Qual o princípio onde isso se alicerça? Vejamos o versículo 23: Também o marido é o cabeça da mulher como também Cristo é o cabeça da igreja, como sendo este mesmo o salvador do corpo. O marido é o cabeça da mulher. Por isso devemos falar aqui aos homens; as mulheres, se quiserem, podem ou não, ouvir. O recado é o seguinte: Ao homem jamais é informado que ele é o cabeça da mulher, ao homem nunca é ordenado ser o cabeça da mulher. A Bíblia nunca disse ao marido: “Seja o cabeça da sua esposa!”. Sabe por quê? Porque o homem não precisa ouvir isso. Mas a esposa precisa, sim! A esposa precisa ouvir esta ordem de Deus na criação. Ao marido é dito outras coisas.

Então por que Deus diz a mulher, “seu marido é o seu cabeça”? Dissemos anteriormente algo referente a relação que existe entre a criação e redenção. A graça e a salvação restauram a criação. Tudo isso nos ensina que Deus quer que nós reflitamos a Sua imagem. O homem foi criado primeiro e seu chamado é para liderar. A mulher foi criada em segundo lugar e o seu chamado é para segui-lo, auxiliá-lo (Gn 2:18).

Mas é importante esclarecer algumas coisas com relação a isto. O relacionamento entre o que lidera e o que o segue não é que um está mais alto e o outro mais baixo. Não é um relacionamento de um superior a um inferior, não é um relacionamento de um empregador e um empregado, não é um relacionamento entre um pai ou mãe e um filho ou filha.

Já fiz bastante aconselhamentos conjugais. Quando um casal está diante de mim e estou tentando diagnosticar o problema que eles têm, e quando o marido expressa que o problema básico entre eles é que sua mulher não o reconhece como sua cabeça, fico preocupado. Então pergunto para o homem: “O que você quer dizer por “cabeça?”. Freqüentemente eu obtenho a seguinte resposta: “Ser o cabeça da casa significa que quem usa as calças lá sou eu, ou seja, eu tomo as decisões”. Mas não é isso que significa ser o cabeça. Ser cabeça significa aprender como morrer (Ef 5:25). Mas é claro que nossas esposas precisam aprender também como morrer. Elas precisam morrer para aquele impulso natural de uma asseveração pessoal do que são.

Conheci um casal em que a esposa tinha um PhD e o marido era um frentista em um posto de gasolina. Era um casal cristão e a esposa sempre demonstrou sua lealdade em “servir” a seu marido, e é isso que Deus ordena. Muitas esposas são mais inteligentes que seus maridos. Muitas têm mais capacidade de se expressar verbalmente que o marido; muitas são mais fortes que seus maridos, mas isso não importa. A esposa é chamada a seguir a liderança do marido e permanecer dependente dele.

Aqui é necessária uma palavra para as jovens que não são casadas: Você não deve casar-se com um homem a quem você não esteja disposta a seguir. Nós estamos tratando aqui de motivações para o casamento, e toda essa questão de namorar ou de cortejar é algo muito espiritual, e você precisa se lembrar que a iniciativa no o casamento pertence ao esposo. Será que o homem com o qual tenciona se casar é capaz de prover a liderança espiritual que você está disposta a seguir? Você tem que lembrar que o casamento jamais é ambiente para evangelismo. Ninguém deve casar com um descrente com o propósito de evangelizar. Casar “no Senhor” implica que seu cônjuge já é crente e que está pronto para ser o cabeça do lar. Lembre-se, no entanto, que a cabeça não faz tudo; a cabeça governa, dirige, mas as mãos fazem alguma coisa; o corpo faz o seu trabalho debaixo da liderança da cabeça, mas ainda assim existe cooperação no corpo como um todo. Então o marido e a mulher têm que conversar sobre assuntos relevantes como: como gastar o dinheiro, como criar filhos, etc. Juntos vão estipular prioridades para o lar, mas a esposa deve sempre ser respeitosa para como seu marido e para com a responsabilidade que ele tem diante de Deus.

Jesus está por voltar, e quando Ele voltar nós todos estaremos diante dEle. Quando Jesus partiu deixou-nos todo tipo de dons e talentos para nos utilizarmos deles. Um desses dons é o casamento. Ele nos deu uma esposa e lhes deu um marido e quando voltar Ele vai nos pedir contas de tudo isso. Ele vai dizer para você: “Eu lhe dei um marido; o que você cultivou, o que fez crescer e quais os juros em cima disso?”. As esposas cristãs precisam se lembrar que um dia darão contas a Deus. Deus vai perguntar a seu marido como é que ele funcionou como cabeça; ele vai ter que prestar contas a Deus diante disso. O marido é chamado para guardar a esposa, para protegê-la e provê-la. Mas a pergunta para as esposas é: “Você está ajudando seu marido a fazer essas coisas?”. Ou você é daquele tipo de mulher que não quer ser guardada, protegida, direcionada? O marido deve nutrir a esposa, alimentá-la. Mas tristemente existem esposas que não querem ser nutridas, não querem ser alimentadas pelo marido. Muitas vezes os maridos não podem cumprir o seu chamamento porque a esposa simplesmente não permite. A Palavra de Deus precisa ter livre curso de ação em nossas vidas porque é o único caminho para felicidade conjugal, é o único caminho para a realização e a alegria no casamento.

  • Padrão

“Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos” (v. 24).

Mais uma vez temos o privilégio de ver a conexão entre o casamento cristão e a igreja cristã. Como é que a igreja depende de Cristo? A igreja depende da Palavra de Deus e responde em oração. O âmago do ministério da igreja no mundo hoje, não é ser amigável, não é entreter as pessoas. A igreja é a única instituição na sociedade humana que é chamada e aparelhada para ministrar a graça Divina, e ela ministra essa graça através do que chamamos meios da graça. Os meios de graça são a pregação e os sacramentos. Se a igreja não fizesse outra coisa qualquer, se a igreja não tivesse outros programas, nenhuma outra atividade, exceto ministrar os meios de graça, ela já estaria cumprindo seu chamamento. Onde conseguimos encontrar a graça além da igreja, além do local onde o embaixador de Cristo se encontra? Tendo autoridade de Cristo e agindo em nome de Cristo ele declara para que seus pecados estão perdoados. Essa declaração não pode ser feita por qualquer um. Essa declaração deve ser feita por alguém que é autorizado para fazê-lo e é o ministro da palavra de Deus que abre a Palavra de Deus, que descortina a Palavra de Deus através da pregação, que demonstra a Palavra de Deus nos sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor. Mas o conteúdo da Palavra de Deus é o mesmo e está muito clara na pregação e nos sacramentos. É o seguinte: Em nome do Senhor Jesus, a todos que se arrependem dos seus pecados e em nome de Jesus, seus pecados estão perdoados. O corpo dEle foi partido e seu sangue foi derramado para completa remissão de pecados.

Esse é o ministério da Igreja, é o ministério da comunicação e nós temos nisso uma descrição do casamento. O coração que bate no casamento é a comunicação. Os problemas que enfrentamos como marido e mulher precisam ser conversados; mas fazer isso leva tempo. O relacionamento mais importante no mundo, nesse contexto, não é entre pais e filhos, mas sim entre marido e mulher. Antes de sermos casados nós costumávamos saber disso; na época que estávamos namorando, noivando ou nos cortejando, a única pessoa que estava em nossa mente era a nossa futura esposa ou futuro marido. Então nos casamos e Deus nos abençoou com filhos. E o que aconteceu? Paramos de namorar, paramos de sair como marido e mulher, paramos de conversar um com o outro porque achamos que existem muitas coisas a serem feitas e as crianças têm tantas necessidades. No entanto precisamos reservar tempo a sós para suprirmos as necessidades um do outro.

Aqui está o evangelho para as esposas. Sua alegria, sua realização, sua salvação como esposa cristã, não vem de olhar para si mesma, não vem da visão do padrão dos outros, mas vem do contemplar o relacionamento do Senhor Jesus e a Sua igreja. Quanto mais estudamos este relacionamento, quanto mais examinamos a dinâmica desse relacionamento, mais estaremos em posição de cumprir nosso chamado. Assim esposas e maridos serão abençoados para a glória de Deus, para a evangelização do próximo e para a vinda do Reino de Cristo.

Amém.

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* Este post é  a ultima de duas partes de uma Palestra proferida por Dr. Nelson Kloosterman no XIII Simpósio Os Puritanos/2004, publicado em originalmente no “Blog Projeto Os Puritanos“, re-publicado com permissão do Projeto Os Puritanos.

** Dr. Nelson Kloosterman é Pastor reformado (United Reformed Churches of North America). Professor de Ética e Novo Testamento no Mid-America Reformed Seminary, em Dyer, Indiana, USA). B.A. Calvin Coledge; B.D. Calvin Coledge; Th.D. Theological University of the Reformed Churches (Liberated) in the Netherlands.