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Durante a maior parte da história, o processo de educar as crianças ocorreu na família nuclear e ampliada. Essa foi a educação praticada na maior parte do tempo da nossa história e a educação apropriada para a vida. Tanto é assim que retirar o indivíduo do seu núcleo familiar é violar o direito mais básico à vida. Toda criança e adolescente tem direito a ser criado e educado por sua família e, na falta desta, por família substituta. O direito à convivência familiar e comunitária é tão importante quanto o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade. A nossa constituição diz que a “família é a base da sociedade” (art. 226).

Mas para além dessas questões, o que nos importa saber é que aquele que ensina forma a base sobre a qual deixará o exemplo que conduzirá o aluno pelo resto da vida. Na verdade, educação é apenas uma palavra moderna para discipulado, que é um processo lento e diário de plantar sementes nos corações e nas mentes dos jovens. Ela abrange todas as áreas da vida e não somente o intelecto. Requer tempo diário, vigilância e diligência.

Educar é um estilo de vida que requer uma imitação literal do mestre. Como falamos outra vez aqui, é errado definir educação como preparação para a vida, pois aprender é a vida. O Senhor disse em Dt 6: 6-9 que o ensino é um processo diário apreendido nas conversas corriqueiras, nas atividades mais básicas do dia a dia como deitar, sentar, levantar-se.

Christy Anderson, uma mãe educadora, disse que “quem educa, discipula aquela geração”. Infelizmente, em algum lugar dessa história, nós perdemos de vista o propósito bíblico da educação, que é a principal fonte do processo inicial de discipulado e amadurecimento de uma criança. Alguns têm comprado a premissa do mundo que afirma que a educação está desconectada do que é moral ou até mesmo espiritual. Mas a verdade é que somos um todo no qual cada parte do nosso ser está integrada uma com a outra de forma totalmente entrelaçada. Toda educação começa com o respeito, ou o temor, a alguma forma de sistema

de conhecimento. O temor a algum “deus” é o princípio de cada sistema de conhecimento proposto, como afirmou Nancy Pearcey em Verdade Absoluta. As culturas da antiguidade que praticaram uma educação baseada no enaltecimento do indivíduo ou Estado se perderam porque as crianças não eram ensinadas tendo Deus como a base do conhecimento: Suméria, Acádios, Babilônios, assírios, gregos e romanos são um exemplo disso.

Para nós, de herança judaico-cristã, a educação começa com o temor do Senhor, ele é o ponto de início, a base da construção do nosso saber. Provérbios 9:10 diz: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência.”

E vejam: educação e discipulado está no coração da Grande Comissão . Jesus disse:

“ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” Mateus 28:19,20

Dito isto, há algumas autoridades que reconhecemos que devem e podem transmitir o conhecimento entre as gerações. São os pais, os tutores e instituições de ensino.

Comecemos com os pais.

Quando estudamos as civilizações antigas, observamos que o conhecimento era passado de uma geração a outra geração. Os hebreus colocavam a responsabilidade da educação ou treinamento infantil sobre os pais. Era uma educação voltada para o relacionamento.

Tudo indica que o próprio Jesus tenha sido formado, educado no lar. Vejam o que diz João 7:14,15:

“…no meio da festa subiu Jesus ao templo, e ensinava. E os judeus maravilhavam-se, dizendo: Como sabe este letras, não as tendo aprendido?”

Em um dos seus Comentários MATTHEW HENRY disse que “nosso

Senhor Jesus não foi educado nas escolas dos profetas, ou aos pés do rabino; não viajou para aprender, como fizeram os filósofos, não fez uso das escolas e academias de seu próprio país.”

E, faço um parênteses aqui. Vejam que belo: quando Deus enviou seu Filho ao mundo, Ele o fez no momento da história em que o aprendizado mais floresceu. Tanto no império romano quanto na religião judaica, mais do que em qualquer época anterior ou posterior, a educação era intencionalmente feita e buscava não somente perpetuar costumes familiares, como principalmente instigar o conhecimento a respeito da vida como um todo. MATTHEW HENRY diz que foi nessa época que Cristo escolheu estabelecer sua religião, não em uma era analfabeta, para que não parecesse impor ao mundo sua mensagem.

Voltando, fomos chamados por Deus para dar nossas vidas pelos filhos.

“Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos.” 1 João 3:16

Temos o dever sacerdotal de proclamar o Evangelho aos filhos para que eles se tornem uma oferta agradável a Ele. Paulo, aos romanos, ressalta sua confiança nos crentes que eles eram “cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros” (Rm. 15:14). Da mesma forma, os pais também são competentes para ensinar seus filhos. Não é apenas outra tarefa que praticamos ou podemos praticar em casa – talvez seja a única tarefa que nos define como pais que seguem Jesus, e o valor eterno disso deve nos trazer grande alegria.

Mas é preciso preparo. Deus exige dos pais preparação. Veja o que Deus disse ao seu povo aravés de Oséias:

O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.

Oséias 4:6

Deus nos prometeu que nos equiparia com o poder e com as ferramentas certas

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. 2 Timóteo 3:16,17

Crianças são dadas aos pais. Se eles têm o dever de sustentá-las, de prover suas necessidades físicas, emocionais e espirituais, eles também têm a primazia na educação dos seus filhos. A infância é o período de tutela que deve ser feita por aqueles que valorizam a singularidade da pessoa e por quem mais a conhece.

Crianças crescem e suas necessidades mudam, mas os pais continuam como responsáveis naturais e os que têm o dever e o direito de dirigir esta educação.

Com isso em mente, esses pais podem se valer de tutores que o auxiliem no processo.

Esses tutores são orientados e supervisionados pelos pais. Esse modo de aprender foi também muito comum no período antes da Revolução Industrial. Filhos recebiam a instrução formal em casa, antes de assumirem suas funções no mundo.

Os tutores podem ser professores, que atendem presencialmente ou à distância, instituições de ensino individualizadas ou não, plataformas, ou o que quer que auxilia na busca pelo conhecimento.
Novamente faço menção dos hebreus. Quando cresciam, esses jovens poderiam ser instruídos também por rabinos e mestres.

O que é importante destacar é que o objetivo da educação dos hebreus era o treinamento do indivíduo no serviço de Deus. Esta educação nunca perdeu seu senso de direção, pois sua intenção não era a educação no conhecimento acadêmico e técnico meramente, mas a educação na santidade. Embora o povo de Israel frequentemente esquecesse esses ideais, sempre havia profetas, escribas, sábios, rabinos e professores para lembrá-los. Deus e não o homem era o centro; retidão, não interesse próprio era o objetivo. Êx 19: 6 diz: E vós me sereis reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.”

Os tutores precisam estar afinados com a visão de mundo da família e assim a singularidade de cada grupo familiar poderá ser mantida numa sociedade plural e livre.

Finalizando, a educação começa sim em casa e nela permanece até que os jovens estejam preparados para assumirem suas próprias responsabilidades no mundo. Tudo começa no lar, na esfera pessoal e privada, e nesse lugar está também nosso principal dever perante a sociedade que é educarmos crianças e jovens para a vida responsável e digna no mundo, vida que redunde em glória ao nome de Deus.

A deseducação de uma classe de pessoas é, em proporções ampliadas, a falta de educação de uma família que rejeitou o seu papel educador no lar. Ao fugir desta responsabilidade também estamos ensinando: ensinamos a não assumir nossos deveres mais básicos, transmitimos aos filhos a lição de que o mundo deve assumir aquilo que produzimos por escolha pessoal. E assim passamos ao mundo não somente nossos filhos, mas a liberdade de criá-los para a liberdade.

A Revolução Industrial com certeza trouxe muitos benefícios ao homem, mas trouxe consigo uma série de novos modos de vida que colocou em xeque a autoridade da família na condução da educação dos filhos. Pais saíram dos lares em busca de empregos nas cidades. Salários altos à custa de menos tempo com os filhos. Como educar esses meninos se os pais não estavam em casa? Disso veio o declínio da figura do pai como principal instrutor do lar, como também denegriu o nobre papel que a mulher desempenhava ao lado dos seus filhos em casa.

A igreja passou a atuar como discipuladora espiritual, e ao mundo as crianças foram jogadas para aprenderem com seus pares e lideradas por figuras de autoridade controversas. Educação não pode ser padronizada, simplesmente porque as crianças não são iguais. Quanto mais igual é a oportunidade, mais desigual é a realidade porque somos desiguais.

Segundo a Palavra, o professor das crianças são os pais. A ordem é dada a eles.

Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar.

Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida.

Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?

E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?

Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos filhos de teus filhos.

Deuteronômio 4:5-9

Mas Deus também inspira homens para ensinar e estes são aqueles tutores sobre os quais falei. Veja em Êxodo 35:31-34. Deus capacitou a Aoliabe no trabalho e também deu-lhe o desejo de ensinar aquelas habilidades.

E o Espírito de Deus o encheu de sabedoria, entendimento, ciência e em todo o lavor,

E para criar invenções, para trabalhar em ouro, e em prata, e em cobre,

E em lapidar de pedras para engastar, e em entalhar madeira, e para trabalhar em toda a obra esmerada.

Também lhe dispôs o coração para ensinar a outros; a ele e a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã.

Sim, Deus tem tutores e mestres para ensinar nossos filhos! Oremos para que, no tempo certo, Ele nos mostre onde eles estão.

Que o Senhor nos ajude a entender que temos um patrimônio histórico para transmitir, uma herança ética e um compromisso com a instrução para a vida de santidade na sociedade, para a glória e louvor de Deus. Filhos são herança do Senhor e um dia prestaremos conta do que fizemos com esta herança. Deus te capacitou, pai e mãe, para cumprir tão nobre missão!

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Adna Souza Barbosa é casada há 16 anos com Luciano Barbosa. Eles moram em Recife e têm 3 filhos. Congregam e cooperam na Assembléia de Deus como professores da Escola Bíblia Dominical na classe de adultos. Radialista, musicista e flautista por formação, desde que casou, dedica-se a educar seus filhos em casa. Atualmente é tutora do Programa Essentials na Comunidade do Classical Conversations em Recife, da qual seu esposo é o diretor. Recentemente começou a produzir o Classical Conversations Cast. É também a escritora do blog Feminina Mulher (www.femininamulher.com.br) e autora do livro “Socialização escolar: a socialização que não deu certo”.