weddingEsta é a área da nossa vida que é mais vigorosamente e destrutivamente afetada pelo jugo desigual. No casamento em jugo desigual a nossa integridade pessoal e da Igreja de Cristo correm mais riscos do que em qualquer outro tipo de relacionamento. Sim, você entendeu bem! Sua vida espiritual e o crescimento do Reino de Deus são extremamente afetados por casamentos em jugo desigual.

A figura usada por Paulo
O que significa a expressão jugo desigual? O que é jugo? Entender a figura usada por Paulo, nos fará começar a vislumbrar a seriedade desta ordem. Jugo é uma peça feita de madeira que é utilizada para unir dois animais, para que andem no mesmo compasso enquanto puxam um arado ou uma carroça. É também chamada de canga ou junta de bois. Calvino nos explica a metáfora:
“A palavra empregada por Paulo significa “estar ligado simultaneamente, lado a lado, na mesma canga”, e a metáfora é tomada de bois ou cavalos que têm de andar juntos na mesma paz e compartilhar da mesma obra, porque estão firmemente presos à mesma canga.” (Comentários de João Calvino em 2 Coríntios)
Quando dois animais são presos no mesmo jugo, eles precisam andar em acordo, na mesma direção, para que o trabalho que lhes foi imposto prospere. Se a canga estiver pendendo mais para um lado do que para outro, eles não conseguirão puxar juntos a carroça ou o arado. Se um animal for maior que o outro ou forem animais de espécies diferentes, a canga penderá, deixando o trabalho mais árduo e penoso para um dos dois. Esta situação simplesmente impossibilita o progresso, e o objetivo de se ter colocado dois animais para fazer o tal serviço: o bom andamento, a rapidez e o cumprimento das metas estabelecidas. Somente com um jugo estável é possível terminar a obra proposta.

A ordem para não se misturar com povos pagãos
Se existisse apenas o texto de 2 Coríntios 6.14-18 nos dizendo que se colocar em jugo desigual com ímpios é abominável, já deveríamos nos dar por satisfeitas. É Palavra de Deus e, como tal, deve ser obedecida. Mas se você for uma leitora mais atenta, perceberá que este é um assunto que, de forma direta ou indireta, permeia toda a Escritura! Começaremos agora um passeio por ela a fim de entender os motivos pelos quais Deus se opõem tão veementemente à união de seu povo com os ímpios. Somente assim, poderemos vislumbrar a seriedade desta ordem e nos guardar de tamanho pecado!

Gênesis 6: 1 a 7– Neste texto imediatamente anterior ao dilúvio, vemos que a maldade aumentada no mundo foi motivada pela união matrimonial dos filhos de Deus com as filhas dos homens. Os descendentes de Sete se envolveram com mulheres cananitas e o resultado foi avassalador. O pecado cresceu a tal ponto, que Deus destruiu todo ser vivente, exceto a família de Noé e os animais abrigados na arca. Este relato é assustador:
“Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração.” Gênesis 6.4 e 5.
E qual foi o motivo? A união dos filhos de Deus com as filhas dos homens – o jugo desigual.

Gênesis 26. 34 e 35– “Tendo Esaú quarenta anos de idade, tomou por esposa a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu. Ambas se tornaram amargura de espírito para Isaque e para Rebeca.”
Esaú também desprezou a ordenança de se casar dentro do povo do pacto, buscou entre os heteus esposas para si. O comentarista da Bíblia de Genebra expõem o acontecido da seguinte forma:
“A história da bênção roubada é estruturada por referências ao casamento de Esaú com mulheres heteias e o desprazer de seus pais por isto. O profano Esaú mostrou seu desrespeito pelas bênçãos da aliança ao se casar com as filhas da terra. Casando-se com cananéias e, consequentemente, aborrecendo seus pais, ele efetivamente se desligou da aliança sagrada.”
A gravidade desta mistura do povo de Deus com os povos pagãos é mostrada nos dizeres de Rebeca mais à frente, quando ela teme que aconteça com Jacó a mesma coisa que aconteceu com seu irmão Esaú:
“Disse Rebeca a Isaque: Aborrecida estou da minha vida, por causa das filhas de Hete (esposas de Esaú); se Jacó tomar esposa dentre as filhas de Hete, tais como estas, as filhas desta terra, de que me servirá a vida?” Gênesis 27.46.
A sequência do texto, mostra Isaque instruindo Jacó a que vá para a terra de sua mãe, e dentre o seu próprio povo, tome esposa para si: Isaque chamou a Jacó e, dando-lhe a sua bênção, lhe ordenou, dizendo:“Não tomarás esposa dentre as filhas de Canaã. Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma lá por esposa uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe. Deus Todo-Poderoso te abençoe, e te faça fecundo, e te multiplique para que venhas a ser uma multidão de povos; e te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua descendência contigo, para que possuas a terra de tuas peregrinações, concedida por Deus a Abraão.” Gênesis 28.1 a 5

Êxodo 34.10 a 16– Este texto é tão impressionante que precisaremos lê-lo na íntegra. Somente ele já seria suficiente para nos alertar da desgraça que é desobedecer a aliança de Deus com seu povo:
“Então, disse: Eis que faço uma aliança; diante de todo o teu povo farei maravilhas que nunca se fizeram em toda a terra, nem entre nação alguma, de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do SENHOR; porque coisa terrível é o que faço contigo. Guarda o que eu te ordeno hoje: eis que lançarei fora da sua presença os amorreus, os cananeus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Abstém-te de fazer aliança com os moradores da terra para onde vais, para que te não sejam por cilada. Mas derribareis os seus altares, quebrareis as suas colunas e cortareis os seus postes-ídolos (porque não adorarás outro deus; pois o nome do SENHOR é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele); para que não faças aliança com os moradores da terra; não suceda que, em se prostituindo eles com os deuses e lhes sacrificando, alguém te convide, e comas dos seus sacrifícios e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se com seus deuses, façam que também os teus filhos se PROSTITUAM com seus deuses.
Essa união perverteria o coração dos crentes e de seus filhos; Os que se misturassem com outros povos seriam considerados infiéis com relação à aliança que Deus fez com eles. A base desta aliança está na fidelidade à ordem dada para que eles não se misturassem com os povos da terra para onde estavam indo. Eles não deveriam fazer nenhum tipo de aliança com eles e o objetivo era simples: para que não te sejam por cilada! Para que não te faças desviar! Para que não te seduzam a adorar seus deuses, a comer de seus sacrifícios e não te convençam a dar seus filhos à suas filhas. O texto chama esta mistura de PROSTITUIÇÃO! Misturar o povo separado de Deus com povos pagãos levaria à prostituição, à impureza, à mistura com os deuses daqueles povos. Consequentemente, a próxima geração também se prostituiria com os deuses que conheceram nesta união de pais pertencentes a povos e a deuses diferentes. A próxima geração estaria afastada de Deus!

Deuteronômio 7.1 a 4– Neste texto vemos o segundo grande discurso de Moisés, já no fim de sua vida, reapresentando a lei de Deus ao povo, pouco antes de, finalmente, conquistarem Canaã sob a liderança de Josué. Moisés tencionava fazer como um pai, que se despede de um filho, e sente a necessidade de lhe instruir uma última vez. Dentre tantas exortações sobre o culto, festas anuais e condutas nas mais diversas áreas, encontra-se uma solene a admoestação:
“Quando o SENHOR, teu Deus, te introduzir na terra a qual passas a possuir, e tiver lançado muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu; e o SENHOR, teu Deus, as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas; nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria.”
Moisés os adverte para que, após o Senhor ter lançado fora aqueles povos, eles não cometessem o erro de trazê-los de volta para o seio de seu convívio! Fazer aliança com os pagãos, com os inimigos de Deus, representaria a ruína do povo. A PROMESSA que Deus faz neste texto é que depressa os destruiria se ousassem desobedecer a esta ordem tão explícita!

Josué 23.12 e 13- “Portanto, empenhai-vos em guardar a vossa alma, para amardes o SENHOR, vosso Deus. Porque, se dele vos desviardes e vos apegardes ao restante destas nações ainda em vosso meio, e com elas vos aparentardes, e com elas vos misturardes, e elas convosco, sabei, certamente, que o SENHOR, vosso Deus, não expulsará mais estas nações de vossa presença, mas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas, e espinhos aos vossos olhos, até que pereçais nesta boa terra que vos deu o SENHOR, vosso Deus.”
Mais uma terrível promessa aos que deixam de amar ao Senhor, se desviando dele ao se apegarem a outras nações, a povos estranhos. Ele prometeu que não mais apartará o povo pagão do meio do seu povo. Eles serão fisgados e apanhados em seus laços!

1 Reis 11.1 a 8– “Ora, além da filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, mulheres das nações de que havia o SENHOR dito aos filhos de Israel: Não caseis com elas, nem casem elas convosco, pois vos perverteriam o coração, para seguirdes os seus deuses.”
Mesmo o homem mais sábio que já existiu, se achando forte o suficiente e confiando em si mesmo, desobedeceu à clara ordem do Senhor e se envolveu com mulheres pagãs. E qual foi o resultado? “Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus, como fora o de Davi, seu pai.” Lendo este triste relato, não posso deixar de me lembrar daquela citação de Calvino que fiz no primeiro texto: “Viver bem é negligenciar a companhia dos ímpios.” Aconteceu com Salomão exatamente o que o salmista adverte no Salmos 1. Salomão andou no conselho, se deteve no caminho e finalmente se assentou à roda dos escarnecedores! Ele comprometeu e colocou a perder todos os anos de bom reinado e sabedoria que Deus lhe havia dado… foi fiel até aquele ponto, mas quando cedeu ao casamento (a mais profunda associação que se pode ter com alguém) com mulheres ímpias, desviou-se e fez o que era mau perante o Senhor…

Esdras 9 e 10- Este chocante e triste relato nos mostra a extensão e a gravidade do mal provocado ao povo que se manteve rebelde ao Senhor. Aqui está Esdras, se derramando diante do Senhor, clamando por seu perdão, reconhecendo que o povo de Deus foi levado cativo à Babilônia porque desobedeceu à ordem do Senhor. E qual ordem foi esta? Casamento em jugo desigual!! Por favor, acompanhe comigo esta extraordinária lição que mostra a tragédia que é se colocar rebelde contra esta ordem:
“Acabadas, pois, estas coisas, vieram ter comigo os príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas não se separaram dos povos de outras terras com as suas abominações, isto é, dos cananeus, dos heteus, dos ferezeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus, pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e, assim, se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras, e até os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão. Ouvindo eu tal coisa, rasguei as minhas vestes e o meu manto, e arranquei os cabelos da cabeça e da barba, e me assentei atônito. Então, se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de Israel, por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu permaneci assentado atônito até ao sacrifício da tarde. Na hora do sacrifício da tarde, levantei-me da minha humilhação, com as vestes e o manto já rasgados, me pus de joelhos, estendi as mãos para o SENHOR, meu Deus, e disse: Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a face, meu Deus, porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa cresceu até aos céus… (versos 1 a 6). Agora, ó nosso Deus, que diremos depois disto? Pois deixamos os teus mandamentos, que ordenaste por intermédio dos teus servos, os profetas, dizendo: A terra em que entrais para a possuir é terra imunda pela imundícia dos seus povos, pelas abominações com que, na sua corrupção, a encheram de uma extremidade à outra. Por isso, não dareis as vossas filhas a seus filhos, e suas filhas não tomareis para os vossos filhos, e jamais procurareis a paz e o bem desses povos; para que sejais fortes, e comais o melhor da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos, para sempre. Depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más obras e da nossa grande culpa, e vendo ainda que tu, ó nosso Deus, nos tens castigado menos do que merecem as nossas iniqüidades e ainda nos deste este restante que escapou, tornaremos a violar os teus mandamentos e a aparentar-nos com os povos destas abominações? Não te indignarias tu, assim, contra nós, até de todo nos consumires, até não haver restante nem alguém que escapasse? Ah! SENHOR, Deus de Israel, justo és, pois somos os restantes que escaparam, como hoje se vê. Eis que estamos diante de ti na nossa culpa, porque ninguém há que possa estar na tua presença por causa disto.”
Que pecado tão sério! Que transgressão a do povo de Deus naquele tempo e também hoje! E sequer nos arrependemos deste pecado! Sequer ouvimos pregações que nos advirtam que, como disse o texto, violamos os mandamentos do Senhor, ao nos juntarmos com quem não ama e teme ao Senhor! Pois este pecado custou ao povo 70 anos de exílio babilônico!
Mais à frente, Neemias novamente adverte ao povo que havia saído da Babilônia a não mais caírem nesta transgressão:
“Vi também, naqueles dias, que judeus haviam casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas. Seus filhos falavam meio asdodita e não sabiam falar judaico, mas a língua de seu respectivo povo. Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos nem para vós mesmos. Não pecou nisto Salomão, rei de Israel? Todavia, entre muitas nações não havia rei semelhante a ele, e ele era amado do seu Deus, e Deus o constituiu rei sobre todo o Israel. Não obstante isso, as mulheres estrangeiras o fizeram cair no pecado.”

Neemias 13. 21 a 26
Pela violência com que o pecado do povo foi tratado, dá para ter uma idéia de sua gravidade, não? A diferença dos tempos do antigo testamento para o período neotestamentário e para os dias de hoje é uma só: naquele tempo o povo da aliança era representado por uma nação que era a mão de Deus julgando o mundo. Por isso nestes relatos lemos que os filhos da aliança que se cassassem com povos de outras nações eram arrastados pelo cabelo para fora da cidade e apedrejados. Isso não acontece mais hoje, mas o princípio é mantido. A nação veterotestamentária representa o povo de Deus, a igreja!

O jugo desigual e suas consequências desastrosas para o casamento
A impossibilidade em cumprir o papel de esposo:
A primeira coisa que devemos nos lembrar quando falamos em casamento é que o casamento de um homem com uma mulher é o espelho para o mundo da união mística entre Cristo e a sua noiva, a igreja. Se este é o padrão, podemos concluir que o esposo deve ser para a esposa, OBRIGATORIAMENTE, o que Cristo é para a sua igreja. Como, porém, um homem poderá ser para sua mulher o que Cristo é para a Igreja se ele não serve a Cristo? Vê-se, então, uma total inadequação no cumprimento mais básico da função de um homem como marido, que é levá-la a Cristo:
“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a santificado por meio da lavagem de água, pela da palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.” Efésios 5.25-27.
Todo marido que teme ao Senhor terá como meta primeira de sua vida tornar sua esposa sem mácula, nem ruga e aperfeiçoá-la para o Dia de Cristo. Todo marido que teme ao Senhor cuidará da vida espiritual de sua esposa como de sua própria, se interessará por suas lutas e a auxiliará a descobrir e a abandonar pecados. Todo homem que teme ao Senhor se responsabilizará por ser o sacerdote de sua casa, conduzindo-os à piedade. Todo marido que teme ao Senhor será capaz de mudar quando for confrontado com seus próprios pecados. Ele reconhecerá onde errou, pedirá perdão e mudará sua atitude egoísta. Todo marido que teme ao Senhor zelará para que a lei de Deus seja observada em sua casa e protegerá sua esposa de situações que possam se constituir um risco à sua saúde espiritual.
Como a nossa confissão de fé diz, “o matrimônio foi ordenado para auxílio mútuo entre esposo e esposa…” (CFW, capítulo XXIV, seção II).
Portanto, segundo a nossa Confissão de fé, uma mulher que se casa com um homem ímpio, quebra um dos grandes objetivos do casamento: auxiliar um ao outro na luta contra o mundo, o diabo e a carne, para que ambos possam atravessar este deserto cheio de perigos, armadilhas e serpentes abrasadoras, para chegarem sãos e salvos na terra prometida, na Canaã celestial, no nosso destino final. ESTE é propósito do auxílio mútuo! Dois crentes, unidos pelos laços mais íntimos que existem, se ajudando na luta contra o pecado, para a glória de Deus. O casamento em jugo desigual, portanto, torna esta jornada solitária e perigosa:
“…os crentes verdadeiros devem, em atenção a Cristo e as suas próprias almas, evitar contrair tais compromissos. Pois, como é possível que alguém que possui a mente e o espírito de Cristo, cujas afeições são como um fato prático posto nas coisas de cima, cujos motivos, propósitos e aspirações são celestiais, tornar-se uma só carne e coração, viver na mais íntima de todas as comunhões possíveis, com uma alma morta em delitos e pecados? Se tal união é formada, segue-se: ou que a sacra ordenança do matrimônio é profanada, por uma união de corpos onde não pode haver união de corações, ou na íntima comunhão de alma com alma o crente será grandemente aviltado em sua vida interior e espiritual, e grandemente prejudicado em suas tentativas de servir a seu Senhor neste mundo.” (CFW comentada por A. A. Hodge, Editora Os Puritanos)

A impossibilidade de manter um relacionamento puro:

Quando deliberadamente nos colocamos em jugo desigual todo o relacionamento é, em si mesmo, pecaminoso e é uma infâmia diante do Deus. A união é profana porque está debaixo de pecado. Todas as áreas do relacionamento são afetadas por este pecado, inclusive a sexual. Conforme lemos na parte grifada no tópico acima: as relações sexuais são impuras, a sacra ordenança do matrimônio é profanada, pois toma um corpo que é templo do Espírito Santo de Deus e o torna um só com o templo dos ídolos, de Satanás. Na união sexual, dentro do casamento, não há apenas a união dos corpos, mas de almas! No casamento misto, ou optamos por relações sexuais desprovidas de sua essência, que é a união de almas, ou unimos nossa alma a uma alma ímpia! Que terrível escolha! É exatamente por causa deste aspecto que Paulo consola aqueles gentios de Corinto, que haviam se casado e após o casamento, se converteram e o cônjuge não. Eles não foram desobedientes e rebeldes, mas estavam numa situação de jugo desigual porque se converteram após o casamento. Diferente de desobediência obstinada.

A dificuldade de me santificar:
Nos colocando deliberadamente em jugo desigual, devemos ter em mente que estamos abrindo mão de um dos mais poderosos auxílios que Deus preparou para a nossa santificação: o convívio íntimo e diário com um filho do Deus altíssimo, interessado em minha alma! Se estou em jugo desigual, devo esperar do meu marido exatamente o contrário: da mesma forma que à cada dia ele se envolve mais e se prende mais às concupiscências deste mundo, ele não só me influenciará, como também trabalhará (consciente ou inconscientemente) para o meu afastamento da Lei de Deus. Seremos invariavelmente contaminadas pelas músicas que eles ouvem, pelos programas de televisão que assistem, pelos amigos que frequentarão a nossa casa, pela ideologia mundana que rege suas vidas e decisões. Como suportarei vê-lo assistir um programa imoral na televisão de minha sala? Como suportarei ouvir as piadas de duplo sentido e os palavrões que saírem de sua boca e da boca de seus amigos? Com quem conversarei, tarde da noite, sobre os pecados que não tenho conseguido vencer, sobre o texto maravilhoso que li na Bíblia, sobre a pregação de domingo? Não imagino como deve ser a vida de quem não pode compartilhar o maior bem que possui com seu cônjuge…
Também precisarei me sujeitar às suas decisões, pois ele não é temente ao Senhor, mas continua sendo o líder do meu lar! Se o marido é o representante de Deus no lar, teremos que nos submeter a uma liderança que não ama nem teme ao Senhor, que não tem como prioridade o Reino dos céus, que caminha contrariamente à lei de Deus e que conduzirá seu pequeno rebanho para lugares onde Deus não habita.
E qual será o seu parâmetro para tomar decisões que envolvem a família? Ele procurará averiguar se sua decisão está de acordo com a vontade de Deus expressa nas Escrituras? Ele procurará agradar a si mesmo e a seus desejos ou agradar a Deus? Para onde ele conduzirá minha família? Para a cruz ou para o inferno?Todas estas coisas servirão de pedras de tropeço para nós. Aquele que deveria ser nosso auxílio, é agora o maior inimigo de nossas almas…
Em seu livro “Jornada para o inferno”, John Bunyan, nascido em 1628 e autor do clássico mundial “O Peregrino”, descreve a vida de um homem ímpio e todas as suas impiedades. A certa altura ele narra que este enganou e seduziu uma jovem cristã, casando-se com ela. Daí pra frente passa a narrar as dificuldades e as lutas enfrentadas por esta crente, que tinha que lidar todo o tempo com seu marido incrédulo. Citando o texto de Paulo aos Coríntios, Bunyan declara:
“Aí estão as proclamações que proíbem claramente o casamento de crentes com incrédulos; logo, eles não devem fazer isso. Estes tipos de casamentos indefensáveis são condenados até por criaturas irracionais, que só se acasalam com animais da mesma espécie. Porventura acasalam-se as ovelhas com cães, a perdiz com o corvo, a coruja com o faisão? Não, rigorosamente, eles só têm parceiros da mesma espécie. E o fato é que todo mundo se espanta quando vê ou ouve algo contrário. Somente o homem é a criatura que desculpa ou permite essas misturas ilícitas de homens e mulheres, porque somente o homem é pecador. Portanto, ele é que, com seus atos rebeldes, dispõe-se a contradizer, ou melhor, a opor-se à lei do seu Deus e Criador, violando-a. O homem pecador não quer levar em conta a seguinte pergunta, digna de consideração: Que real companheirismo, que concórdia, que acordo, que comunhão pode haver em tais casamentos?
Acresce que os perigos que os que se rebelam contra as leis de Deus correm deveriam constituir um argumento dissuasivo para que outros não fizessem a mesma coisa. Em acréscimo às misérias sofridas pela mulher do Sr. Mau, muitos que tiveram esperançosos começos com vistas ao céu, falharam medonha e miseravelmente na realização dos seus propósitos, em virtude da discórdia que se fez presente nesses casamentos ilícitos. Logo depois do início da vida de casados, nesse tipo de matrimônio, a convicção de pecado, o primeiro passo rumo ao céu, cessa; a oração, o segundo passo rumo ao céu, para; a fome e sede de salvação, outro passo para o reino dos céus, chega ao fim. Numa palavra, estes casamentos alienaram os cônjuges da Palavra, dos seus amigos piedosos e fiéis, levaram-no de volta à companhia carnal, entre amigos carnais, e a deleites carnais, entre os quais e com os quais permaneceram pecaminosamente e pereceram miseravelmente.”

A dificuldade de se submeter:
Do ponto anterior, segue-se naturalmente esta dúvida: se meu marido for um homem ímpio, que não teme ao Senhor, eu devo se submeter a ele? Mas ele quer que eu esteja na mesma roda de amigos dele, ele quer trazer aqueles homens impuros para jantar em casa com meus filhos, ele tem uma estátua de Aparecida e quer colocar na estante! Pois é… estas e milhares de outras situações me provarão todos os dias o quanto fui tola ao não dar ouvidos às Escrituras! Não obstante, o mandamento do Senhor para que eu seja uma esposa submissa continua de pé. Ele não é abolido pelo fato do esposo ser um ímpio. Dá para imaginar as dificuldades que serão enfrentadas e a dor que se arrastará por toda a vida?

A dificuldade de resolver conflitos:
Em seu livro: “Quando pecadores dizem sim”, Dave Harvey argumenta que casamentos passam por conflitos por um motivo muito simples: O casamento é a união de dois pecadores. Por isso eles precisam voltar seus olhos para a Palavra de Deus, para que cada um cuide do seu próprio pecado, se arrependa e passe a conduzir de forma diferente não apenas sua vida, mas também seu relacionamento. O argumento é simples, mas poderoso! Quando pecadores rendidos aos pés de Cristo deixam de apontar o dedo e de colocar a culpa no cônjuge e passam, cada um dos dois, a se transformar à luz da lei de Deus, há progresso não apenas em sua relação com Deus, mas também um com o outro! Eu deixo de olhar o egoísmo de meu marido, passando a notar e a cuidar do meu próprio egoísmo. Eu paro de me doer com sua resposta grosseira e passo a pedir ajuda para que minhas respostas sejam doces e transmitam graça. Eu esqueço as ofensas e as perdoo em Cristo. Eu faço estas coisas de um lado e ele faz as mesmas coisas de outro lado. Que relacionamento promissor e quantas bênçãos advêm dele! São dois pecadores redimidos lutando por santidade em suas vidas e relacionamentos! Como fica, então, a situação de um casamento em jugo desigual? Apenas uma das partes precisará fazer todo o trabalho! Não adiantará repreendê-lo quando ele mentir para você: ele não crê que o pai da mentira é o diabo! Não surtirá nenhum efeito pedir para que respeite sua ida ao culto: ele não ama o Dia do Senhor! Quando ele gritar com você, não adiantará dizer a ele que a Bíblia nos ensina a sermos mansos. Ele quererá apenas extravasar sua raiva, sem se preocupar se está ofendendo a Deus. E quando ele quiser pagar propina, burlar o imposto de renda e conseguir um atestado médico falso para o seu filho? Você terá que se contentar em discordar, e assistir passivamente os pecados se amontoarem sobre sua casa! Não poderá haver confronto com o pecado, arrependimento e busca de mudança: o deus dele não é o seu e ele pautará seu relacionamento em seu deus: o próprio ventre! Desta forma, a mulher crente precisará aguentar e sofrer calada, tendo que levar toda a carga do casamento sozinha. Ela terá que ser mais crente do que as crentes que são casadas com homens fiéis! E eu posso te afirmar de cadeira, pois tenho 25 anos de casada: não é fácil lidar com os conflitos diários que surgem dentro de um casamento! Somos dois pecadores aprendendo a agradar a Deus e a dizer não a nós mesmos! Mas como é gratificante o “revezamento” em descobrir o pecado que está causando a discórdia, e no dar um passo para trás, esperando que o outro reflita até chegar à conclusão de que estava errado e em pecado! Não sei o que seria de mim se meu marido não fosse o crente que é! Não me imagino tendo que ceder absolutamente TODAS as vezes, já que seria a única crente da história. Como é maravilhoso contar com seu piedoso auxílio quando não sou o que deveria ser ou não reajo como deveria reagir. Quando estou mais fraca ele está mais forte, quando ele não está bem eu o sustento com o auxílio da Palavra. Esta troca é indescritivelmente linda e só a possui quem tem um cônjuge que ama ao Senhor! Se casar em jugo desigual significa levar toda a carga de busca por santidade pessoal e no relacionamento sozinha!

O jugo desigual e suas consequências desastrosas para a descendência santa

Ainda citando John Bunyan:
“E aqui temos uma razão pela qual Deus proibiu estes casamentos desiguais: “Pois” (os ímpios), disse Deus, “fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria.” Deuteronômios 7.4
Agora note o leitor que havia em Israel alguns que, apesar dessa proibição, arriscaram-se a casar-se com pagãos e incrédulos. Mas o que aconteceu?
“ Não exterminaram os povos, como o SENHOR lhes ordenara. Antes, se mesclaram com as nações e lhes aprenderam as obras; deram culto a seus ídolos, os quais se lhes converteram em laço; pois imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios e derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e filhas, que sacrificaram aos ídolos de Canaã; e a terra foi contaminada com sangue. Assim se contaminaram com as suas obras e se prostituíram nos seus feitos. Acendeu-se, por isso, a ira do SENHOR contra o seu povo, e ele abominou a sua própria herança e os entregou ao poder das nações; sobre eles dominaram os que os odiavam.” Salmo 106. 34-41
Esta é outra grande tragédia que se abate sobre aqueles que se unem em jugo desigual! Seus filhos ficarão meio lá meio cá, no entanto a próxima geração, dificilmente saberá quem foi o Deus de seus avós! E esta não é uma previsão pessimista, é como a Palavra de Deus nos adverte! É o próprio Deus que alerta seu povo a não se misturar, pois a descendência santa seria poluída e assim, se desviaria de seus santos caminhos. A leitura que fizemos no Salmo 106 relata exatamente isso. Se você ler todo o Salmo, verá que ele narra a história do povo de Deus e como eles foram infiéis, e dentre as infidelidades contadas aqui, o cumprimento da promessa que Deus fez quando disse a eles que não se misturassem: os outros povos fariam desviar seus filhos de mim! Aí está o cumprimento do que o Senhor havia dito!
Por esta razão, o casamento em jugo desigual não é um assunto que toca apenas a vida do crente: ele toca a igreja de Cristo, o Reino de Deus. O Senhor mantém sua igreja, a semente santa, através da geração de filhos, da descendência. Quando misturamos a linhagem santa com a profana, estamos trabalhando contra nós mesmas, contra nossos filhos e pior: contra a igreja de Deus!
Outro relato impressionante sobre como a semente santa é corrompida por casamentos ilícitos se encontra em Neemias, quando ele narra que a mistura do povo de Deus com outros povos fez com que seus filhos não conhecessem mais sequer a língua judaica:
“Vi também, naqueles dias, que judeus haviam casado com mulheres asdoditas, amonitas e moabitas. Seus filhos falavam meio asdodita e não sabiam falar judaico, mas a língua de seu respectivo povo. Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos nem para vós mesmos. Não pecou nisto Salomão, rei de Israel? Todavia, entre muitas nações não havia rei semelhante a ele, e ele era amado do seu Deus, e Deus o constituiu rei sobre todo o Israel. Não obstante isso, as mulheres estrangeiras o fizeram cair no pecado. Dar-vos-íamos nós ouvidos, para fazermos todo este grande mal, prevaricando contra o nosso Deus, casando com mulheres estrangeiras?”
O triste relato de Neemias nos dá conta de que não apenas o povo foi infiel a seu Deus, prevaricando contra Ele (prevaricar: Não cumprir com as sua obrigações; saber o que tem que ser feito, mas por má fé ou interesses próprios não fazer; adulterar.), mas essa desobediência atingiu em cheio seus filhos! Quando o texto diz que eles falavam meio asdodita e que não sabiam falar judaico, ele está deixando claro que aquelas crianças estavam alijadas do conhecimento dos escritos proféticos, que eram escritos na língua hebraica. A língua é a identidade de um povo, e quando falamos de um povo que preserva suas leis dadas por Deus de forma escrita, a relação fica clara: não conhecer a língua significava não conhecer a lei de Deus. Os filhos daquela geração desobediente colheu o amargo fruto do pecado de seus pais: não conheciam o Deus de Israel!
Este é o fim da geração que é misturada com povos pagãos! Filhos de casamentos em jugo desigual estão sempre entre o céu e o inferno, entre fazer o que agrada a Deus e o que o aborrece, entre o exemplo santo de uma mãe piedosa e a impiedade de um pai que não ama ao Senhor. Mais uma vez ouviremos John Bunyan e o que ele conta sobre os filhos daquela mulher crente que se casou com o Sr. Mau. A conversa é entre dois homens, Atencioso e Prudente:
Atencioso: teve ele filhos de sua esposa?
Prudente: sim, sete.
Atencioso: Imagino como foram educados pessimamente.
Prudente: Um deles amava ternamente sua mãe e sempre obedeceu a seus ensinamentos. Ela teve a oportunidade de instruir este filho segundo os princípios da religião cristã, e ele se tornou um menino muito bondoso. Mas o Sr. Mau não podia tolerá-lo. Raramente dizia uma palavra agradável a esta criança, mas, ao contrário, cerrava o cenho e se mostrava carrancudo para o menino, falando rígida e grosseiramente com ele. Muito embora o rapaz fosse o mais frágil dos sete, muitas vezes sentia o peso da mão do pai. Três dos seus filhos seguiram diretamente os seus passos e foram se tornando vis como ele tinha sido na juventude. Os outros se tornaram uma espécie de mistura- não tão maus como seu pai, nem tão bons como sua mãe. Eles tinham as ideias de sua mãe, e praticavam as ações de seu pai…
…onde um dos pais é piedoso e o outro é ímpio e vil, embora concordem em ter filhos, contendem pela criança depois que estas nascem. O pai piedoso dedica-se ao filho, e, com orações, conselhos e bom exemplo, luta para que o filho seja santo no corpo e na alma, e assim venha a ser apto para o reino dos céus. Entretanto o pai ímpio deseja que seu filho seja como ele – mau, vil e pecador. Sucede, então, que os dois cônjuges dão instruções segundo os seus propósitos. Instruções, eu disse? Sim, e exemplos também.
Assim, os piedosos, como Ana, apresentam seus filhos ao Senhor, mas os ímpios oferecem seus filhos a Moloque, a um ídolo, ao pecado, ao diabo e ao inferno. Dessa forma, um filho ouve de sua mãe a lei e é preservado da destruição, mas o outro segue os caminhos de seu pai. Sucedeu, pois, que o Sr. Mau e sua esposa dividiram entre si os seus filhos, mas quanto aos três que, por assim dizer, eram mestiços, apanhados entre as crenças dos dois pais, eram como aqueles que são descritos em Reis: “temiam o Senhor, mas serviam a seus deuses” (2 Reis 17.32,33).
Como eu disse, eles tinham as crenças de sua mãe, e, acrescento, também a profissão de fé; mas tinham as luxúrias de seu pai, e algo da sua vida. Ora, seu pai não gostava deles porque tinham o jeito de falar de sua mãe, e a mãe não gostava do coração e da vida do pai, que eles tinham. Tampouco eram boa companhia, nem para os bons, nem para os maus. Os bons não confiavam neles, porque eles eram maus; os maus não confiavam neles, porque eles eram bons. Noutras palavras, os bons não confiavam neles por causa das suas más ações, e os maus não confiavam neles porque eles eram bons em suas palavras. Assim eles se viam forçados, como Esaú, a juntar-se a Ismael (Gênesis 28.9); isto é, a procurar hipócritas como eles, e a eles se nivelaram e com eles viveram e morreram.
Que desgraça maior poderia se abater sobre nossos filhos do que não conhecerem ao Senhor nesta vida e serem eternamente condenados ao inferno? Nenhuma! Nada é tão terrível quanto a miséria da alma! E quais são os instrumentos dados por Deus para arrancar a estultícia e o pecado do coração de nossos filhos? Pais piedosos! Se intencionalmente providenciamos pais ímpios para os nossos filhos, estamos selando seu futuro: ficar sempre entre a piedade e a impiedade, entre o bom e o mau exemplo, entre quem nega a si mesmo e quem só faz o que quer, entre um servo de Deus e um pagão. Que triste legado se deixa para uma criança criada deste modo! Quanta disputa e lutas enfrentará uma mãe que precisa ver o líder do seu lar conduzindo seus pequeninos filhos para longe de Deus… só lhe restará lutar e lamentar por não ter dado ouvidos à ordem de Deus.
Soube da história de uma senhora que foi readmitida à comunhão da igreja depois de longos 60 anos afastada. Quando era moça, se apaixonou por um ímpio e estava resoluta: iria se casar com ele. Ela foi chamada pelos líderes de sua igreja e advertida quanto ao seu pecado, que não foi abandonado. Como era uma igreja séria, ela foi disciplinada por estar em pecado, se recusar a ouvir à admoestação de seus líderes e manter-se impenitente. Ela se casou e teve vários filhos. Passou toda a sua vida de casada longe do Senhor e vivendo como o marido que escolheu, na impiedade. Já perto dos 80 anos e viúva, esta senhora teve convicção de seus pecados e do quanto aquele casamento a afastara de Deus e da igreja e procurou ajuda. Sua nova igreja a acompanhou, e percebendo seu sincero arrependimento e desejo de voltar à comunhão do corpo de Cristo, a recebeu novamente. Houve muita alegria e júbilo naquele bendito dia. Toda a igreja chorou ao vê-la lá na frente, já idosa, confessando seu pecado. Mas o que mais me marcou nesta história, foram suas lágrimas ao olhar para o rastro que esta desobediência causou: filhos, netos e bisnetos, dezenas deles, e todos absolutamente distantes do Evangelho que um dia ela professou. Eles não conheceram o Deus dela! E esta tristeza ela carrega consigo…
Esta dura realidade se contrasta absurdamente com os benefícios que os filhos da aliança recebem ao serem criados por pais crentes! Mais uma vez apelarei para a sabedoria de John Bunyan:
“Os filhos de pais piedosos são filhos de muitas orações. São objetos de orações antes e depois de nascerem, e a oração de um pai piedoso e de uma mãe piedosa “pode muito em seus efeitos”. Eles têm a vantagem da possível restrição dos males para os quais seus pais vêem que eles são propensos, e isso constitui uma segunda misericórdia. Eles têm a vantagem de receber instrução piedosa e de saber dos pais quais são e quais não são os retos caminhos do Senhor. Também ouvem a recomendação de bons caminhos, e palavras explicativas sobre estes. Tais filhos são também, quanto possível, mantidos longe de má companhia, de maus livros, de pessoas e ambientes que ensinam maus hábitos, como os de praguejar, mentir, não guardar o shabbath, e zombar de bons homens e de boas coisas. Todas estas bênçãos são fruto de grande misericórdia. Também têm o benefício de vidas piedosas expostas diante deles doutrinariamente por seus pais, e a doutrina que ministram vem acompanhada de piedosos e santos exemplos. Todas essas coisas são grandíssimas vantagens.”

Um apelo à obediência
Não existe argumento capaz de convencer alguém que está resoluto em sua decisão. Sei que quando se trata de paixão a coisa se torna muito pior. Talvez você seja uma moça que deseja casar e esteja sendo constantemente tentada a olhar para fora dos arraiais do povo de Deus. Talvez sua desculpa seja como a de muitas moças que conheço: não tem rapaz sério e disponível na igreja! Mas quem sabe sua situação seja ainda pior e você já esteja namorando um rapaz ímpio. Quem sabe você já esteja até fazendo planos de casamento… Então, este apelo final é feito a você! Sei que se você está nesta situação e se sente completamente apaixonada, tudo que foi falado acima sobre criação de filhos, sobre ser levada para longe do Evangelho e sobre as infinitas dificuldades que serão enfrentadas neste tipo de casamento, serão minimizadas por você. Seu lema deve estar sendo: ela é muito exagerada… não é bem assim…comigo será diferente! Por isso, gostaria de pedir que você colocasse suas desculpas esfarrapadas de lado e deixasse de subestimar o que é sério, e aceitasse ter seu pecado confrontado pelas sagradas Escrituras. Não minimize a seriedade de voluntariamente se colocar contrária a uma ordenação de Deus! Quem ousaria fazer isto em seu juízo perfeito e se colocaria conscientemente sob a ira de Deus? Sim, pois esta é a promessa que o Senhor fez a seu povo lá em Deuteronômios 7 e a cumpriu, como lemos no Salmo 106! Ele sempre cumpre as suas promessas!
“nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações… pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria.” Deuteronômios 7.2 e 4
Não se iluda, nem se engane. Deus pedirá contas de quem age de forma rebelde e desobediente. Não aja como se fosse um ateu prático, professando que crê em Deus, mas vivendo a sua vida como se Ele não existisse e como se sua santa vontade revelada não tivesse nenhum valor pra você. Sim! Este é um tipo de ateísmo! Não finja que não está acontecendo nada, ouça o apelo de Moisés, ao proferir seu quarto discurso ao povo, clamando para que eles fossem fiéis e obedientes:
“ninguém que, ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração…”
Que risco enorme corremos ao achar que seremos abençoadas quando desobedecemos acintosamente uma ordem tão clara! Se você deseja continuar neste caminho, tenha plena consciência da escolha que está fazendo e das conseqüências que te aguardam. Não se faça de desentendida e não se abençoe, como diz o texto, achando que a mão de Deus não pesará sobre você! Não pense que Ele mudará de ideia só no seu caso e que revogará sua santa lei por causa de seu coração pecaminoso que não quer abrir mão de seus desejos.
Também não tente dar desculpas a si mesma dizendo que não concorda que seja errado o jugo desigual. Agir assim é fazer como o texto de Isaías 5.20 diz:
“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!”
O que o Senhor Deus chama de mal, é realmente mal! O que Ele denomina escuridade é escuridade! E quando Ele diz que proíbe o jugo desigual, o está fazendo por amor ao seu santo nome, por amor à manutenção do seu povo e por amor a nós! Aliás, todas as leis que o Senhor ordena em Sua Palavra tem estes objetivos: a sua glória, e o bem do seu povo. É sobre isso que nos fala Deuteronômio 10.12:
“Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?”

O papel dos pais
Eu não poderia terminar este texto sem apelar aos pais crentes que se coloquem entre seus filhos e o grave pecado do jugo desigual! Não os abandonem nesta hora tão difícil. Conheço pais que dizem que não podem fazer nada, que já aconselharam, mas que seus filhos não retrocederam em sua decisão… então, resolveram aceitar. Não se torne cúmplice do pecado de seus filhos! Não abençoe algo que Deus não abençoa, você não tem este poder e, se o fizer, será responsabilizada por isso.
Desde muito cedo ensinamos esta verdade a nossos filhos: eles jamais se casariam com descrentes. Sim, isso era falado aos três, quatro anos de idade, quando nada disso fazia sentido para eles. Com o passar dos anos as explicações foram se intensificando e tomando corpo. Na adolescência já era uma verdade solidificada: jugo desigual não era uma possibilidade a ser considerada. Sempre que o pai conversava sobre isso com eles, deixava claro que sequer iria ao casamento, que não tomaria parte em uma abominação como esta. E tenha certeza: ele realmente não iria! É claro que isso não impediria um filho de se casar em jugo desigual, mas aumentaria o juízo sobre ele e talvez o fizesse pensar: não teriam a bênção de seus pais! Além disso, existe também a nossa postura diante de Deus. Não ousaríamos aprovar algo que Deus não aprova. Não pecaríamos por causa do pecado de um filho rebelde.
Muitas vezes estamos comprando a maneira de pensar do mundo. O mundo diz que quando nossos filhos completam dezoito anos já são donos do próprio nariz e não podemos fazer nada. MENTIRA! Diante de Deus somos responsáveis por eles até o dia em que eles saírem de casa e se unirem em matrimônio, formando uma nova e autônoma família. Até este dia, tenha quantos anos tiver, ganhe quanto dinheiro ganhar, continuamos sendo pais responsáveis por eles aos olhos de Deus.
Queridas mães tenham coragem e sejam firmes juntamente com seus esposos! Oponham-se ao que o Senhor se opõe. Não entregue de bandeja sua descendência aos “amalequitas” e “moabitas” por temer se colocar contra a vontade de seu filho. Tema mais ao Senhor do que a seus filhos.

Uma palavra às irmãs que já estão casadas em jugo desigual
Não poderia terminar este artigo sem dirigir algumas palavras às minhas queridas irmãs que se encontram hoje, vivendo a amarga situação de um casamento misto. Se você casou com seu esposo, e se converteu ao Evangelho e ele não, você está numa situação especial. Você não se colocou obstinadamente nesta situação e nem a provocou. O seu caso é como aqueles descritos por Paulo em 1 Coríntios 7. Leia com calma todo o capítulo e você verá que é através de sua vida de piedade que haverá chance de salvação no seu lar! Infelizmente você passará por muitas lutas por causa deste casamento misto, mas contará com a graça e com a alegria de saber que a ira de Deus não está sobre você.
Se este não é o seu caso, mas você é aquela moça que não ouviu os conselhos, que não se rendeu às admoestações e que desprezou a lei de Deus e preferiu seguir o seu próprio coração, arrependa-se! Você pecou contra o Senhor e fez o que era mau perante Ele! Procure lugar de arrependimento, Ele não desprezará um coração contrito. Saiba, entretanto, que os efeitos de sua desobediência não serão desfeitos, e você precisará aprender a lidar com a culpa de ter se colocado voluntariamente nesta condição. Também precisará ter paciência para lidar com todas as adversidades que advirão desta situação e mais que outra esposa qualquer, deverá ser piedosa, para que, através do seu santo e reto proceder, quem sabe possa haver salvação em sua casa!

Perguntas comuns
Meu namorado ímpio é melhor que muitos crentes, e aí?
Me perdoe, mas se existe um ímpio que é “melhor” do que um crente, este crente com quem você o está comparando deve ser ímpio! Não estamos fazendo aqui um ranking de pessoas boas, melhores ou piores. Estamos tratando de crentes e de ímpios. Pessoas cobertas pelo sangue de Cristo e pessoas que têm a ira de Deus sobre si, não importando o quanto nos pareçam “boazinhas”.

E se um dia ele se converter?
Pode ser que sim, pode ser que não. Na verdade, na maioria dos casos as mulheres se afastam de Deus por causa do marido ou, no mínimo, têm dificuldades extras na sua caminhada cristã. Mas vamos supor que ele realmente se converta. Bênção! Mas você não poderá nunca dizer que Deus usou a sua desobediência para salvar seu marido e muito menos que outras moças devam seguir o seu exemplo. Também nunca poderá dizer que o mandamento não é tão mandamento assim, já que no seu caso “deu certo”. Não obedecemos à lei de Deus para colher bons frutos. Obedecemos porque O amamos e porque Ele exige isso de nós.

Sou reformada e meu marido não: isto é jugo desigual?
De forma alguma. O jugo desigual tratado por Paulo e por tantos outros textos se refere a ímpios que se casam com crentes. O fato de termos pensamentos diferentes sobre assuntos secundários da fé, não nos torna incompatíveis. É claro que dificulta! Quanto mais pensamos parecido com nosso cônjuge, mais fácil será a nossa caminhada. Mas isso não se classifica como jugo desigual.

E se ele sustenta heresias perniciosas?
Neste caso, a nossa Confissão de fé diz que sim, isto é jugo desigual!

Todo rapaz que é membro de igreja é um potencial candidato a meu marido?
Muito cuidado com este pensamento! Achar que qualquer membro de igreja é crente é, no mínimo, desconhecer as Escrituras, que falam que em meio ao trigo também está plantado o joio. Conheço dezenas de moças que se casaram com “crentes”, membros de igreja e que se viram, depois de alguns anos, numa terrível armadilha: estavam casadas com verdadeiros ímpios, estavam em jugo desigual. O fato de estar dentro de uma igreja deve ser apenas o primeiro ponto a ser avaliado. Depois daí segue-se uma longa lista que você precisará verificar, contando sempre com o auxílio de seus pais, seu pastor e de conselheiros mais velhos.
O casamento é a escolha mais importante que fazemos em nossa vida. A cidade onde moraremos, o curso que faremos, o corte do cabelo, o carro a comprar ou qualquer outra escolha pode ser modificada e revertida. Mas o casamento não! Ele é indissolúvel, é até que a morte nos separe. Por isso, seja extremamente criteriosa e não se deixe levar apenas pelo coração, que é enganoso e desesperadamente corrupto. Acima de tudo, submeta sua vontade à vontade de Deus. Não tenha o casamento em jugo desigual como uma opção. Não se deixe vencer pelas pressões. Não ceda ao pecado.
Confissão de fé de Westminster, capítulo XXIV, seção II e III
“O matrimônio foi ordenado por Deus para auxílio mútuo entre esposo e esposa; para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima, e da igreja por uma semente santa; e para a prevenção contra a impureza.
A toda sorte de pessoas que são capazes de dar seu consentimento ajuizado é lícito casar; no entanto é dever dos cristãos casar somente no Senhor. Portanto, os que professam a genuína religião reformada não devem casar-se com infiéis, papistas, ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se a um jugo desigual, casando-se com os que são notoriamente ímpios em sua vida, ou que mantêm heresias perniciosas.”

2015-04-15

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.