* Fonte: Pinterest

“Amo colecionar histórias da fidelidade do Senhor. Penso que todas nós precisamos ouvir vários relatos de como Deus respondeu às orações, mas tenho uma queda em meu coração por mulheres que estão fazendo o investimento de longo prazo em outro ser humano. Cobrimos muito material sério no capítulo da guerra das mães. Para oferecer uma perspectiva encorajadora, aqui estão as histórias de várias mulheres que tiveram encontros profundos com Deus na concepção, na gestação, na criação e na adoção de crianças. Essa é a coleção mais longa de histórias pessoais neste livro, porque espero que cada uma de vocês encontre algum elemento de esperança ou ajuda no meio desses relatos. Conheço todas essas mulheres e seus filhos — eles são troféus da graça de Deus.

Grávida Novamente

Elke está esperando seu segundo filho. Enquanto conta sobre seu passado, ela conscientemente toca sua barriga, acariciando o bebê de trinta e duas semanas dentro dela.

“Vou ter um menino”, ela diz com um sorriso brilhante. “Ele está chutando bastante hoje.”

Ela faz uma pausa, e seu sorriso começa a desaparecer. “Eu não me senti assim com minha primeira gravidez.”

Elke cresceu na Bélgica e veio para os Estados Unidos quase dez anos atrás. Ela veio para um emprego de curta duração, esperando ficar menos de um ano. Mas em poucos meses, ela tinha um novo namorado… E nenhum desejo de ir embora. Quando ele foi morar com ela, ela começou a vomitar. Para a surpresa deles, Elke estava grávida — e passando por dificuldades nesse início. Apesar do vômito constante, ela estava animada com a gravidez e desejosa de manter a criança. Mas suas grandes esperanças para o futuro não duraram muito. Enjoada e exausta, ela não respondeu bem quando seu namorado perdeu mais um emprego. Então ela o expulsou de sua casa.

Talvez tenha sido aquele “brilho de grávida” que levou Elke a rapidamente começar a namorar de novo. Seu novo namorado era um policial em processo de divórcio. Ele já tinha um filho e havia deixado claro que não queria mais crianças no futuro próximo. Inicialmente, Elke não contou sobre sua gravidez, temendo perdê-lo. Mas, finalmente, o curso da natureza a forçou a relevar.

“Levou um tempo para eu dizer ao meu segundo namorado que estava grávida”, ela relembra. “Então quando eu contei, ele ficou chocado. Eu não queria perdê-lo por causa desse bebê, então eu disse a ele que estava me perguntando se deveria mantê-lo. Ele me encorajou a abortar — dizendo coisas como ‘Bem, você é nova e precisa de sua liberdade’.”

Estava óbvio para Elke que seu namorado não aceitaria sua criança. Além disso, o pai do bebê era negro, e seu novo namorado era branco. “Eu pensava, não tem como ele ser feliz com esse bebê porque será óbvio que o bebê não é dele”, Elke conta. “Minha mente estava definitivamente focada em ser o mais feliz possível. Enxerguei minha estrada para a felicidade e isso estava no meio do caminho. Era preciso mudar para que eu continuasse feliz. Mesmo entregando o bebê para a adoção— isso nunca foi uma opção. Isso envolveria muito constrangimento pessoal e muitas perguntas. Era trabalhoso demais para mim. O aborto era o conserto rápido e fácil”. Então Elke buscou o conselho de uma mulher no trabalho, a qual falava abertamente de seus três abortos.

A primeira coisa que Elke ficou sabendo foi que ela já tinha passado do tempo para um aborto no seu estado. Ela teria que ir para uma cidade no estado vizinho para abortar, porque ela estava no segundo trimestre. Por causa do estágio avançado, o aborto também seria mais caro — cerca de 3 mil dólares. Então ela ligou para sua mãe para pedir o dinheiro emprestado, mentindo sobre haver algo de errado com o bebê e que então precisaria abortar.

Acho que a coisa mais difícil para mim quanto ao aborto — além do fato de ter tido um — é como ele aconteceu. Isso me persegue às vezes”, diz ela chorando com a lembrança. “Foi um processo de dois dias. Tive que chegar um dia antes para que eles pudessem inserir algo em meu colo de útero para dilatá-lo. Então tive um dia para pensar sobre o caso, mas minha cabeça estava feita. Não pensei em mudar de ideia depois que recebi a recomendação. Também não me recordo de alguém jamais me perguntar sobre as alternativas. Eles me deram alguns tipos de pílulas de antemão, e o médico tinha me falado que eu sentiria alguma dor. Não fiz muitas perguntas. Eu não queria saber.

Tive contrações antes de entrar para o procedimento. Durante o procedimento, deram-me alguma medicação intravenosa. Lá dentro era muito luminoso, e a enfermeira me manteve ocupada fazendo perguntas sobre minhas férias favoritas ou memórias positivas. Ela estava tentando me distrair do que estava acontecendo e tentando criar uma memória positiva. Havia sacudidelas e movimentos constantes. Havia algumas vezes em que o médico pegava um instrumento, e o introduzia, e fazia algo — o que significava cortar um membro ou quebrar alguma parte, porque não caberia na mangueira de sucção. Mas eu sabia que o crânio não seria tão pequeno quanto aquela mangueira — eles teriam de partir o crânio antes de tirar o bebê. É tão macabro; é simplesmente horrível. E é muito doloroso. Olhando para trás, é um trabalho de açougueiro. Mas eu queria que ele o fizesse. Então não posso culpar o médico.

Depois, senti muitas dores abdominais e sangrei muito. Eles me disseram para chamar alguém para ficar comigo ao longo da noite, porque eu poderia ter febre. Tive mais alguns dias de repouso e tomei antibióticos por cinco dias. Você chega até pensar que será algo simples, como o exame papanicolau. Leva muito mais tempo do que você imagina, e não há emoção presente por parte de nenhum dos envolvidos. Então, é comum ter um abatimento emocional posteriormente. Eu me lancei no trabalho para que não tivesse tempo de pensar. Não queria pensar se era uma pessoa real ou apenas um ovo. Eu tinha essa sensação crescente de que tinha feito algo errado, mas não queria pensar sobre isso. Acho que você pode ter uma experiência real das consequências do seu pecado, mesmo sem saber nada sobre pecado — porque isso foi o que aconteceu comigo.”

Envergonhada de seu aborto, Elke disse às pessoas que simplesmente tinha “perdido” o bebê. O namorado dela lhe trouxe comida e cuidou dela nos dois primeiros dias, mas logo se distanciou. Muitos crimes estavam acontecendo, e sua unidade policial era chamada frequentemente. Mas depois que aquilo se resolveu, ele se tornou menos e menos acessível. Eles, por fim, se separaram.

Nessa mesma época, um homem cristão no trabalho começou a aproximar-se de Elke e de outra colega do trabalho. Ele começou um estudo bíblico e as convidou para participar. Então, depois de algumas semanas, ele se ofereceu para levá-las à igreja. Elke e sua amiga começaram a frequentar e acabaram se juntando a um pequeno grupo focado em evangelismo. Semana após semana, ela ouvia a verdade sobre Jesus, o pecado, o inferno, a salvação, a igreja e muito mais numa atmosfera relacional. Ao fim desse curso, Elke se arrependeu de seus pecados e colocou sua confiança na obra salvadora de Jesus Cristo na cruz.

Como nova cristã, ela estava ansiosa para aprender sobre Jesus e a Bíblia. Em seus estudos, ela se convenceu de que seu aborto foi pecaminoso porque ele violou o mandamento de Deus de não matar. Ela também viu que Deus era o Criador da vida e Aquele que provê para todas as suas criaturas. Mesmo tendo se arrependido de seu pecado e de seu egoísmo diante de Deus, ela ainda sofreu com o sentimento de condenação e culpa. “No início, em meu grupo pequeno, lembro-me de realmente me sentir condenada. Eu continuava dizendo

‘Mas eu matei alguém!’. Senti como se não pudesse estar debaixo da mesma graça que os outros. Então o líder do meu grupo olhou para mim e disse: ‘Sabe, nós todos matamos alguém’. E naquele momento, eu finalmente entendi: foi o nosso pecado, o de todos nós, que enviou Jesus para a cruz — o meu pecado… E o de todo mundo. E ainda assim esse foi o caminho para eu ser perdoada”.

Seis anos depois, ela se casou com um homem que conheceu na igreja e engravidou de seu primeiro filho mais ou menos um ano depois. Ela estava admirada de que Deus pudesse ser tão bom com ela depois de tudo o que havia feito.

“Quando fiquei grávida, uma de minhas amigas perdeu o bebê”, Elke diz. “Pensei que era eu quem merecia aquilo — não ela. Ela não tinha feito um aborto. Meu esposo teve de me ajudar a entender que sou agora uma nova criatura em Cristo. Não sou a mesma pessoa que fez o aborto. Fui perdoada daquele pecado. Mas pelos quatro primeiros meses da gravidez, em cada fase, continuei pensando sobre como eu já tinha vivido tudo aquilo antes.”

Elke faz uma pausa, ainda massageando a barriga. “Eu posso sentir seu bumbum bem aqui”.

Ela olha para cima, com lágrimas transbordando nos olhos. “A vida é realmente um milagre”.

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*O texto abaixo foi extraído do  livro Feminilidade Radical de Carolyn Maculey, da Editora Fiel. Foi publicado em português originalmente no site do Ministério Fiel reproduzido aqui conforme autorização expressa no site.
** Carolyn McCulley é autora de três livros —The Measure of Success, Radical Womanhood, and Did I Kiss Marriage Goodbye?. Ela também é conferencista e produtora de filme.