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O mais recente filme da Marvel, Capitã Marvel, não pode ser acusado de esconder suas reais intenções. Nas próprias palavras da atriz principal, “é mitologia, é história, é a experiência humana em grande escala. Além disso, eles disseram [os diretores e os poderosos da Disney] que querem fazer tipo o maior filme feminista de todos os tempos”. Escrito por mulheres e dirigido por uma mulher, Capitã Marvel espera ser para as mulheres o que Pantera Negra foi para a comunidade negra.

Mas então quem é a Capitã Marvel? A evolução da Carol Danvers para a poderosa guerreira foi progressiva. Na história original, lançada em 1968, a personagem era na verdade o Capitão Marvel, um alienígena masculino com o nome de Mar-vell, e a Sra. Danvers, uma ex-oficial da Força Aérea, era namorada do herói. Conforme o movimento feminista dos anos 70 avançava, também avançava sua visibilidade. Logo ela se tornou a super-heroína conhecida como Sra. Marvel (“Sra.” em homenagem a Glória Steinem). De acordo com quem a escreveu, a Sra. Marvel era “um modelo de feminista”. Ela eventualmente se tornou a Capitã Marvel na versão de 2012 dos quadrinhos.

O filme mostra a sua jornada de autodescobrimento após sofrer uma perda de memória. Ela se encontra em um planeta desconhecido e precisa recuperar sua identidade como mulher e heroína. A personagem, nas palavras de Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, “tem sido privada a maior parte da vida de conseguir as coisas que deseja. É constantemente dito a ela: ‘Meninas não podem fazer isso’, ‘Meninas não podem fazer aquilo’ ou ‘Isso é muito perigoso pra você; você vai se machucar’. Esse filme fala muito sobre o aprendizado da personagem de não se privar e não aceitar os limites impostos sobre ela”.

Com o destino do Universo Marvel em jogo, sua tão esperada salvadora e protetora feminina se prontifica para enfrentar o aparentemente invencível Thanos. Em um mundo de Vingadores quase que imbatíveis, repleto de deuses, guerreiros, reis e assassinos, nós esperamos que a Capitã Marvel salve o mundo de um inimigo que Thor, Homem de Ferro, Capitão América, Pantera Negra, Homem-Aranha e Hulk não conseguiriam derrotar coletivamente. De acordo com Feige, nós chegamos a era da Capitã Marvel (a nova cara dos Vingadores), que é “a mais poderosa personagem do Universo Cinematográfico da Marvel”. Porém, para se tornar a esperança do Universo Marvel, ela tem que, primeiramente, se libertar de tudo o que a limita.

A Declaração de Danvers

Eu não culpo a Marvel por inserir a moda da agenda feminista em seu universo. Onde mais essa ideologia lucrativa — que contrasta tão descaradamente com a realidade — pode se sustentar se não em um universo alternativo? Verso após verso, história após história, fato após fato, estudo após estudo, exemplo após exemplo dissipa o mito da igualdade entre os gêneros. Porém, o universo alternativo onde um acidente infunde a heroína com poderes sobre-humanos parece servir como uma apologética razoável à agenda feminista.

Mas então o filme superou as expectativas?  Chegou perto de ser “o filme mais feminista de todos os tempos”? Por mais que eu tente, não consigo imaginar como. O filme não foi o pior que eu já vi, mas está galáxias distante de ser o melhor. Talvez um filme apropriado para a Netflix.

Lamentando a Nova Rainha Disney

Conforme eu reflito na nova representação de feminilidade da Disney em Capitã Marvel, não tenho como não lamentar. Quão distante estamos dos dias em que buscávamos proteger e valorizar nossas mulheres.

O grande rufar de tambores do filme anterior dos Vingadores foi levado a isto: uma mulher protegendo os homens e salvando o mundo. O mais poderoso de todos os Vingadores — que certamente deu origem ao nome “Vingadores” — é a princesa armada que se torna uma rainha feminista, a qual desce da torre para fazer o que o príncipe encantado não conseguiu.

Estou sendo muito crítico? Afinal de contas “é só um filme”. Quem dera fosse. Em vez de nos envolvermos na ideologia do filme como se fosse mera ficção, um escape divertido para um novo mundo, temos permitido que ela leve frutos mortais à nossa terra. Junto com a Disney, abandonamos a linha da princesa tradicional e passamos a querer empoderar garotinhas em todos os lugares para serem fortes “como homens”. Cinderela trocou seu sapatinho de cristal por botas de combate; Bela, seus livros por uma bazuca. Será que a insanidade já não nos incomoda?

Ela Não Será Satisfeita

A ideologia que faz com que Brie Larson eleve-se ficcionalmente no espaço tem levado nossas filhas, mães e irmãs reais — destituídas de superpoderes — para servir e morrer na guerra no lugar dos homens. Guerras reais, do tipo em que “homens terrivelmente arrebentados continuam se movendo como besouros meio-esmagados” (extraído do livro Surpreendido pela Alegria de C. S. Lewis). Guerras reais, do tipo que C. S. Lewis, em outro lugar, descreve como a junção de todos os males temporais.

Deveríamos lamentar que a avidez feminista não possa ser satisfeita, nem mesmo com sangue. Ela toma as filhas e, agora, ludibriando os homens, consegue advogar para também lançar suas mães em direção às chamas.

Inquestionavelmente, os homens deveriam apoiar o desejo das mulheres de serem respeitadas e honradas. Mas, de fato, poucas ações demonstram mais nossa determinação de honrar nossas mulheres do que excluí-las da carnificina dos campos de batalha. Onde podemos mais claramente demonstrar nossa determinação principal de amar nossas mulheres como rainhas do que entrando no “inferno na terra” como guerreiros sacrificiais em sua defesa? Geração após geração tem mobilizado seus homens a serem devorados — o que suas mulheres não devem ser.

A agenda feminista, por outro lado, não tolera essa exclusão. A agenda feminista nunca será propagada por meio de mensagens como “você não pode”, “você não vai”, “você não deve”. Mesmo quando nós, homens, dizemos coisas como: “Você não pode ir à cova dos leões por nós”; “Você não vai se arriscar morrer brutalmente por nós”; “Você não deveria se expor às balas carregando nossos nomes” — ainda assim, a privação é vista como ofensiva. Mas nosso Deus, nossa natureza e nosso amor devem dizer firmemente: “Você é muito preciosa, minha mãe, minha filha, minha amada. É minha glória morrer para que você possa viver”.

Marvel de Fato

Sim, a Marvel pode estar prestes a arruinar a saga de uma década fazendo política sobre identidade. Mas e daí? Será que vamos nos incomodar mais com isso do que com o governo enviando nossas filhas — privadas de golpes eletromagnéticos e capacidade de voar — para lutar nossas guerras? Nós costumávamos ser atentos o suficiente para saber o quão vergonhoso é para o homem se esconder atrás de sua mulher, esperando que ela derrube Golias. Será que nos esquecemos de quão preciosas são nossas mulheres? Será que esquecemos que é nossa glória morrer em seus lugares? A história de Deus por toda a eternidade consistirá em um Filho que matou um Dragão para salvar a Noiva. Jesus não colocou as mulheres à sua frente, e nós, homens, não deveríamos também. Onde Adão falhou, Jesus triunfou. Ele é o Bom Pastor que entrega a vida por suas ovelhas.  Mesmo na cruz, com a ira de Deus o esmagando, ele cuidou do bem-estar de sua mãe (Jo 19.26-27). Será que devemos tão covardemente enviar nossas mulheres para proteger a nós e a nossas crianças? Proteger nossas mulheres com nossas próprias vidas não diz respeito à competência delas, mas sim ao seu valor.

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Fotos de Greg Morse

*Esse artigo foi originalmente publicado no blog Desiring God , traduzido com permissão do editor.

**Greg Morse é um escritor da equipe de funcionários para desiringGod.org e graduado de Bethlehem College & Seminary . Ele e sua esposa, Abigail, moram em São Paulo.

***Traduzido por: Adriana Araújo. Revisado por: Rebeca Falavinha