women drinking tea“Instruir é algo tão americano”, disse-me uma amiga de outro país. Conversávamos sobre mulheres mais velhas instruindo as mais novas e ela tinha uma visão diferente da maioria das pessoas ao meu redor. “De onde venho, as pessoas nunca fariam isso. Elas apenas congregariam na igreja local e buscariam ser fiéis no seu cotidiano.” O que ela quis dizer é que a versão mais recente de instrução da América do século XXI – um tipo de sistema programático cristão de Tito 2 – é algo único e característico desta cultura. E ela provalvemente está certa: o “vida na vida”, as anotações e o pastoreio organizado não possuem exatamente um campo de atuação universal ou atemporal. Não que esta “versão americana” de instrução esteja errada, é apenas uma expressão cultural da América Protestante tentando ajudar mulheres mais velhas a ensinar mulheres mais novas.

Biblicamente, e o mais distante das influências culturais que possamos nos manter, a instrução é, na verdade, um relacionamento entre duas mulheres cristãs – uma mais velha e uma mais nova – com o propósito de promover o crescimento na graça em ambas, mas principalmente na mulher mais nova. Instruir é dizer a uma cristã mais nova “Sede minha imitadora, como também eu sou de Cristo.” A instrução não é parar de se empenhar no que está fazendo para que você possa tomar uma café com outra pessoa e perguntar como a sua semana foi. Instruir não é um programa que você segue. Paulo não saía uma vez por semana para comer um shawarma (comida árabe) com Barnabé para perguntá-lo sobre seu tempo à sós com Deus ou iniciar um sistema de prestação de contas na congregação. Eles viajavam em missões juntos; eles viviam de fato a vida cristã na sua intimidade, sendo diligentes na carreira da fé com o foco no mesmo alvo. Isso não significa que perguntar sobre devocionais e prestar contas (ou comer shawarma!) são atitudes ruins; significa que essas atitudes fazem parte de um estio de vida muito mais abrangente e completo que é a instrução.

Como uma mulher mais velha, aconselhar é abrir a sua vida e convidar uma jovem da sua igreja a participar do seu cotidiano a fim de que ela possa ver de fato como os princípios bíblicos se aplicam no dia a dia. É investir numa jovem para que ela possa colher frutos terrenos e espirituais. Como uma mulher mais nova, ser aconselhada é genuinamente abrir sua vida a uma mulher piedosa e mais velha para que você possa crescer na sua vocação como cristã, esposa e, talvez, mãe. A instrução pode incluir coisas como a memorização de versículos e o estudos de livros, mas abrange muito mais que apenas essas coisas. A instrução é um relacionamento natural entre uma mulher mais velha e outra mais nova, as quais Deus levou a se conhecerem e onde a mais nova aprende sobre a vida e a piedade de alguém que possui sabedoria nestas áreas. A instrução não é um projeto ou um evento. Deveria ser o estilo de vida de toda mulher cristã: um uso determinado e intencional dos relacionamentos que Deus nos deu. Quando feito de acordo com a Bíblia, não há nada de artificial na instrução: é algo honesto, realista e produz frutos numa ou em ambas pessoas.

Como os cristãos da Igreja Primitiva, vivemos numa cultura secular. Nossas igrejas estão cada vez mais cheias de jovens mulheres criadas em lares que não as ensinaram como é que se parece a feminilidade bíblica, ou por seus pais não serem cristãos ou por terem uma compreensão sub-desenvolvida do cristianismo bíblico. Muitas dessas jovens estão lutando e precisam de alguém ao seu lado que diga “Ei, eu posso te ajudar a descobrir como fazer isso.” Todas nós precisamos disso, porque nenhuma de nós já fez antes o que estamos fazendo, e a instrução, o encorajamento e as advertências são auxílios que nos impedem de cair.

A instrução é importante também para aquelas jovens que cresceram na igreja. Se você tem uma filha, você automaticamente está instruindo-a, apesar de essa não ser a melhor forma de pensar este relacionamento em especial, uma vez que as Escrituras descrevem o relacionamento entre pais e filhos como algo muito mais abrangente e amplo do que apenas a instrução, ainda que esta seja uma das dimensões contidas no relacionamento familiar. Todavia, deveríamos instruir as jovens que não fazem parte da nossa família, tanto quanto nossas filhas deveriam ser instruídas por outras mulheres sem o vínculo familiar, uma vez que dentro de uma família existem pontos cegos, pecados compartilhados e, frequentemente, fraquezas e virtudes similares. Envolver outras mulheres cristãs com perpectivas, realidades de vida, virtudes e fraquezas diferentes é um grande recurso para todas nós. Se fazemos parte de uma igreja saudável, isso deve ser o padrão. Mulheres mais velhas recebem as mais novas em suas vidas a fim de que as jovens possam desenvolver um entendimento mais mais amplo e completo de como se parece o cristianismo aplicado.

A instrução é importante também porque é personalíssima. O Google te dá as respostas somente até um certo ponto e, já que os blogueiros e os autores falecidos não conhecem a sua situação em particular, eles não podem atender ao seu caso em específico. E, quando você pesquisa no Google ao invés de ir a alguém que possa te instruir, você perde todas aquelas pequenas interações e comentários adicionais que podem ser o grande estímulo, não só do seu dia, mas no desenvolvimento da sua compreensão sobre a vida cristã. Você pode pesquisar no Google como assar um peru e, às vezes, você precisa fazer isso mesmo. Mas se você chama uma instrutora e pede à ela que te ensine, você não só terá a resposta que precisa como também algumas dicas sobre como celebrar o Dia de Ação de Graças, além de algum incentivo no seu planejamento.

O ideal seria que toda mulher mais velha da igreja instruísse de alguma forma num certo momento cada jovem cristã da mesma congregação. Essa é a benção de ser parte do corpo, não? Numa igreja em que congregamos, perguntei às mulheres mais velhas todo tipo de coisa, desde “Como resolvo uma inundação no porão?” até “Estou realmente frustrada com esta pessoa. Como posso superar isto?”. E as jovens me perguntam todo tipo de coisa, desde “Tenho que usar um calçador para zíper se quiser colocar um zíper no vestido?” até “Não consigo respeitar meus pais; o que posso fazer para mudar isso?”. Neste caso, o que acontecia era uma instrução geral, o que também é algo bom da sua própria maneira.

Contudo, na maioria dos casos, desenvolvemos mais o relacionamento de instrução com uma pessoa do que com outras na congregação, simplesmente por causa de compatibilidade de tempo, deslocamento e personalidades que combinam mais que outras. Esse é o tipo de relacionamento a que nós geralmente nos referimos quando conversamos sobre instrução: vida na vida, ensino com propósito sobre a vida. Tipicamente, a instrução saudável ocorre na igreja local, pois (1) está sob supervisão pastoral, (2) edifica o corpo da igreja local e (3) possui um contexto regular, social e relacional dentro de uma igreja.

Instruir é muito mais do que apenas mulheres mais velhas conhecendo as mais novas a fim de ajudar a pastoreá-las. Uma grande parte da instrução é aquela em que as mais novas conhecem bem as mais velhas. Deveríamos ser capazes de dizer a elas o que Paulo disse aos coríntios: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (I Coríntios 11:1). Isso não significa que estamos dizendo que somos perfeitas e muito bem resolvidas. Na verdade, ao abrirmos nossas vidas, ficará bastante óbvio que não somos perfeitas. Mas por sermos mais velhas e estarmos percorrendo esta corrida há mais tempo, temos aspectos mais bem resolvidos do que as mais novas e, por isso, podemos ajudá-las a correr melhor do que nós mesmas.

Então, com o que é que isso se parece na vida real? Aqui estão 3 exemplos (reais) de mulheres cristãs fazendo um bom trabalho de instrução. Alguns são momentâneos e outros a longo prazo, dependendo da necessidade da jovem:

• Jen está instruindo uma jovem que não sabe que está sendo instruída. A “mais nova” é uma jovem cristã que frequenta a casa de Jen já que trabalha lá. Após terminar o serviço, a jovem vai para a cozinha para um lanche e elas conversam enquanto Jen prepara o jantar para sua família. Jen faz várias perguntas que ajudam a jovem a avaliar a sua situação. São apenas 30 minutos por semana e, ainda que a jovem não chame isso de instrução, esse momento tem tido uma influência significativa em sua vida.

• Num verão, Michelle estava numa cidade diferente durante um fim de semana por causa de um casamento. A esposa de um pastor, que conhecia a família de Michelle, também estava lá. Esta mulher mais velha basicamente investiu o fim de semana todo instruindo Michelle. Elas fizeram várias refeições juntas e a esposa do pastor fez muitas boas perguntas à Michelle que a ajudaram a pensar, encorajando-a e deixando que Michelle chegasse perto o suficiente para ver como ela interagia com os outros, incluindo seu marido, como ela lidava como novas situações sociais e como ela conversava com as outras pessoas.

• Um casal de namorados que começou a frequentar uma igreja enquanto estavam cursando a universidade; ela veio com uma bagagem bastante peculiar e viveu a milhares de quilômetros de distância da sua família. Durante os anos em que este casal frequentou a igreja, a esposa do pastor os recebeu quase todos os domingos para o almoço e realmente instruiu a jovem sobre como é uma esposa protestante, uma mãe dedicada e uma cristã hospitaleira. Aquele relacionamento de instrução formou muitas das posições daquela jovem a respeito do casamento e da maternidade, quanto mais sobre a comunidade cristã.

Instruir é ter um propósito nos relacionamentos que você já possui. É um estilo de vida, não uma ocasião especial. Não é parar de o que você está fazendo para instruir, pois instruir é parte do que você está fazendo: mostrar a uma mulher mais nova como é ter os pés no chão na vida cristã. Seja criativa ao maximizar o seu tempo de instrução; deixe as mais novas verem a sua vida em ação.

Ser instruída é ter um propósito nos relacionamentos que você já possui. É um estilo de vida, não uma ocasião especial. Não é parar de trabalhar para sair com alguém que você acha legal; é aprender a caminhar com maior fidelidade enquanto você caminha. É observar uma mulher mais velha para que você saiba como é percorrer a caminhada cristã em tempo real. Nem sempre será bonito, mas irá gerar frutos, querendo Deus. Seja criativa ao maximizar o seu tempo de instrução; siga uma mulher mais velha para que você possa ver a vida dela em ação.

Quero enfatizar o presente que é a instrução – isso pode parecer se muito trabalhoso para ambas as partes e isso é verdade. Para as mulheres mais velhas, é um trabalho de servir: doando livremente do seu tempo e energia limitados para ensinar e orar por uma mulher mais nova. Para as mulheres mais novas, é um trabalho de aprendizado: ser humilde e diligente a fim de obter sabedoria de uma santa mais experiente e se certificar de que isto é sabedoria bíblica ao invés de ficar justificando as suas próprias considerações a respeito. De ambos os lados, há muito trabalho. Mas Deus nos deu uma benção incrível ao ordenar que as mais velhas ensinem as mais novas.

Como uma mulher mais nova, é realmente encorajador ter alguém para lhe dizer “Ei, posso te ajudar com isso? Você está indo bem, trabalhando duro, mas se fizer desta forma, talvez seja melhor.” É tão bom saber que uma crente mais madura se importa com você e estará lá nos tempos difíceis. E, como uma mulher mais velha, é muito encorajador observar as mais novas perseguindo o cristianismo bíblico em suas vidas e vocações! É tão bom saber que Deus está levantando outra geração de santas sedentas e famintas por santidade e que você pode ser uma pequena parte disso.

É claro, Deus sabia quando Ele inspirou os versos e os exemplos de mulheres mais velhas ensinando as mais novas que esse seria o caso. Como em tantas coisas na vida, a benção é tecida pela obediência. Vamos não permitir que pré-concepções culturais ou qualquer outra hesitação nos faça perder isso também.

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Este post é uma tradução de um artigo de Rebecca VanDoodewaard publicado originalmente no Blog “The Christian Pundit” traduzido e re-publicado com permissão da autora.

*Rebecca VanDoodewaard é dona de casa, editora free-lancer e escritora. Ela é esposa do Dr. William VanDoodewaard, ministro da Associate Reformed Presbyterian Church e professor de História da Igreja no Puritan Reformed Theological Seminary, com quem tem 3 filhos. O casal bloga no “The Christian Pundit”

** Tradução: Vivian Junqueira Viviani