mulher puritanaQUESTÕES CONTEMPORÂNEAS

Você tem um problema: você mesmo. Para ser franco, você é viciado em si mesmo. Receio que já tenha nascido assim; todos nós nascemos. No entanto, a maioria de nós aprende a esconder isso durante a maior parte do tempo ou, pelo menos, chega a perceber que 100% de egocentrismo não é a melhor forma de alcançar nossos objetivos. Essa é uma motivação egoísta, eu sei, mas é a forma como a sociedade funciona. Há outra saída para esse vício que, realmente, remove o ego ao invés de apenas administrá-lo, mas trataremos disso depois.

Como acontece com a maioria dos viciados, provavelmente você não percebe que tem um problema. Então, deixe-me descrever os sintomas de “integralmente-eu” e lhe dar alguma esperança de derrotá-lo.

Integralmente-eu

“Integralmente-eu” é caracterizado por egocentrismo, justiça própria, promoção pessoal, autossuficiência, vontade própria, autoidolatria, amor-próprio, elogios a si mesmo e coisas do tipo. No entanto, esses sintomas se manifestam de maneiras diferentes dependendo da idade do viciado. Se você ainda é um adolescente provavelmente está em uma das piores fases do “integralmente-eu” – forte, independente, e com uma consciência de si mesmo capaz de mostrar o lado mais feio do “integralmente-eu”; ao mesmo tempo em que não é sábio ou experiente o suficiente para perceber que é autodestrutivo e suicida, a menos que o gerencie ou o modifique.

Provavelmente você não pode entender por que seus pais sempre disseram “não” pra você. E, por que eles deveriam levar em conta o que seus irmãos e irmãs querem? Por que você não deve sentar-se à mesa de cara feia e com uma postura errada? Não faz mal para ninguém, não é verdade? E quanto às tarefas? Por que você não pode apenas voltar para casa, comer e ficar no seu quarto? Por que a mãe quer sempre saber como foi o dia na escola? Não é irritante a maneira como o Pai insiste em mandá-lo pra cama na mesma hora que ele e a mãe vão dormir? Como você cochichou para o seu amigo: “pensei que, com o tempo, as pessoas mais velhas iam ficando surdas”. Por que eu não posso fazer milk-shakes à meia-noite? Quer dizer, qualquer coisa…

Mas você está infeliz, não é? Isso é o que é esquisito nos vícios. Eles prometem muito, mas fazem pouco. Você acha que se continuar com sua agenda encontrará felicidade, contentamento e satisfação, embora você já esteja descobrindo que amor-próprio gera ódio-próprio. Eu sei que você acha que sua infelicidade é causada por todos os não em sua vida – não dos pais, não dos professores, não dos pastores, não de todo o mundo. “Por que ninguém diz SIM para mim?”

O problema é menor e mais simples do que você imagina. É o EU no centro do seu coração. Até que essa palavra seja quebrada em pedacinhos sua vida continuará tomando um rumo triste e sombrio. Você vai perambular de relacionamento para relacionamento, de colégio para colégio, de casamento para casamento, de emprego para emprego, de igreja para igreja e de coisa brilhante para coisa brilhante. E a culpa sempre será “dos outros”, nunca será sua: pais, professores, amigos, esposas, maridos, pastores, chefes, governantes, qualquer um, não importa quem seja. Se todos apenas se curvassem para servi-lo, então, tudo estaria bem.

INTEGRALMENTE-SERVO

Mas aqui está a coisa mais estranha de todas: as pessoas mais felizes no mundo são as que servem – não aqueles que aquecem os chinelos dos milionários, mas aqueles que servem aos outros em todas as suas relações e responsabilidades. Eles podem ter um milhão no banco ou podem estar no vermelho, seja qual for a sua posição social ou financeira eles sabem ouvir, doam seu tempo e dinheiro, são voluntários na igreja, fazem além das suas tarefas e ainda fazem algumas coisas sem receber pagamento.

Eu sei que isso soa como miséria total para você, mas, acredite em mim, esse é o caminho da felicidade. Com certeza algumas pessoas são altruístas por motivos egoístas.  São sensatos para perceber que viver apenas para si mesmo não é muito útil social ou profissionalmente (Espero que você já tenha percebido isso). Mas, existem outras pessoas que não apenas administram e modificam seu “integralmente-eu”, elas negam-se a si mesmas e vivem para os outros de verdade. Como? Elas têm o grande Abnegador trabalhando em seus corações. Estou falando de Jesus Cristo, o Servo, que transforma os piores “integralmente-eu” nos melhores “integralmente-servo”.

Estude a vida de Cristo e se pergunte como você, também, pode servir mais do que ser servido. Acima de tudo, estude a Sua morte. Estudar a Sua vida vai encolher um pouco o seu EU, mas é diante da Sua cruz que o seu EU vai começar a rachar e desmoronar até seu alicerce. Paulo nos chama, como chamou os “integralmente-eu” filipenses da sua época, a compreender o sacrifício expiatório de Cristo por nosso “integralmente-eu” (Fp 2.3-7). Quando compreendermos o ato supremo de abnegação em nosso nome, não apenas serviremos, mas serviremos com motivações altruístas. Não mais pensaremos nas coisas de que desistimos, mas sim olharemos para o que as coisas de que Ele desistiu. Será coincidência que a magnífica carta aos Filipenses que exalta o serviço também é a esplêndida epístola da alegria (Fp 3.1; 4.1,4)?

Como um “integralmente-eu” recuperado oro, honestamente, para que você também conheça a alegria de ser um “integralmente-servo” (1 Co 16.15).

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David Murray* *Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Sertembro/2012) , traduzido com permissão do editor.

Dr. David Murray ensina Antigo Testamento a Teologia Prática no Puritan Reformed Theological Seminary em Grand Rapids, Michigan, EUA. Ele nasceu em Glasgow, Escócia. Ele foi pastor por 12 anos, primeiro em Lochcarron Free Church of Scotland e depois em Stornoway Free Church of Scotland (Continuing). Ele e sua esposa, Shona, têm quatro filhos: Allan, Angus, Joni, e Amy. Ele também bloga no Head Heart Hand.

**Tradução: Eliete Medeiros da Rocha