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Não é necessário dizer que esse artigo direcionado para a cosmovisão da sexualidade bíblica é apenas uma pequena contribuição para a cacofonia de vozes em nossa arena pública. Com tantas vozes falando sobre o assunto hoje, a pessoa mal sabe em quê acreditar. Nós temos o movimento #MeToo (#EuTambém), as audiências a respeito do Juiz Kavanaugh, casamento e atração entre pessoas do mesmo sexo, identidade de gênero e mais. Como nós, como cristãos, encontramos nosso caminho em meio a essas vozes? O desafio nos volta à autoridade da Escritura. Em Gênesis, lemos que Deus nos criou à Sua imagem, macho e fêmea, com destaque à natureza positiva da sexualidade em si. De certa forma, o debate em nossa cultura é decisivo. A pergunta é: “Iremos, como portadores da imagem de Deus, aceitar ou rejeitar a nós mesmos como seres criados que prestarão contas a Deus?”.

É praticamente impossível listar as várias visões que as pessoas têm quanto à sexualidade, mas, quando você as condensa a fatores comuns mais básicos, há apenas duas: aqueles que guardam a Palavra de Deus e aqueles que não. Esses dois pontos de vista são diretamente opostos um ao outro: um defende a moralidade baseada apenas na Palavra de Deus; o outro, que não há moralidade ou que a moralidade é determinada pelo consenso das pessoas. Parte do desafio que  enfrentamos é tentar encontrar nosso caminho — ao sermos influenciados tão fortemente pela nossa cultura — ao defendermos firmemente a convicção pessoal advinda da Bíblia. Frequentemente nós somos sutilmente impactados por nossa cultura e começamos a mesclar visões distorcidas do mundo com a Palavra de Deus. Isso pode acontecer porque os problemas com os quais temos que lidar parecem inconciliáveis ou não são diretamente discutidos pela Bíblia e começamos a ouvir a voz da razão humana acima das Escrituras.

As Escrituras claramente ensinam que nós fomos criados à imagem de Deus e que tudo o que fazemos deve revelar a glória dele em nossas vidas. Isso inclui nossa sexualidade. Contudo, uma dessas crenças distorcidas que até mesmo alguns cristãos defendem é que não se deve falar abertamente sobre sexualidade, uma vez que consideram a sexualidade impura. Isso, porém, é contrário ao ensinamento de Deus. Antes, nossa visão e prática acerca da sexualidade é um bom indicador sobre se entendemos ou não a Deus e o evangelho. Você já se perguntou por que Deus afirma odiar tanto o pecado sexual? Não é porque esse pecado é primariamente uma violação de um dos mandamentos, mas ele é um ataque ao próprio caráter de Deus como o Deus triúno. Imagine por um momento que o Deus vivo e verdadeiro se unisse a outro deus qualquer. Só o fato de considerar isso, beira â blasfêmia. É isso que devemos perceber quando falamos sobre nossa sexualidade. Deus nos criou à Sua imagem e para refleti-lo; esse reflexo dEle inclui nossa sexualidade.

Assim como Deus em seu ser triúno tem beleza e intimidade entre as três pessoas, o casamento também deve refletir essa intimidade. Uma expressão dessa intimidade é o próprio ato sexual no vínculo do casamento, que nos envolve não só fisicamente mas também em todas as partes de nossa existência. Isso, claro, não significa que Deus se envolva com a sexualidade,  de forma alguma. Pelo contrário, essa parte de nossa existência criada é uma simples figura da alegria, intimidade, deleite e união que é encontrada no cerne da Trindade e também no coração de nossa união com Cristo, se formos cristãos.

O casamento, portanto, não é sobre sexo, mas, sobre união pactual. Ela inclui todas as dimensões do relacionamento como o amor e a comunicação, que vão muito além da parte física, e todas essas coisas se unem quando o ato físico de fato acontece. O casamento é a expressão da unidade dos dois em aliança. Nossa cultura sexualizou tudo, ao ponto de o sexo não ser mais sagrado, mas animalesco e carnal. A sexualidade bíblica não é primariamente sobre prazer carnal, mas, sobre a união no relacionamento pactual.

Há também a glória do evangelho relacionada à nossa sexualidade. Nós fomos criados com um desejo pelo que é genuíno. As pessoas anseiam por isso internamente, mas nem percebem o que estão buscando. Elas a buscam nos atos sexuais, mas sempre se frustrarão. É apenas a nova vida encontrada em Cristo que pode responder a esse anelo em nossos corações, o qual se realizará por fim na glória. Enquanto as pessoas continuarem rejeitando o que Deus diz como verdade e se recusarem a aceitar o que a Palavra de Deus diz que elas são, elas nunca viverão a alegria dessa glória.

Aqueles que encontraram a sua vida em Cristo através do evangelho estão verdadeiramente vivos e, quebrantados, buscam viver uma vida em Cristo em completa dependência dEle e para Sua glória. Eles se arrependem de suas próprias inclinações e desejos, até mesmo das predisposição com as quais possam ter nascido e escolhem, pela graça, viver para Ele. Paulo destaca isso em sua carta aos corintos: “Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Co 6: 15-10).

Que glorioso! Em Cristo, nós fomos unidos ao próprio Deus, somos um em espírito. De forma muito prática, isso significa que quando desfrutamos de um casamento bíblico no leito matrimonial, nós estamos testemunhando a unidade e a glória dessa união. Deus se regozija em nós nesse momento em que duas pessoas, nas expressões mais profundas de amor e união, se unem em um espírito. Não se torna imediatamente claro o quanto qualquer outro relacionamento sexual é vazio e auto-satisfatório? Não há glória, mas degradação. Não vivamos mais assim, mas, em tudo o que façamos, vivamos para a glória dAquele que nos deu o corpo e a alma. Essa é a maravilha do evangelho,  mesmo aqueles que cederam a pecados sexuais podem ser redimidos pelo sangue do Cordeiro. Assim foram alguns de vocês, mas agora foram comprados por um preço.

Continua…

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kelderman

*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Novembro/Dezembro de 2018, pg. 240) , traduzido com permissão do editor.

**Rev. Mark Kelderman atua como deão dos alunos e formação espiritual no Puritan Reformed Theological Seminary.

***Tradução: Juliana Fontoura / Revisão: Sara Mendonça