Love-and-Romance-500x500“Um casal deve viver, pelo menos, a cento e sessenta quilômetros de distância dos pais durante, pelo menos, o primeiro ano de casamento.” Isso é o que um casal mais velho nos disse quando estávamos indo à igreja no banco de trás do carro deles. Pensávamos que estávamos cumprindo muito bem esse papel: não era bem o nosso primeiro ano de casamento, mas estávamos a quase 5.000 quilômetros de distância de nossos pais.

Sair de casa, a fim de se unir e formar uma identidade nova e separada como marido e mulher é uma ordenança feita na criação. Gênesis 2:24 nos diz: “deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher…” O Novo Testamento repete este mandato (Mat. 19: 5). Casar implica em sair da casa dos seus pais ( com raríssimas exceções ) e em criar um lar novo e independente. Pelo menos, de acordo com os padrões bíblicos.

Mudar de cidade, certamente facilita “deixar e unir”, mas não é uma garantia de que irão cumprir esse mandato, assim como ficar na mesma cidade não impede que o cumpram. Então, por que “deixar e unir” é fundamental? Quando um homem e uma mulher se casam, eles felizmente e respeitosamente deixam suas próprias famílias para formar um novo núcleo familiar. “Deixar e unir” é realmente um comando. Sem deixar e unir, a formação de uma nova família é atrofiada; ela não será tão forte e frutífera como deveria, porque ainda estará dependendo de outros para as coisas que ela mesma deveria estar produzindo em si. Assim como o estudante universitário que chega em casa para se divertir no porão com vídeo game, há algo que não está certo sobre isso – não há um desenvolvimento normal ou produtivo.

Isso não significa que um casal deva viver em isolamento: isso também não é saudável, mas significa que eles devem se tornar uma família diferente, com os aspectos bons e úteis de duas culturas familiares diferentes, criando algo novo, não como uma criança que deve satisfação aos pais, mas como uma família que deverá prestar contas diretamente ​​à igreja local como um lar cristão. “Deixar e unir” não nega honrar pai e mãe, apenas produz uma forma mais madura de honrar que usa a formação e ensino recebido pelos pais para contribuir para a Igreja e para a sociedade.

Então, na prática, de que maneira devemos “deixar e unir”? Aqui estão algumas idéias:

Ter o seu próprio círculo de amizades e calendário social. Se, como casal, vocês dependem dos pais para contatos sociais ou eventos, isso não é saudável. Vocês precisam ter seus próprios amigos. A igreja local é o melhor lugar para começar, mesmo que vocês participem da mesma congregação que seus pais. Encontrem casais e solteiros de várias idades que você não conhece bem e se apresentem a eles. Se aproximem, criem amizades em sua igreja e na vizinhança e seu calendário refletirá uma independência social saudável que abençoa os outros, enquanto vocês desenvolvem a hospitalidade juntos.

Resolver problemas cotidianos juntos. Chamar papai e mamãe para consertar o seu cortador de grama, resolver um conflito sobre criação de filhos, organizar o menu semanal ou qualquer coisa que seja um desafio para vocês, geralmente significa que vocês não estão dispostos a fazer o trabalho que ser um adulto e adquirir habilidades para a vida demandam. Se os seus pais facilitam essa dependência, eles não estão interessados ​​em ajudar você a superar isso.

Isso não significa que você não possa pedir ajuda, mas que a ajuda não deve vir sempre de papai ou mamãe. Além disso, as habilidades práticas deverão diminuir a necessidade de ajuda a cada dia. Problemas maiores ou mais sérios (como uma criança rebelde, doença ou um vício da pornografia) exigem ajuda e conselhos, mas que podem vir da igreja local, bem como de pais piedosos. Resolver seus próprios pequenos problemas demonstra uma boa “ética de trabalho” de querer aprender e não ser um fardo para os outros.

Pagar suas próprias despesas. Às vezes, em determinadas situações, um casal vai precisar de ajuda financeira, mas isso precisa ser temporário ou excepcional. A expectativa deveria ser de que o novo casal funcione como uma unidade financeira independente. Depender financeiramente dos pais (de um ou dos dois) para viver significa que vocês não são, em circunstâncias normais, capazes de viver como adultos. Isso também significa que vocês não estão abençoando os outros que estão verdadeiramente em necessidade (Ef. 4:28). Em circunstâncias normais, uma família financeiramente autossuficiente é uma bênção para os pais e para a igreja, pois há provisão para si mesma e para os outros.

Tenha sua própria vida espiritual. Leiam a Bíblia juntos enquanto casal. Orem juntos. Vão à igreja juntos. Se vocês acham que é melhor, encontrem sua própria congregação que não seja a de seus pais. Essas coisas são vitais se vocês pretendem “deixar e unir” de forma bíblica e saudável. A história está cheia de casais que estavam totalmente entrosados, mas de forma errada. Ananias e Safira são apenas um exemplo em Atos 5. Porém, se vocês estão crescendo juntos sob a luz da Palavra e em comunhão sincera com crentes maduros, sem depender dos pais para transportar a carga espiritual, será uma união que honra o Senhor e traz bênçãos para seu casamento.

“Deixar e unir”, de fato, traz não somente a sensação, mas também a realidade de uma família nova e forte. Fazer essas (e outras) coisas juntos cria um vínculo entre marido e mulher, gerando uma família nuclear mais forte e frutífera. Você não pode hospedar amigos, resolver conflitos, pagar contas, e orar um pelo outro sem crescer mais em união, mesmo que você tenha obstáculos no caminho. Falhar em “deixar e unir” inevitavelmente enfraquece um casamento a longo prazo. A obediência traz bênção. Deus dá graça e meios para fortalecer o casamento, para que o casal possa, de forma misteriosa, projetar a proximidade que Cristo tem com a Igreja. Afinal, esse é o objetivo, não é?

2015-06-22

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Este post é uma tradução de um artigo de Rebecca VanDoodewaard publicado originalmente no Blog “The Christian Pundit” traduzido e re-publicado com permissão da autora.

*Rebecca VanDoodewaard é dona de casa, editora free-lancer e escritora. Ela é esposa do Dr. William VanDoodewaard, ministro da Associate Reformed Presbyterian Church e professor de História da Igreja no Puritan Reformed Theological Seminary, com quem tem 3 filhos. Rebecca está grávida do quarto filho. O casal bloga no “The Christian Pundit”

** Tradução: Bruna Bugana e Flávia Silveira