Em 1 Pedro 3:1-6 temos o pano de fundo para o que vamos tratar acerca do chamado cristão para as esposas:

“Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos; para que também, se alguns deles não obedecem a palavra, sejam ganhos sem palavra, pelo procedimento de suas mulheres, considerando a vossa vida casta, em temor. O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos, mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranqüilo, que és, para que permaneçam as coisas Porque assim se adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam submissas a seus maridos; como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor; da qual vós sois filhas, se fazeis o bem e não temeis nenhum espanto”. 1 Pedro 3:1-6

”Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, usando bem cada oportunidade, porquanto os dias são maus. Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós em salmos, hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, sempre dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos”. Efésios 5.15-24

O que nós temos aqui é a aplicação do princípio externado no versículo 21: “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Isso nos ensina algo importante acerca do estilo da instrução de Paulo. A Bíblia sempre apresenta razões, argumentações, do porquê nós deveríamos fazer o que fazemos. Deus apela ao nosso raciocínio à nossa compreensão. Mas há um outro elemento no texto. A palavra de Deus nos apresenta as coisas mais práticas enquanto também nos apresenta as doutrinas mais gloriosas. Nada poderia ser mais prático do que aprender como o marido e a mulher devem se relacionar. Da mesma forma nada é mais glorioso que compreender como Cristo se relaciona com a igreja. É o que temos no texto diante de nós.

Poderíamos abordar este texto de três formas. No versículo 22 nós temos o Preceito Regulador; no versículo 23 nós temos o Princípio que estabelece o solo em que vamos pisar. No versículo 24 nós temos o Padrão Governador para o princípio de submissão.

  • Preceito

Existe um poema em que o autor usa a figura de um arco de lançar flechas. Ele compara o arco com sendo o marido e o fio do arco como sendo a esposa. O autor diz o seguinte: “Assim como o arco é para o fio, assim o homem é para a mulher”. Embora ela o curve, ela o obedece; um é inútil sem o outro. Será que entendemos? As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos. O cerne disso é: Esposas, sede submissas.

O texto acima nos diz que vivemos num ambiente de autoridade nos relacionamentos humanos. O apóstolo Paulo fala aqui do relacionamento entre marido e mulher, patrões e empregados, pais e filhos. São áreas pertencentes ao ambiente familiar, mas o que significa estar “sujeito a”, “ser submisso a”? É simplesmente o seguinte: A esposa jamais deve se encontrar numa posição de culpada ao agir independente do marido. Ela nunca deve fazer algo que esteja “fora do âmbito de”, ou independente do seu marido. Esse tipo de submissão não é igual à passividade, esse tipo de submissão não implica em que a mulher não possa dar a sua opinião, não significa que ela nunca possa abrir a boca, que nunca possa tomar nenhuma decisão, significa que todo o seu agir, revela que ela depende do marido.

Para uma outra parcela dessa instrução, temos que ver Colossenses 3.18: “Vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor”. Quando ele usa a expressão: “como convém no Senhor”, está querendo afirmar para nós que é algo que “se encaixa” no projeto de Deus. Isso foi como Deus bolou as coisas. Isso é natural. O que não é natural é a esposa agir independente do marido.

Antes de nós voltarmos para Efésios 5, vamos dar uma olhada em Tito 2.3-5 e ver várias características que ele nos mostra: ”as mulheres idosas, semelhantemente, que sejam reverentes no seu viver, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras do bem, para que ensinem as mulheres novas a amarem aos seus maridos e filhos, a serem moderadas, castas, operosas donas de casa, bondosas, submissas a seus maridos, para que a palavra de Deus não seja blasfemada”.

Repare que na igreja de Jesus Cristo as mulheres idosas casadas ou não, têm um chamado específico de Deus. Esse chamado é para ensinar. Aprendemos da Escritura que Deus não deu autoridade à mulher para ensinar ao homem na igreja. Mas aqui nós vemos que as mulheres têm um chamado para ensinar às outras mulheres. O que é que as mulheres idosas devem ensinar às mais jovens? O versículo 4 nos diz que elas devem ensinar as jovens recém-casadas a amarem seus maridos e seus filhos. Amar ao marido não é algo que vem naturalmente, é algo que precisa ser ensinado e assimilado. Muitos de nós tivemos o benefício de termos sidos criados num lar temente ao Senhor. Muitos de nós tivemos o privilégio de ver o evangelho ser “encarnado”, ser vivenciado pela atitude de nossos pais, mas nem todos de nós que tivemos essa benção. Para alguns, o aceitar a Cristo, o crer em Cristo, significou dizer “até logo” para suas famílias e não apreciaram a fé sendo vivenciada. Nesse contexto a igreja desempenha um papel fundamental. Se não crescemos dentro de um lar cristão que foi espelho para nós, precisamos aprender como nos comportar como mulheres cristãs, como homens cristãos.

Mulheres, quero desafiá-las a assumir essa tarefa de ensinar às mulheres mais jovens da igreja. Estejam preparadas para partilhar com as mais jovens como o evangelho trabalha com o caráter da pessoa, como ele mexe com o comportamento da pessoa. Mas há outros componentes na questão que vocês devem a passar para as mais jovens. No versículo 5 lemos que a mulher mais experiente deve ensinar às mais jovens a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas e sujeitas aos maridos. Se você é casada “no Senhor”, sua primeira lealdade é para com seu marido, amando-o e servindo-o. Você o “serve” sendo boa dona de casa, cuidando da organização do lar. No Brasil e nos Estados Unidos também, as mulheres cristãs enfrentam uma grande pressão, uma tentação de trabalharem fora, em muitas áreas. Entretanto isso se torna uma tragédia, especialmente quando há filhos pequenos. Eles têm de ser enviados para creches ou babás são admitidas para cuidar deles. Dessa forma os pais passam a responsabilidade de instruir e de criar os filhos a pessoas que muitas vezes nem crentes são. O trágico nisso tudo é que tantas mulheres cristãs têm a convicção de que irão encontrar sua verdadeira identidade fora do lar e não servindo dentro do lar. A Bíblia corrige isso nos lembrando que no casamento cristão a identidade da esposa é encontrada no serviço prestado ao seu marido (Pv 31:10-12 – “Mulher virtuosa, quem a pode achar? Pois o seu valor muito excede ao de jóias preciosas. O coração do seu marido confia nela, e não lhe haverá falta de lucro. Ela lhe faz bem, e não mal, todos os dias da sua vida”).

Mas há um outro ponto importante encontrado na última parte do versículo 5: “para que a palavra de Deus não seja blasfemada”. Muitas pessoas me perguntam qual a melhor forma da igreja evangelizar? Sabemos que no evangelicalismo moderno há muitos que adotam um programa específico de evangelização ou que preferem chamar um evangelista famoso para fazer concentrações evangelísticas, mas eu quero exortá-los no sentido de que a verdadeira forma de se evangelizar é o vivenciar o evangelho dentro da família. O mundo está de olho no comportamento da mulher, no seu relacionamento com seu marido. A vizinha ao lado pode lhe perguntar: “Por que você faz assim, por que você não dessa forma?”. Esta é uma oportunidade você dar uma resposta de acordo com a esperança que habita dentro de você. A essa altura você tem a oportunidade de apresentar o evangelho a sua vizinha de forma pessoal, prática e poderosa. Se sua vida revela o evangelho, você não precisa apresentar “quatro leis espirituais” para elas. Dê sua vida para essas pessoas, apresente-lhes sua vida porque ela provocará perguntas acerca do evangelho. É necessário gravar no coração o fato de que a forma como conduzimos nossas vidas, tem implicações fortemente evangelísticas.

Esse modo do viver cristão é importante para o mundo que não conhece a Deus. Vejamos algumas afirmações do contexto de Efésios 5 que têm a ver com um marido cristão e uma mulher cristã. Efésios 5.1-2; “Sede, pois imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como Cristo também vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”; Efésios 5.8: “… pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz”; Efésios 5.15: “Portanto, vede diligentemente como andais, não como néscios, mas como sábios“. Efésios 5.18: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito”.

Sabe qual a aparência de uma pessoa quando ela está cheia do Espírito? Não tem nada a ver com a dança litúrgica, com o espalhafato de expulsar demônios ou falar em línguas. Ser uma verdadeira esposa cristã pentecostal, ser uma esposa cristã realmente cheia do Espírito Santo e ter aparência de Efésios 5.22: “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor”.
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* Este post é  a primeira de duas partes de uma Palestra proferida por Dr. Nelson Kloosterman no XIII Simpósio Os Puritanos/2004, publicado em originalmente no “Blog Projeto Os Puritanos“, re-publicado com permissão do Projeto Os Puritanos.

** Dr. Nelson Kloosterman é Pastor reformado (United Reformed Churches of North America). Professor de Ética e Novo Testamento no Mid-America Reformed Seminary, em Dyer, Indiana, USA). B.A. Calvin Coledge; B.D. Calvin Coledge; Th.D. Theological University of the Reformed Churches (Liberated) in the Netherlands.