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Qual seria e extensão do estrago na sua vida e na vida dos que te rodeiam, se num dia desses, sem aviso, todas as suas conversas particulares e as coisas que você fala de outras pessoas, fossem expostas em alto e bom som, para quem quisesse ouvir? Esta idéia te parece assustadora? Será que tudo que falamos em oculto, é lícito o suficiente para ser declarado, se necessário, em praça pública? Será que temos atentado para o que a Bíblia insistentemente nos alerta com relação ao nosso falar? Se existe uma área da vida das mulheres que deve ser constantemente vigiada, é o modo como ela utiliza sua língua.

Muito embora não se dê atenção a este tipo de pecado, ele é largamente tratado na Bíblia, com admoestações severas e castigos assustadores para aqueles que não retrocedem. Numa rápida pesquisa em qualquer chave bíblica, podemos ver a abundância de textos sagrados que nos advertem quanto ao uso santo e piedoso do nosso falar. Não obstante, muito pouco se lê ou se ouve nos púlpitos sobre o assunto. Quantas vezes, por exemplo, você se lembra de ter presenciado em sua igreja, algum membro ser disciplinado por não se corrigir, e permanecer na prática de pecados relacionados à língua? Quantos fofoqueiros e mexeriqueiros impenitentes você conhece que nunca foram chamados ao arrependimento, nunca foram convidados a abandonar sua prática pecaminosa e sequer são tratados como faltosos? Seria o pecado contra o 9º mandamento menos importante e menos ofensivo ao Senhor do que a quebra do 6º, por exemplo? Sabemos, conforme explicações da pergunta 151 do Catecismo Maior de Westminster, que existem agravantes e atenuantes para classificar os tipos de pecado. Mas isso não quer dizer que um pecado é mais sério do que o outro. Todo pecado é uma violação da Lei de Deus, e como tal, merecem o inferno e custaram o sacrifício expiatório de Cristo para seu povo. O texto de Provérbios deixa esta idéia bem clara:

“Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos.” Provérbios 6.16-19

Sim, você leu direitinho! Pecados normalmente atribuídos a pessoas terríveis (derramar sangue inocente e tramar projetos iníquos), na mesma sentença que ter língua mentirosa e semear contendas. Talvez a partir deste entendimento, devêssemos nos deter mais acuradamente a estudar este mandamento. Será que tenho pecado contra o Senhor nesta área da minha vida durante anos, sem nunca ter me dado conta? Tenho minimizado a seriedade do uso das minhas palavras? Justamente por isso este artigo está sendo escrito! Para juntas, analisarmos quando e como temos quebrado a lei de Deus e mudarmos, se este for o nosso caso! Podemos estar enganadas, achando que temos progredido na carreira cristã, mas temos nos aperfeiçoado em pecados que ignoramos. O romancista americano Washington Irvin descreveu o mau uso da língua da seguinte forma: “Uma língua afiada é o único instrumento de corte que, quanto mais usado, mais afiado fica.” Temos progredido e aperfeiçoado o pecado da língua?

De minha parte, confesso que, apenas há poucos anos, me dei conta do quanto ignorava esta prescrição da lei de Deus. Tenho lutado contra minhas próprias artimanhas de achar que sou cheia de justiça, a ponto de falar de meus irmãos, como se eu estivesse muito acima deles… com muita vergonha, sou obrigada a confessar que durante muito tempo da minha caminhada cristã, não me policiei suficientemente e não coloquei como prioridade de vida uma língua que apenas construísse e edificasse, e nunca destruísse. Só há pouquíssimo tempo tenho orado como o salmista:

“Põe guarda, Senhor à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.” Salmos 141.3

Sei bem que esta é uma luta que teremos durante toda a nossa vida, mas quanto mais atentas estivermos, mais fácil será para nós, detectarmos nosso pecado e lutar contra ele.

A língua mostra como está o coração

Nossas palavras refletem o que está no nosso coração, nossas verdadeiras intenções. E qual o meio usado para externar todo tipo de imundície e pecado que está dentro de nós? A língua! É através deste pequeno órgão que mostramos ao mundo quão contaminado está o nosso coração. É dele que vem todo tipo de mal, como disse Jesus:

“E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” Marcos 7.20-23

Tiago também nos admoesta quanto ao perigo da nossa língua. No capítulo 3, ele argumenta que há três coisas enormes, que são guiadas por pequenos elementos, fazendo uma metáfora clara do poder da língua.

“O leme é uma parte muito pequena da estrutura do navio, entretanto é essencial para seguir o curso que o piloto tem em mente. Note que não é o vento forte, mas o piloto, que determina a direção do navio. O contraste está na pequenez do leme e no tamanho do navio” disse Simon Kistemaker, em seu comentário do Novo testamento, editora Cultura cristã, página 151.

Os três exemplos usados por Tiago expressam a mesma realidade: o navio guiado pelo pequeníssimo leme, os freios nos cavalos e a insignificante fagulha na floresta, capaz de destruí-la. Estas metáforas são contundentes! Tiago compara a língua ao fogo no sentido de estar fora de controle e de ser extremamente destrutivo: é um mundo de perversidades que nenhum homem é capaz de domar; “é mal incontido, carregado de veneno mortífero.” “a imagem é de uma cobra venenosa, cuja língua nunca descansa e cujas presas estão cheias de veneno mortal… é um retrato horrendo que mostra a natureza do pecado.”

A argumentação de Tiago é assustadora! Como podemos ficar em paz, se usamos a língua para bendizer ao Senhor, e com a mesma língua maldizemos aqueles que são feitos à sua imagem? Alguma coisa muito errada está acontecendo quando agimos desta forma! O texto sagrado nos confronta:

“Com ela (a língua), bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce.” Tiago 3.9-12

O que Tiago quer dizer é que se a língua tem sido usada de forma pecaminosa, é porque tem algum problema na fonte que origina a palavra, o coração. É por este motivo temos que nos examinar seriamente. Devemos medir nossa religiosidade por parâmetros bíblicos, não por subjetividades inventadas por homens. E a Palavra de Deus é um medidor inexorável de nossa pretensa piedade:

“Se alguém SUPÕE ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã.” Tiago 1.26

“O homem de Belial, o homem vil, é o que anda com a perversidade na boca, acena com os olhos, arranha com os pés e faz sinais com os dedos. No seu coração há perversidade; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas…” Provérbios 6.12-14

É impressionante como muitas vezes não nos damos conta do quanto a nossa maneira de falar mostra ao mundo que tipo de pensamentos e sentimentos pecaminosos acalentamos no coração. É a boca que deixa extrapolar, jorrar para fora, pintar em tons muito fortes e visíveis o tipo de crente que somos. Podemos até tentar demonstrar uma piedade fingida, mas nossa boca trairá esta intenção.

“No coração do prudente, repousa a sabedoria, mas o que há no coração do insensato vem à lume.” Provérbios 14.33

“A língua dos sábios adorna o conhecimento, mas a boca dos insensatos derrama a estultícia.” Provérbios 15.2

Nossa língua fala e demonstra quem somos. Temos falado o que vem à mente, sem nenhum tipo de avaliação preliminar? Semeamos contendas e falamos de forma que destrói ao invés de construir? Não somos fortes o suficiente para domar este pequeno órgão? Tem jorrado águas amargas da fonte que pensamos ser boa? Então é hora de avaliar o coração, de colocar em cheque a nossa fé, de nos arrependermos e mudarmos os pensamentos e as intenções, para que esta mudança atinja o nosso falar.

Como a Bíblia descreve a língua do justo e a do ímpio?

Ao medirmos nossa estatura cristã pelo uso da língua, podemos ser achadas em falta. Se queremos nos avaliar, precisamos fazê-lo pelo padrão Eterno. Será que nos encaixamos na descrição que a Palavra de Deus dá dos justos, ou temos nos parecido mais com os ímpios, nesta área específica? Antes de lhe mostrar os textos, no entanto, gostaria de explicar que, no livro de Provérbios, quando se usa a palavra ímpio o seu significado extrapola o senso comum. Tendemos a achar que ímpio, injusto, perverso, estulto, insensato, são termos muito fortes e que descrevem os que estão fora do arraial do povo de Deus. Mas não é bem assim… Estes termos estão se referindo ao ímpio de uma maneira geral, mas também àqueles que se julgam crentes, mas andam como os ímpios. Lembre-se que o livro de Provérbios foi escrito visando os jovens de Israel, os crentes! Então as advertências contidas aqui, tocam a todas nós. O perverso não é aquele monstro horroroso que comete crimes hediondos. Jesus faz a mesma analogia em Mateus 7.23 quando diz: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” Praticar a iniqüidade significa não se adequar à lei de Deus, transgredi-la, violá-la, não se conformar à sua santa Palavra. Ímpio é o contrário de pio, santo, piedoso. Portanto, não leia todas estas admoestações e estes adjetivos tão pesados, como se isso estivesse muito distantes de nós. Quando não praticamos a justiça, agimos como o perverso, como o ímpio, como o estulto.

Dito isso, veja como Provérbios faz a diferenciação entre estas duas categorias:

“Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco. Os lábios do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos.” Provérbios 10.18-21

“A boca do justo produz sabedoria, mas a língua da perversidade será desarraigada. Os lábios do justo sabem o que agrada, mas a boca dos perversos, somente o mal.” Provérbios 10.31-32

“A boca do justo é manancial de vida, mas na boca dos perversos mora a violência.” Provérbios 10.11

“Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração do perverso vale mui pouco.” Provérbios 10.20

“Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR, mas os que agem fielmente são o seu prazer.” Provérbios 12.22

Agir fielmente, apascentar a outros e produzir sabedoria com o que fala, é característica dos justos. O contrário disso, é viver como os ímpios, que não conhecem a Deus, vivem. Se não nos enquadramos numa categoria, necessariamente estamos na outra! O uso da língua faz uma espécie de separação muito clara entre o que é povo e o que não é povo. Por isso, ela é o sinal de alerta, a trombeta tocando, a fumaça que denuncia o fogo!

Nos próximos textos, usaremos o Catecismo Maior de Westminster para entendermos o nono mandamento e suas abrangentes exigências.

Continua…

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.