se ou desejar o prejuízo de alguém; regozijar-se na desgraça ou na infâmia de alguém; a inveja ou tristeza pelo crédito merecido de outros; prejudicar; o desprezo escarnecedor; a admiração excessiva de outrem; a quebra de promessas legítimas; a negligência daquelas coisas que são de boa fama; praticar ou não evitar aquelas coisas que trazem má fama, ou não impedir, em outras pessoas, tais coisas, até onde pudermos.

Gostaria, a partir de agora, de tratar de algumas questões levantadas no Catecismo

Preservar e promover a reputação do nosso próximo

Quando a questão é preservar e promover a nossa própria reputação, somos experts. Não gostamos de ver nosso nome envolvido em fofocas, nos magoamos quando têm conceitos errados sobre nossas atitudes e pessoas. Esta é uma atitude correta, pois como vimos, devemos também cuidar do nosso bom nome, mas creio que este dever é mais fácil de ser cumprido. Quando se trata de preservar o bom nome de outras pessoas, é então que os problemas começam.

A primeira coisa que deveríamos ter em mente é que o bom nome e a reputação de uma pessoa são bens valiosos. Quando abrimos os lábios para, maliciosamente, denegrir a sua imagem, estamos golpeando-lhe e roubando-lhe este bem. Salomão sabia disso e escreveu:

“Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro.” Provérbios 22.1

Leva-se muito tempo para construir uma boa reputação e um bom nome, e apenas algumas estultas palavras para destruí-los. Negue-se a fazer isso! Todas as vezes que vier em seu coração o desejo de criticar a vida e as atitudes de um irmão, prefira exaltar suas qualidades, pois ele certamente as tem! Quando estiver numa roda de amigos e o “prato principal” estiver sendo devorado, seja aquela voz que destoa e que prefere promover a boa reputação da pessoa que é o alvo dos comentários ao invés de denegri-la!

Você conhece pessoas que ao invés de se alegrar com o progresso e as vitórias de alguém, sempre tem algo negativo a dizer sobre ela? Simplesmente não conseguem se alegrar por ver o bom nome de um irmão ser promovido, mas invejosamente, arrumam um jeito de denegrir a imagem alheia: “É verdade, fulano tem sido um bom crente, mas a vida pregressa dele também, né? Você não faz ideia de tudo que ele já aprontou…”. Afaste-se de pessoas assim, se não quer ser contaminada por este vírus. Elas não conseguem elogiar alegremente seus irmãos, não ficam felizes por verem seus bons nomes e virtudes sendo proclamadas. Quanto a isso, o salmista nos adverte:

“Refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente” Salmos 34.13

Entristecer-se por suas fraquezas

Talvez esta seja uma das nossas grandes dificuldades nesta área: nos entristecermos com nosso irmão e encobrir seu pecado. Nem nos apercebemos do quanto expor o pecado do irmão é feio, de como nos torna mesquinhas! Ao vermos nossos irmãos caírem em pecado somos, por vezes, tão soberbas, tão arrogantes que nem parece que fomos alcançadas por uma maravilhosa graça perdoadora. Parece que nunca pecamos ou que nunca precisamos correr envergonhadas para a cruz de Cristo em busca de arrependimento e de perdão. Muitas vezes temos um desejo secreto e sombrio de ouvir uma história bem feia, e, mesmo sem percebermos, nos alegramos por ver nosso irmão na lama do pecado. Talvez esta sensação venha do desejo de nos sentirmos limpas. “Quanto pior ele for, melhor eu sou. Ele faz isso, eu não. Olha como sou boa crente, como ele pôde fazer isso?”

Por vezes este pecado pode se manifestar quando vemos o resultado desastroso na vida de uma irmã, que por exemplo, estávamos aconselhando. Mostramos o que a bíblia diz, damos algumas opções sobre a forma de o problema ser resolvido, mas a irmã insiste em fazer o que lhe deu na telha. Quando vem a notícia de que a conseqüência do pecado se abateu sobre ela, muitas vezes temos, lá no fundinho, aquela sensação: “eu não disse? Eu estava certa! Eu avisei!”. Talvez nossas palavras não demonstrem, mas a intenção do coração vem à tona: Comentamos o acontecido com as pessoas, fazemos questão de exaltar o quanto fomos sábias e a irmã imprudente. Quão boas conselheiras somos e quão péssima ouvinte ela foi. Muitas vezes quase dá pra ver um sorrisinho de canto de boca. E isso demonstra como nos alegramos pela fraqueza de nossos irmãos. Quando agimos assim, fazemos exatamente o que Salomão descreve aqui:

“As palavras do maldizente são comida fina, que desce para o mais interior do ventre.” Provérbios 26.22

Comentando a pergunta 146 do Catecismo Maior, Johannes Geerhardus Vos, descreve como é que os crentes em Cristo cometem o pecado de se alegrarem com o pecado alheio:

“Muitos dos crentes que certamente ficariam envergonhados de se regozijar abertamente pela iniquidade praticada por outros, não obstante cometeriam esse pecado de outras maneiras. Uma maledicenciazinha sobre os pecados dos outros, mais a alegação de estarem muito escandalizados pelo mal feito, tendo, contudo, a grande e óbvia satisfação de comentá-los. Outros que se envergonhariam de fazer isso abertamente terão em seus corações o secreto contentamento de se regozijarem na ignomínia e na desonra dosoutros.” (Catecismo Maior de Westminster comentado,JohannesGeerhardus Vos. Editora Os Puritanos, pg 458)

Continua…

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.