Fonte da Imagem: Harry Anderson Art

Um dia desses eu conversava com uma mãe de primeira viagem que tinha muitas dúvidas. A maioria delas era sobre o quanto seu bebê realmente entendia das ordens que lhe eram dadas. Lá pelas tantas, porém, o assunto tomou outro rumo. Ela confessou, em tom tristonho, que se pegara várias vezes, disciplinando sua filha como forma de aliviar a irritação que a desobediência da menina lhe causara. Que mãe nunca agiu assim? Quem de nós nunca corrigiu um filho por se sentir afrontada, frustrada ou envergonhada?

Lutando contra as emoções

Se existe um momento da vida de uma mãe em que ela não pode ser vencida pelas emoções é justamente o momento da disciplina. Sua razão precisa comandar. Nossos filhos não são sacos de pancadas, nem a disciplina proposta nas Escrituras é uma válvula de escape para nossos desapontamentos maternos. Sim, nossos filhos nos instigam, nos irritam, nos incomodam. E por vezes fazem isso de propósito! Então, como podemos lidar com o desgosto que as atitudes deles causam em nós? Como vencer a ira, quando vemos nossos filhos pequenos nos provocando? Como discernir os sentimentos que vêm como um turbilhão dentro de nós?

Lidando com as emoções pecaminosas

Nós mães precisamos criar o hábito de não agir por impulso na questão da disciplina dos filhos. Precisamos nos lembrar que também devemos ter disciplina ao controlar nossas emoções e agir de maneira bíblica e adequada em cada situação. Precisamos sempre “contar segredos” a nós mesmas, sempre nos lembrar de grandes verdades e repeti-las ao nosso coração. Não foi assim que Jesus agiu quando foi tentado no deserto? Este é um grande ensinamento para lidarmos com nossas tentações: não importa o tamanho da tentação, não importa o calor do momento, não importa o quanto meus instintos gritem para que eu reaja de forma pecaminosa! Devo responder a tentação com as verdades eternas das Escrituras, como fez Jesus no deserto!

Portanto, quando nossos rebentos estiverem nos provocando, desobedecendo ou enfrentando frontalmente nossa autoridade, não podemos reagir como o homem natural reagiria, com ira e exasperação. Este é o momento de voltar nossos olhos para a Palavra de Deus e nos lembrar dos motivos pelos quais precisamos corrigir nossos filhos. Trazer a mente cativa à Palavra de Deus, não às nossas emoções e sentimentos, nos ajudará a ter controle e domínio próprio. Manterá nossos objetivos claros e mais facilmente poderemos obter êxito na disciplina de filhos. E aqui está um belo motivo de oração para constar sempre em nosso caderninho!

Tendo os olhos fitos nos céus 

Lembrar que estamos falando de um assunto de vida ou morte pode nos ajudar a ver a disciplina bíblica de forma mais séria e adequada. Não estamos corrigindo nossos filhos apenas para que eles nos respeitem e sejam homens de bem. Não os estamos disciplinando para que nos deem sossego e nos deixem seguir com as atividades diárias. A finalidade da disciplina bíblica dos nossos filhos é muito mais elevada que isso. Estamos formando homens e mulheres para o Reino de Deus! Estamos preparando-lhes para viverem de forma santa num mundo ímpio. Por isso devemos nos cuidar, nosso alvo é elevado demais. Todo esforço e empreendimento nesta causa ainda serão poucos. Além disso, o tempo corre, voa. A eternidade precisa estar sempre diante dos nossos olhos. Richard Baxter falou aos jovens filhos nestas palavras:

“Ponha seu coração no céu e faça disso o projeto de toda a sua vida(…) Lembre-se que logo que começa a viver, você corre em direção ao fim de sua vida, assim como a vela corre logo que começa a queimar; e a ampulheta, logo que é virada, escoa-se e se apressa para o seu fim. Assim, logo que começa a viver, sua vida está sendo consumida, e com aviso para a hora final. Como o corredor que assim que começa sua corrida se apressa para o fim dela, assim acontece com sua vida, mesmo quando você é mais novo.”

Se o fim é próximo e inevitável, se estamos sempre a um passo de prestar contas ao Rei eterno, se não temos controle sobre quanto tempo ainda teremos à frente para instruir nossos filhos, não é urgente que façamos nosso trabalho de forma tão responsável e santa quanto pudermos? Não te parece, sob esta ótica, que procrastinar e protelar a disciplina dos filhos ou ser precipitada e impetuosa pode se constituir um sério dano às suas almas? A depender do que está em jogo, nosso empenho deve ser ajustado. Pois o que está em jogo na disciplina de nossos filhos é o seu destino eterno, por isso, nosso foco deve estar harmonizado com tão nobre e grave tarefa!

“Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.” Provérbios 23. 13-14

A disciplina de Deus deve ser o espelho

Deus vos trata como filhos!
“É para disciplina que perseverais; pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos.” Hebreus 12. 7-8

A mesma relação que Deus tem para com o seu povo, deve ser a que temos com nossos filhos. Ele é o Pai por excelência, Ele é o verdadeiro Pai e nos ensina como agir.

“Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o Senhor, teu Deus” Deuteronômio 8.5

Perceba que a disciplina é o ponto que demonstra que um homem é o pai daquelas crianças. Não nos preocupamos em corrigir os rumos dos filhos do vizinho. Não é problema nosso. Mas os nossos filhos estão debaixo da nossa tutela. A direção que damos e a correção mostram que estamos preocupados com eles, pois estão ligados a nós por laços parentais.

É assim que Deus se relaciona com seu povo. Ele não finge que não vê o pecado, mas também não é injusto ou irritadiço em suas correções. Ele tem um objetivo bem delineado e não se distrai com sentimentos periféricos, como nós. O alvo dele, segundo o autor de Hebreus, é que sejamos participantes da sua santidade e para isso ele nos exorta, aplica sua vara e nos surra, sempre em justa medida.

Paulo, por exemplo, aprendeu que a disciplina de Deus nos aperfeiçoa e nos coloca em nosso devido lugar, quando recebeu aquele espinho na carne. A disciplina tinha um objetivo bem claro na vida dele. (2 Coríntios 12.7)

Paulo sabia que a correção de Deus era justa e necessária, mesmo quando não entendia o por quê. Ele pedia que a disciplina parasse, mas confiou na resposta que recebeu: “A minha graça te basta”. Esta é outra preciosa lição que devemos dar às crianças. Eles devem aprender a confiar nos motivos santos de seus pais, e mais tarde eles reconhecerão que a disciplina exerceu benefícios em suas vidas, como Paulo o fez:

“Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do evangelho; de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus.” Filipenses 1.12-14

A dura disciplina na vida de Paulo contribuiu para o progresso do Evangelho!

Como motivos tão nobres podem coadunar com nossos sentimentos de raiva, frustração e vergonha, que muitas vezes são a causa de corrigirmos nossos filhos. Entende como isso é mesquinho? Nossa tarefa é grande demais para sermos levadas pelos hormônios e pelas variáveis emocionais do nosso dia a dia! Todavia, mesmo sabendo a grandiosidade de nossa missão como pais, nós cometemos erros.

Continua…

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simone* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro. Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas, Israel, Davi e Júlia. Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.