Tenho certeza absoluta que depois do título deste artigo, muitas mulheres sequer continuarão a leitura! Tenho convicção de que tratar deste assunto em pleno século 21, parece anacronismo- olhar para o passado com olhos contemporâneos. Meu convite para você, ao ler este texto, não é para que você se volte para o exemplo de sua mãe ou de sua avó. Não quero propor uma análise de costumes do passado à luz do nosso mundo pós-moderno. Meu desejo é para que juntas, avaliemos o que as Escrituras dizem. Esta análise sim, vale a pena, afinal, a Palavra de Deus é infalível, inerrante, suficiente e ATEMPORAL!

O conceito de depender de alguém pode parecer repugnante para uma mulher que nasceu e foi criada numa cultura feminista. Se você tem menos de cinqüenta anos de idade, se enquadra neste grupo: mulheres que cresceram num mundo dominado por conceitos e ideologias extremamente feministas, mesmo que estes venham sob a capa mais inocente de “liberdade e direitos” das mulheres. Tendo sido criada neste contexto, depender de alguém pode soar mal para você. Que tal, então, vermos o que as Escrituras falam sobre este assunto? Será que realmente fomos criadas para a autonomia? Será que o alvo de Deus para nós é a independência, o autogoverno?

Em Efésios 5: 21, Paulo ordena: “…enchei-vos do Espírito”. O apóstolo vai além e diz COMO podemos viver uma vida piedosa, que nos encherá com seu Santo Espírito: “falando entre vós com Salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, SUJEITANDO-VOS UNS AOS OUTROS NO TEMOR DE CRISTO.” (versos 19-21). E depois deste impressionante chamado à sujeição mútua geral entre os crentes, Paulo prossegue o texto divinamente inspirado, demonstrando a sujeição vocacional: “As mulheres, sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor…” (verso 22). Como uma mulher pode obedecer a estas duas ordens – sujeitar-se uns aos outros no temor de Cristo e ser submissa ao marido – sendo autônoma? Como os conceitos de auto-suficiência e liberdade feminista podem se encaixar na ordem para a sujeição mútua? Simplesmente não pode! Ou abandonamos de vez o conceito mundano de independência, ou abandonamos a Bíblia e o Evangelho!

No decorrer do texto que lemos e no capítulo 6, Paulo continua mostrando como somos cheios do Espírito Santo ao vivermos vidas santas e obedientes. Os maridos dando suas vidas pelas esposas, os filhos obedecendo aos pais, os pais não provocando os filhos à ira, os servos obedecendo aos senhores, os senhores tratando os servos com dignidade, pois são iguais perante Deus. Onde podemos ver, nesta lista descritiva de relações ordenadas por Deus, a autonomia? Não é fato que em todos estes relacionamentos estão patentes o dar-se, o cuidar, o obedecer, o prover o melhor? Não está clara a sujeição mútua?

“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.” (Romanos 12.10)

“Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmos. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” (Filipenses 2.3 e 4)

“Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz. Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles…” (Hebreus 13.16 e 17)

Todos estes textos das Escrituras nos ensinam o quanto a interdependência (dependência mútua), é o padrão de Deus. O tempo todo a Palavra de Deus vai mostrar que o alvo é o outro. O Evangelho nos ensina a tirar os olhos de nós mesmas e colocar em nosso próximo. O bem do outro, a obediência, a sujeição, o serviço, o amor mútuo são conceitos que nada têm a ver com independência e autonomia. O Evangelho resume todos os mandamentos em dois: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Obediência a Deus e amor e serviço ao outro. Onde haverá espaço, então, para eu me focar em mim e nos meus próprios interesses, independente do Corpo de Cristo, dos meus irmãos?

O Medo de depender

Não ignoro que depender de alguém pode trazer medo e instabilidade para algumas mulheres, principalmente àquelas que já foram feridas em situações semelhantes. Colocar sua confiança em alguém, depender desta pessoa e ser traída por ela é uma dor que gera insegurança. E esta é uma falta gravíssima. O Catecismo Maior de Westminster nos ensina que o pecado é agravado quando é praticado contra alguém que confiava no ofensor. “Pecar contra aqueles com quem estamos intimamente relacionados, ou especialmente comprometidos, é ter a culpa agravada.” (Johannes G. Vos, comentando a pergunta 151 em: Catecismo Maior de Westminster comentado- Editora Os puritanos). De forma alguma podemos minimizar a dificuldade de alguém que foi ferido, de voltar a confiar e a descansar na condução de um líder. Maridos que trocam a mulher de sua mocidade por outras; pais que somem e não suprem as necessidades dos filhos; mães que abandonam suas crianças à própria sorte. Estas são algumas situações terríveis que o pecado gera. Nossa sociedade está afogada neste mar de descaso e egoísmo, de fuga de responsabilidades, de hedonismo, de amor exagerado por si mesmo e de desprezo ao próximo. Isto é abominável ao Deus que instituiu a família e o casamento para cuidado e auxílio mútuo.

De forma alguma, entretanto, estes pecados podem gerar outros. Sei que a tendência de uma moça que foi criada apenas por sua mãe, já que o pai sumiu no mundo, é rejeitar a idéia de depender do marido. Aquelas que tiveram pais violentos, não querem nem pensar em se submeter espontaneamente ao futuro cônjuge. Mulheres que se casaram com homens “crentes” que as abandonaram, talvez instruam suas filhas a procurar no mundo, já que os “da igreja” estão fazendo pior! Mas estas dificuldades têm de ser vencidas pela fé nAquele que instituiu o padrão para se viver em família. O que Deus instituiu é superior às nossas experiências pessoais. Não é porque o pecado corrompeu e estragou seu casamento, que os padrões de Deus estão errados e devem ser substituídos! O padrão de Deus para a família é santo e é a expressão da sua santa vontade. Não podemos achar que a nossa experiência dolorosa tem mais valor que uma ordenança do Altíssimo. Será que vamos fazer coro com este mundo que jaz no maligno, e dizer que o casamento é uma instituição falida? Será que decidiremos ter apenas um filho, porque a economia não está estável e emprego anda difícil? Será que vamos nos preparar com antecedência para um divórcio, já que mais cedo ou mais tarde nosso marido pode nos trocar por uma mulher mais jovem? Como viveremos nossas vidas? Pautadas no que este mundo perverso vive ou no padrão santo, estabelecido pelo Deus Santo, que revelou como nossas famílias deveriam andar e viver?

Meu pedido a você, amada irmã, é que se despoje dos conceitos mundanos e feministas, deixe um pouco de lado a dor causada por seu pai ou seu marido, e caminhe comigo, tentando descobrir o modo como DEUS deseja que você viva em dependência. Ele é o nosso padrão, a sua Palavra é a nossa regra de fé (aquilo que cremos) e de prática (como gerimos nossa vida). Você está pronta para abandonar suas idéias de liberdade e autonomia e se submeter à norma estabelecida pelo criador para suas criaturas? Então, no próximo texto falaremos sobre três aspectos em que somos chamadas a depender dos nossos maridos: Dependência emocional, espiritual e financeira. Até lá!

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simone* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.

Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler…  de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por meu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.