No ano de 2000, quando participei pela primeira vez de uma conferência para pastores e líderes, tive acesso a uma variedade de publicações sobre diferentes assuntos, mas o assunto que mais me despertava interesse, como mãe de primeira viagem, era criação de filhos. Eu estava sedenta por perspectivas cristãs a respeito do tema e comprei muitos livros sobre isso.

            Confesso que minhas expectativas foram frustradas ao ler muitos deles. Alguns deles até davam dicas valiosas sobre como lidar com certos tipos de comportamento, mas nenhum deles atacava o principal problema de nossos filhos, de todo ser humano: o pecado do nosso coração.

            Muito do que aprendi com aqueles livros foi uma maneira nova de “programar” meu filho. Não era isso que eu queria. Não era assim que eu tratava dos problemas, mesmo sem ter muita experiência, então, quando comecei a ler o livro do Tedd Tripp, não precisei nem passar do índice para saber que era daquele tipo de instrução que eu verdadeiramente precisava.

            Desde então, perdi as contas de quantas vezes reli esse livro. Além disso, pode ser que eu tenha copiado uns 60% dele num caderno de anotações (pois é, tive dificuldades de escolher apenas algumas citações). Depois de algumas releituras, compramos esse livro para nossos irmãos e para alguns amigos e demos de presente porque esse é exatamente o tipo de livro que você quer que todo mundo leia.

            A essa altura, você deve estar se perguntando o que “Pastoreando o Coração da Criança” tem de tão diferente? A maneira como Tedd Tripp ataca o que muitos pais têm dificuldade de aceitar em seus filhos “perfeitos”: a realidade de que eles são pecadores, merecedores de condenação, imerecedores da graça de Deus e que necessitam da transformação do Espírito Santo para que não apenas o comportamento deles seja transformado, mas a vida deles.

            Logo na introdução você vai ler uma clara e acurada descrição de nossa cultura e, a despeito de ter sido escrito em 1995, 25 anos atrás, todas as coisas citadas ali são verdadeiras e ouso dizer que apenas pioraram ao longo desse tempo. Nossa cultura tem abandonado pouco a pouco o valor da autoridade dos pais. Na verdade, podemos colocar nessa cesta do abandono, a autoridade de forma geral. Na ausência do respeito por autoridade, os filhos estão numa posição de “igualdade” com os pais e, consequentemente, não mais os ouvem e obedecem, não sabem o que é submissão. Por causa dessa crise de autoridade, os pais estão cada vez mais confusos e, por incrível que pareça, as crianças estão cada vez mais tristes e perdidas, um claro indício de que nossa cultura não tem a menor ideia do que é ou não bom para nossos filhos.

            Tripp, então, nos dá uma lista de conceitos que deveríamos resgatar na educação de nossos filhos:

  1. Autoridade: como pais, precisamos exercer autoridade sobre nossos filhos e precisamos exigir obediência deles. Deus nos chamou para vivermos sob sua autoridade e, se nossos filhos não conseguem obedecer aos pais, que estão com eles o tempo todo, como obedecerão a Deus, em quem devem depositar sua fé?
  2. Pastoreio: como pais, é nosso dever explicar para nossos filhos o mundo ao seu redor e qual é o seu papel no mundo. Não dizemos para eles apenas o que devem fazer, mas também o porquê. Nesse processo, ajudamos nossos filhos na descoberta de Deus, pastoreando seus pensamentos e ajudando-os no aprendizado de discernimento e sabedoria.
  3.  A centralidade do Evangelho: como pais, precisamos tratar não somente do comportamento de nossos filhos, mas da atitude de seu coração. Precisamos mostrar que eles fizeram algo errado, sim, mas também precisamos mostrar a razão daquilo ser errado. Os erros dos nossos filhos são muito mais do que uma desobediência contra os pais. Os erros de nossos filhos mostram a corrupção de seu coração e a necessidade do perdão de Deus, da salvação trazida por Cristo Jesus.
  4. A internalização do Evangelho: “Guardo no coração as suas palavras para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
  5. Mutuamente povo de Deus: Nossa interação com nossos filhos, a maneira como falamos com eles, a maneira como os disciplinamos, a maneira como nos comportamos em relação a eles, a maneira como vivemos, enfim, todo o nosso relacionamento com nossos filhos nos mostra que somos mutuamente povo de Deus. Crescemos e aprendemos juntos, através de um desejo sincero por glorificar a Deus e a necessidade de, como famílias da aliança, apontarmos nossos filhos para a cruz.

Essa é apenas a introdução do livro que, então, vai ser dividido em duas partes (o que achei super didádico): fundamentos bíblicos e pastoreando através dos estágios da infância (que é uma parte bem prática, com dicas aplicadas às diferentes idades).

Na primeira parte, ele nos ajuda, também, a examinar nossos objetivos como pais na maneira como educamos e corrigimos nossos filhos, o que achei muito importante. Não podemos nos esquecer em nenhum momento dessa jornada de que somos, também, pecadores e carecemos da graça do Senhor. Além disso, precisamos levar em consideração o ambiente familiar e as pessoas que, de alguma forma, interferem na maneira como moldamos nossos filhos. Somos lembrados de que nossos filhos já nascem adoradores. A questão é quem eles irão adorar? A si mesmos? Os amigos? A popularidade? O entretenimento? Constantemente, construímos ídolos em nosso coração que precisamos destruir, mas, antes de destruí-los, precisamos identifica-los. Os pais são chaves preciosas para os filhos na identificação dos ídolos que eles constroem e colocam no lugar de Deus em seu coração. Recebemos, também, várias lições e dicas sobre comunicação e sobre dependência de Deus, afinal, se achamos que somos capazes de fazer tudo isso por nossos próprios méritos, teremos um problema sério. Finalmente, ele fala sobre o uso da vara como disciplina bíblica. Esse capítulo pode não ser o mais popular do livro, mas é bíblico e abre nossos olhos para quantas vezes acabamos sendo omissos por não aplicar disciplina bíblica na vida dos nossos filhos. Antes de seguir para a segunda parte, ele discorre sobre alguns métodos não bíblicos e sua má influência na vida das famílias.

Na segunda parte, ele divide as fases de desenvolvimento da criança em duas partes: infância e adolescência. Somos, então, instruídos em como listar objetivos e alcançá-los através de pastoreio e disciplina (que também é considerada pastoreio). Essa parte é mais prática e nos ajuda muito a corrigir o que temos feito de errado e a adotar novas maneiras de fazer aquilo que Deus nos chamou para fazer: ensinar nossos filhos a amar a Deus sobre todas as coisas e adorá-Lo com todo o seu coração.

Por fim, cada capítulo tem um guia de estudo com perguntas que nos ajudam a pontuar os problemas e as soluções, além de nos ajudar a planejar e, como pais, concordar na melhor maneira de abordar o problema do coração dos nossos filhos: o pecado.

Esse livro, sem dúvida, foi uma ajuda preciosa na educação de meus três filhos. Ainda é. Não podemos nos esquecer de que não existe nada mais importante para ensinarmos aos nossos filhos do que o temor do Senhor e a submissão a Ele. Precisamos fazer isso desde cedo e sermos incansáveis, sabendo que, no Senhor, nosso trabalho não é vão.

Pastoreando o Coração da Criança, escrito por Tedd Tripp, lançado pela Editora Fiel.

Equipe MP

Casada com Charles Oliveira, mãe homeschooler de Pedro (21), Laura (16) e Davi (12), dona de casa, Representante de área para o Classical Conversations em Westchester, NY e membro da Orthodox Presbyterian Church em Mount Vernon, NY.