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  • Provações e Perseverança

Logo após seu retorno à Genebra, Idelette prematuramente deu à luz um menino, o qual chamaram Jacques. O bebê morreu um mês depois, em agosto de 1542. “O Senhor certamente infligiu uma ferida severa e amarga através da morte de nosso filhinho”, Calvino escreveu a Viret. “Mas Ele próprio é um Pai e sabe o que é necessário para Seus filhos”. Na mesma carta, Calvin observou que Idelette estava muito aflita para escrever, embora ela estivesse se submetendo a Deus em sua aflição. Ela também quase havia perdido a vida durante o nascimento do bebê. Calvino escreveu para Viret que ela havia estado em “extremo perigo”.

Idelette se recuperou, mas teve tristeza após tristeza. Dois anos depois, ela deu à luz uma menina, em 30 de maio. Calvino escreveu para Farel, “Meus filhinha  labuta sob uma febre contínua”, e dias depois ela também morreu.²¹ Algum tempo mais tarte, um terceiro filho nasceu morto. Em meio aos deveres e pressões esmagadores de Calvino, a dor pela perda de seus filhos foi a mais profunda, especialmente para Idelette. No entanto, ela e Calvino perseveraram, submetendo-se ao Senhor, e colocando sua confiança nEle.

Lição nº 5: A vida Idelette, que incluiu considerável sofrimento, nos mostra a beleza da submissão a Deus na dor, em vez de negar ou rebelar-se contra ela. Sua submissão nos ensina que o cristianismo genuíno se curva a Deus, confiando Nele como o maior amigo, mesmo quando Ele parece ser o nosso maior inimigo. O resultado final de tal confiança é o que os puritanos chamaram de “a jóia rara do contentamento cristão”. Todos podemos pedir por uma maior porção dessa submissão como a de Cristo.

Então, insulto foi lançado sobre a tristeza quando alguns católicos romanos escreveram que, visto que a esterilidade no casamento era sinal de reprovação e julgamento, a condição de filhos de Calvino e Idelette deveria ser juízo de Deus contra Calvino. Um escritor, Baudouin, ainda escreveu: “Ele se casou com Idelette, com quem não teve filhos embora ela estivesse no auge da vida, para que o nome deste homem infame não pudesse ser propagado”.

Calvin falou, mais tarde, que a profunda aflição por sua falta de filhos foi superada apenas pela meditação na Palavra de Deus e pela oração. Ele escreveu privadamente a seu amigo Pierre Viret, que ele também encontrava conforto em saber que possuía “miríades de filhos por todo o mundo cristão.”

Lição nº 6: Assim como Idelette, juntamente com seu marido, buscou refúgio na Palavra de Deus e na oração em seu momento de necessidade, devemos encontrar alívio em meio às provações da vida ao nos voltarmos em oração aos meios de graça fundamentados na Palavra. Você também tem descoberto que a Bíblia é um maravilhoso livro de conforto, e que a oração nos dá um consolo completamente diferente de tudo mais?

Mais sofrimento se seguiu. Por volta desta época, a praga atingiu pessoas por toda Genebra. Ela havia se espalhado por toda a Europa, deslocando centenas de milhares de pessoas de suas cidades e casas. De uma carta (Abril de 1541) a seu pai, descobrimos que Calvino enviou Idelette e seus filhos a Estrasburgo por segurança. A separação de Idelette foi insuportável. Embora Calvino estivesse profundamente preocupado com a segurança de sua esposa, ele também foi firme em sua confiança em Cristo. Devemos aprender com isso que nada na terra mantinha Idelette e Calvino tão fortemente unidos como seu vínculo de amor ancorado em Cristo.

Lição nº 7: Aprenda com Idelette, juntamente com seu marido, que o amor pela verdade que se baseia na inabalável confiança em Cristo é o que mantém um casal unido, mesmo em tempos de prolongada ausência e grande sofrimento. Precisamos cultivar confiança amorosa um no outro durante os tempos bons, quando não estamos debaixo de provações ou ausentes um do outro, de modo que possamos ter muito na mão para oferecer  quando as provações e ausências impactarem nossas vidas.

Em 1545, centenas de valdenses perseguidos refugiaram-se em Genebra. Idelette estava ao lado de Calvino durante esse tempo, trabalhando duro para fornecer alojamento e emprego para eles. Eles eram tão incansáveis em sua devoção aos imigrantes, que alguns genebrinos os acusaram de serem mais úteis para os estrangeiros do que para os amigos.

Lição nº 8: Aprenda com Idelette a não esperar que alguém te louve, mesmo quando você está fazendo o bem. A crítica é uma realidade inevitável da vida. Aprenda a aceitá-la, a entregá-la a Deus, e a andar adiante com integridade bíblica e humildade.

João e Idelette Calvino viveram tempos felizes, assim como muitas tristezas. Em nossos dias, quando tantos psicólogos e terapeutas prometem ajuda para os casamentos, é tentador negar a Escritura como sendo insuficiente para nos dizer como a vida de casado deve ser. No entanto, Calvino e Idelette oferecem um notável exemplo de como um casamento baseado na Escritura e centrado em Cristo pode funcionar no meio de circunstâncias difíceis. Perder filhos e amigos, ser arrancando de uma comunidade para outra, enfrentar um cronograma extremamente exigente, e se ajustar a um novo casamento são apenas algumas das provações que enfrentaram este casal. No entanto, eles foram abençoados com um casamento e uma vida familiar pacíficos e felizes.

Calvino e Idelette atribuíam o sucesso de seu casamento à graça de Deus. Deus era a sua fonte de perdão, compaixão, misericórdia, ternura, paciência e contentamento em todas as suas dificuldades. Pela graça de Deus, esses dons e princípios não mudam com o tempo, mas permanecem estáveis em Cristo para os fiéis que buscam casamentos que glorificam a Deus. Quando vivemos por estes princípios em união com Cristo, nossos casamentos podem conhecer uma alegria que excede em muito a felicidade do mundo.

Lição nº 9: Aprenda com Idelette, juntamente com seu marido, que ajudar nossos casamentos de acordo com o padrão de Efésios 5:21-3 e dar  glória a Deus por todo o sucesso e alegria que encontramos no casamento, é uma maneira segura de aumentar a nossa alegria até o dia em que estaremos finalmente casados para sempre com Jesus Cristo, o Esposo perfeito, na glória do céu.

  • Morte de Idelette

A saúde de Idelette piorou constantemente durante seus nove anos com Calvino. Ela sofreu de febre durante os últimos três anos de sua vida. Em março de 1549, ela ficou de cama. Ao mesmo tempo, Calvino estava sendo perseguido por poderosos inimigos em Genebra, não sabendo que eles seriam derrotados em seis anos. Naquele momento, parecia que tudo em sua vida estava desabando sobre ele. A cidade parecia o estar rejeitando, suas reformas estavam falhando, e sua preciosa esposa estava morrendo. No entanto, em meio a tudo isso, Deus sustentou Seu servo.

A última preocupação terrena de Idelette foi com seus filhos. Calvino prometeu tratá-los como seus, ao que ela respondeu: “Eu já os encomendei ao Senhor, mas sei bem que você não abandonaria aqueles a quem eu tenho confiado ao Senhor.”²⁶

“Esta grandeza de alma”, Calvino escreveu mais tarde, “vai me influenciar mais poderosamente do que uma centena de louvores o faria”.

No fim de sua vida terrena, Idelette orou: “Ó Deus de Abraão e de todos os nossos pais, os fiéis, em todas as gerações, têm confiado em Ti, e nenhum deles jamais foi confundido. Eu também esperarei”.²⁸ Ela partiu para a glória no dia 05 de abril de 1549. Calvino estava ao seu lado, falando com ela sobre a felicidade que haviam desfrutado por nove anos e sobre a alegria que ela teria em breve ao “trocar uma morada terrena pela casa de seu Pai do alto.”

Lição nº 10: Aprenda com Idelette que aqueles que, pela graça, viver bem, geralmente morrem bem. Idelette teve uma morte doce, submissa, apesar da dor que a precedeu. Quando entregamos tudo a Deus, tanto na vida quanto morte, não só nos preocuparemos menos nesta vida, mas também não seremos confundidos mesmo quando as dificuldades aparecerem diante de nós. Nosso conforto em Cristo e Sua salvação é bom tanto na  vida quanto na morte, e por toda a eternidade.

As cartas de Calvino pouco depois da morte de Idelette expressavam sua tristeza por ter perdido sua querida companheira, que ele afirmou ser uma rara mulher rara, sem igual.³⁰ Mesmo em seu leito de morte, “ela nunca foi incômoda para mim”, ele escreveu.³¹ Isso fez com que a tristeza de Calvino fosse ainda mais profunda . Este provação nos mostra que submeter-nos à vontade de Deus não nos isenta das dificuldades.

Calvino tinha apenas quarenta anos quando Idelette morreu. Como Ezequias, quinze anos ainda seriam acrescentados à sua vida, mas eles seriam anos sem sua preciosa esposa. Ele escreveu a seus amigos que ele mal podia continuar com seu trabalho, mas ele se estimulava a isso. Seus inimigos acusaram Calvino de ser insensível por trabalhar tão diligentemente, mas Calvino era tudo, menos sem coração. Ele escreveu a um amigo: “Eu faço o que posso afim de que eu não seja totalmente consumido pela tristeza. Eu fui privado da melhor companheira da minha vida; ela era a fiel ajudante do meu ministério…. Meus amigos fazem de tudo para aliviar, em algum grau, a dor de minha alma…. Que o Senhor Jesus te confirme pelo Seu Espírito, e eu também sob esta grande aflição, a qual certamente teria me esmagado, não tivesse Ele, cujo ofício é levantar o prostrado, fortalecer os fracos, e vivificar o desfalecido, estendido a mim ajuda do céu”.

  • Conclusão

Nossa cultura tem uma visão cínica do casamento e da promiscuidade. Um recente relatório sobre o aumento da taxa de divórcio mostra que ele é maior entre pessoas de 25 a 35 anos. Embora parte desse aumento do divórcio possa ser devido à economia, um fator que contribui é o dia do casamento em si. Tanto tempo e dinheiro são gastos com o planejamento para o dia do casamento, que pouco tempo é gasto na preparação para o casamento! Uma sociedade que enfatiza somente o dia do casamento só pode produzir cinismo a respeito do casamento.

A visão bíblica do casamento é bem diferente. A Escritura nos ensina que o pecado desfigurou profundamente as intenções de Deus para o casamento, mas Cristo amorosamente o restaurou. A verdadeira alegria no casamento é resultado de quando o marido se esforça para amar a sua esposa como Cristo ama a Igreja e quando a mulher se esforça para respeitar seu marido da maneira como a igreja respeita a Jesus Cristo. João e Idelette Calvino conheceram esta alegria. Uma das coisas mais surpreendentes sobre a relação deles é que eles exalavam alegria, mesmo nas circunstâncias mais traumáticas. Eles sabiam o que significava se regozijar em Deus no meio da perseguição. Eles encontraram alegria no temor de Deus enquanto se esforçavam para glorificá-Lo. Eles encontraram alegria em sua salvação, alegria em sua fidelidade um ao outro, alegria no amor e companheirismo um do outro, e alegria no serviço ao próximo. Em suma, Idelette foi uma companheira, uma verdadeira alegria para seu marido.

Lição nº 11: Aprenda com Idelette, juntamente com seu marido, que a verdadeira alegria não é encontrada em viver para si mesmo; ela só é encontrada em servir a Deus como o número um, servir nosso cônjuge como o número dois, e servir a nós mesmos como número três. Essa é a essência do projeto para um casamento e uma vida verdadeiramente felizes, que Paulo delineou para nós em Colossenses 3:12-17.

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joel beeke*Esse artigo foi publicado originalmente no PRTS journal (2010). Traduzido e publicado em português com permissão do autor.

**Dr. Joel Beeke é presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Theological Seminary (EUA). É pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation, editor da Banner of Sovereign Grace Truth, diretor editorial de Reformation Heritage Books, presidente da Inheritance. Foi co-autor, escreveu ou editou mais de 50 livros, dentre os quais, “Vivendo para a Glória de Deus” e “Vencendo o Mundo”. Obteve seu Ph.D. em Teologia da Reforma e Pós-reforma no Westminster Theological Seminary. Ele é convidado freqüentemente para lecionar em seminários e pregar em conferências ao redor do mundo. Ele e sua esposa, Mary, foram abençoados com três filhos: Calvin, Esther e Lydia.

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** Tradução: Arielle Pedrosa