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III. Como podemos aprender a sermos contentes

 

 1. Pense biblicamente.

Romanos 12.2: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

 1 Pedro 1:13: Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.

Cingir os lombos significava dobrar a barra do seu longo manto fazendo dele um cinto, para que você tivesse mais liberdade para se movimentar e realizar algum trabalho. É como se Pedro dissesse: Agora leve a sério o pensamento; se livre de tudo aquilo que o impede de pensar direito. Comece a pensar claramente, sobriamente, e escute as palavras de Deus, ao invés de escutar as filosofias do mundo.

Como eu disse anteriormente, o contentamento não é um fruto que cresce naturalmente nos jardins cheios de ervas daninhas da nossa alma. Nossas mentes são muito influenciadas pelo mundo em que vivemos. O mundo, que é governado pelo deus deste século, Satanás, diz coisas como: você precisa buscar ser o número um, ninguém mais será. Nosso Senhor e Salvador diz: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.

Nós também somos, mais do que gostaríamos de admitir, influenciados pelo cristianismo não-reformado. Realmente não há nada novo debaixo do sol. Os amigos de Jó foram bastante influenciados, ao discutirem com ele a partir de uma “teologia de proporções equilibradas”, que ensina: ande nos caminhos de Deus e você prosperará nesta vida; viva uma vida de pecado e você logo morrerá aqui na terra. E, uma vez que você tenha essas grandes e terríveis aflições de Jó, você pecará de forma terrível. Esta teologia se parece muito com o evangelho da prosperidade dos dias atuais.

 

2. Espere provações e dificuldades

Mas, olhe para os santos do Antigo e Novo Testamento. Eu não consigo pensar em um jovem mais justo do que José. Mas a sua vida não teve problemas? Sabemos o quanto ele confiou tudo a Deus durante suas provações; e nunca sequer pensou em vingar-se a seus irmãos. “Vocês intentaram o mal, mas Deus o tornou em bem”. Isso bastava para ele.

Moisés, sendo ainda um bebê, foi tirado de seus pais, trazido à corte do faraó; imbuído, diríamos, de um grande papel de liderança; especialmente ligado ao seu grande zelo pelo povo de Deus. Mas, Deus tem ideias diferentes de como o seu povo é melhor preparado para um grande serviço; e Ele dá a Moisés 40 anos de obscuridade, como um pastor no deserto. Que desperdício de dons e talentos, pensamos.

Davi, o homem segundo o coração de Deus, não recebeu uma vida livre de problemas. Ele perdeu as esperanças de se tornar rei, e pensou que pereceria nas mãos de Saul. Mas, olhe para os belos Salmos que ele deixou, para que pudéssemos consolar nossas almas e cantar em adoração ao nosso Deus.

E o Novo Testamento retrata o mesmo quadro. Os filhos de Deus geralmente não são os mais prósperos, e não tem a vida despreocupada que o nosso homem natural anseia. Percebemos um padrão aqui, não é? Jeremiah Burroughs aponta que a maneira habitual de Deus agir com o Seu povo é dando-lhes provações e aflições para ensinar-lhes mais de Si mesmo e prepará-los para um melhor serviço; especialmente, então, quando Ele planeja que sirvam mais publicamente em maiores capacidades.

Mas, talvez devêssemos voltar às bases por um minuto; nós tendemos a tomar como certo que somos cristãos.

 

3. Examine o seu relacionamento com Deus.

Quem nós somos como cristãos? Nós somos pecadores merecedores do inferno, que não têm condições de fazer nada direito a fim de reaver o favor de Deus. Casos verdadeiramente sem esperança, não fosse Deus que, em Sua misericórdia, por causa de Seu Filho, decidiu conceder Seu amor a nós. Deus nos amou porque nós éramos muito amáveis? Absolutamente não. Ele nos amou, porque Ele nos amou por sua própria razão – e para nos fazer amáveis.

 

4. Lembre-se da bem-aventurança de ser um cristão.

Ser um cristão significa que temos um conforto que o mundo não conhece. Eu não consigo explicar melhor que o Catecismo de Heidelberg. Ser um cristão significa: Que eu, de corpo e alma, tanto na vida quanto na morte, não sou meu, mas pertenço ao meu fiel Salvador Jesus Cristo; que, com seu precioso sangue, trouxe plena satisfação por todos os meus pecados, e me livrou de todo o poder do diabo; e assim me preserva, de forma que, sem a vontade de meu Pai celestial, nenhum fio de cabelo pode cair da minha cabeça; sim, todas estas coisas devem ser úteis à minha salvação, e, portanto, pelo seu Espírito Santo, Ele também me garante a vida eterna, e me faz sinceramente disposto e preparado, doravante, para viver com ele.

Quando você levar a sério o pensar biblicamente, a fim de aprender a se contentar, você ficará surpreso por quanto de sua leitura diária da Bíblia irá, de uma forma ou de outra, se aplicar a isso. E não só a sua leitura, também os sermões semanais lhe ajudarão bastante no seu caminho para um maior contentamento. Ainda no último domingo tivemos um sermão no livro de Jó, em que ele passou no teste, apesar de seus amigos, que involuntariamente foram usados por Satanás para tentá-lo, para que ele desistisse da sua forma correta de pensar sobre Deus. Mesmo que Deus aparentasse ter abandonado Jó, Jó ainda se agarrou a Ele. Então, à noite, tivemos um sermão sobre a Providência de Deus. Como TODAS as coisas são regidas por ele – os grandes negócios mundiais, bem como os pequenos detalhes diários da nossa vida comum! Os belos momentos de ternura, e os aborrecimentos que se arrastam tão sutilmente e podem estragar o nosso dia de forma tão eficaz. Uma semana antes, havíamos tido um sermão em 1 Pedro 1, sobre cingir os lombos do vosso entendimento, sobre pensamento sóbrio e bíblico! E até mesmo o sermão sobre disciplina foi útil para ensinar contentamento ao meu coração, porque ele me fez entender, por meio de Mateus 18, quão honesta eu devo ser com respeito aos pecados do meu próprio coração.

IV. Em conclusão

 Então, o que vamos fazer agora que estamos convictos de nosso descontentamento, de nossos espíritos agitados, da nossa dificuldade para nos submetermos à providência do Senhor?

Nós nos arrependemos de nossa murmuração e dos nossos espíritos egoístas. Confessamos quão ultrajante é para nós esperarmos uma vida de facilidade e de constante felicidade, quando nosso próprio Salvador viveu uma vida de tristeza e sofrimento. Confessamos que recuamos de conhecer o Senhor Jesus na comunhão de Seu sofrimento. Nós nos arrependemos de tomar a nossa salvação, que Lhe custou tanto, por certa. Nós nos arrependemos de pensar que merecemos mais do que já recebemos. E nós oramos, suplicamos ao Senhor que transforme nossas mentes, para que aprendam a pensar Seus pensamentos, para que aprendam a se deleitar mais Nele, e para que sejamos capazes de dizer de coração, com Davi, no Salmo 73:

 Eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença. Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre. (ARA)

E não se desespere. O Senhor é paciente, professor amoroso. Ele nos ajudará a aprender a viver contente em cada situação. Mas, então, ande intimamente com Ele. O contentamento é um fruto que requer que estejamos em Jesus, na Videira verdadeira. João 15:

 Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. E, para ser frutífera a videira precisa de poda: e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. 

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* Esse post é a transcrição de uma palestra ministrada para as esposas dos seminaristas do Puritan Reformed Theological Seminary.

Elina VanderZwaag é esposa do Rev. Foppe VanderZwaag,  com quem tem 9 filhos. Ela nasceu e cresceu na Holanda, mas seguiu seu marido para Alberta, Canadá seis semanas depois do seu casamento e depois para Ontario, Canadá, onde ele era diretor de uma escola cristã. Em 1997, eles se mudaram para Grand Rapids, Michigan onde meu marido fez o seminário e hoje é pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation. Ela é dona de casa e mãe em tempo integral.

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** Tradução: Arielle Pedrosa