Em nossa caminhada com Cristo, no atual estado de imperfeição em que nos encontramos nesta vida, constantemente ferimos e somos feridas, quer por pessoas que não amam a Cristo, quer por aqueles já transformados pela Sua Graça. Essa situação inevitável nos remete a um exercício específico ordenado pelo Senhor, mas muitas vezes negligenciado por nós: o perdão.  Embora pareça algo simples e trivial, o ato de perdoar, como Deus requer de nós, não é fácil e natural, e a falta de discernimento acerca desse exercício salutar tem conduzido muitas pessoas a uma situação de cativeiro espiritual e emocional.

Nesse contexto, essa preciosidade escrita por Nancy Leigh DeMoss, cai como uma luva e nossas mãos. Escolhendo o perdão, da editora Vida Nova, traz uma reflexão sistemática acerca do que é e do que não é o perdão, à luz das Escrituras. Muitas pessoas, assim como eu, podem se considerar pessoas “facilmente perdoadoras” e assim, achar que essa obra tem pouco a lhes acrescentar de maneira prática. Mas será que esse “perdão” é de fato o perdão bíblico restaurador? Será que de fato alguém pode realmente ter essa facilidade inata de perdoar?

UM BREVE RESUMO

O perdão se refere a pessoas magoadas que, quando não escolhem esse caminho ordenado pelo Senhor, desenvolvem, conscientemente ou não, raízes de amargura. Logo, ao se tratar de uma escolha, fica evidente que essa semente amarga não é uma fatalidade. Quando decidimos nos posicionar como cobradores de dívidas daqueles que pecaram contra nós, acabamos alimentando ativamente essa árvore maligna do rancor que só nos aprisiona. É como beber veneno e esperar que o outro morra. Por outro lado, quando escolhemos o perdão de modo intencional encontramos a liberdade. “O resultado de nossa vida não é determinado por aquilo que acontece conosco, mas pelo modo como reagimos àquilo que acontece conosco.” (pág.31).

Ademais, por pior que seja a situação sofrida, não podemos compará-la a ofensa que primeiramente fizemos a Deus. O Senhor Jesus de maneira brilhante ilustra essa Verdade na Parábola do Credor incompassivo em Mateus 18, onde nos é dito, que o servo inclemente foi entregue aos carrascos (v.34). Do mesmo modo, quando não exercemos o perdão, somos entregues a carrascos que nos atormentam: distúrbios crônicos mentais, emocionais e físicos. Somado a isso, adoecemos também da alma, já que temos dificuldade de experimentar o amor e o perdão de Deus por não estarmos cumprindo o que Ele nos ensina na oração do Pai nosso: “Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos os nossos devedores”.  Sem contar que com essa desobediência colocamos Satanás em vantagem contra nós.

Diante disso, nossa postura deve ser a de deixar para trás. Não cobrar o pecado. Tomar a decisão intencional de deletá-lo. No entanto, não devemos presumir que o perdão é uma atitude meramente superficial. Para exercer o perdão bíblico temos que tomar como base a cruz de Cristo; um alto preço foi pago para que os nossos pecados fossem perdoados. O calvário demandou uma agonia que não temos condições de compreender plenamente. De igual modo, se devemos perdoar como ele nos perdoou não será algo fácil e gratuito. Será difícil, custoso e doloroso.

Com isso em mente, precisamos discernir o que não é perdoar. Primeiramente, não é ter sentimentos agradáveis pelo ofensor. O perdão, como já foi dito, é uma escolha, os sentimentos frequentemente não são. Por isso o perdão não pode ser comprovado, motivado ou possibilitado por eles. Em segundo lugar, perdoar não significa esquecer. Quando a Bíblia diz que Deus não se lembrará mais dos nossos pecados (Hb.10.17), não significa que Ele os esqueceu, mas que Ele escolheu não lembrar deles contra nós, não voltar a mencioná-los, não nos acusar e condenar por eles. Até porque, a lembrança de feridas é útil para ministrarmos aos que sofrem (2 Co.1.3-4). Por último, o perdão não é um longo processo e não requer a cura completa para ser efetivado.  De fato, a cura da mente e das emoções leva tempo e implica um processo de crescimento e amadurecimento, mas se esperarmos até estarmos restaurados plenamente para perdoar, é provável que nunca o faremos. O perdão pontual é seguido de um processo de cura e não o contrário.

O perdão, portanto, deve ser um modo de vida, um hábito de quem expressa confiança total no poder de Deus, que vive uma vida tolerante e transigente para com o próximo, e se preocupa mais com seu chamado do que com o seu conforto. “O exercício de transigência em questões menores do cotidiano é uma prática importante e uma forma de nos prepararmos para oferecer perdão em questões maiores que certamente surgirão.” (pág. 142). O perdão é muito mais do que abrir mão da vingança contra nossos ofensores, ele inclui oferecer a graça de Deus e construir pontes de amor para retribuir maldição com benção, mal com bem.

“Amai aos vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam e orai pelos que vos maltratam” (Lc. 6.27-28).

No final do livro há um guia de estudos com algumas dicas e sugestões de aprofundamento e reflexão acerca dos assuntos abordados nos capítulos, tornando uma excelente opção pra estudos individuais e em grupo. É uma leitura fácil, prazerosa e fluente, com uma linguagem simples e gentil. Ao mesmo tempo em que maximiza a importância do perdão frente ao que temos recebido de Deus, não minimiza as situações particulares que nos levam a necessidade de exercê-lo, sendo respeitosa e delicada, como uma mãe sábia aconselhando suas filhas amadas.

Super recomendado!

Equipe MP

Nancy DeMoss Wolgemuth é casada com Robert Wolhemuth. Ela é a apresentadora do Podcast “Revive Our Hearts” e “Seeking Him” ouvido em quase 1.000 estações de rádio. DeMoss é formada em piano na Universidade do Sul da Califórnia. Ela tem vários livros, CDS e DVDs com palestras de sua autoria, e os usa para promover avivamento pessoal e em grupo, e auxiliar mulheres a desenvolver um relacionamento mais íntimo com Deus.