Continuação


2 – Métodos contraceptivos – formas moralmente aceitáveis e inaceitáveis.

Como diz Kostenberger, “concluir que o uso da contracepção é moralmente permissível em termos gerais não é dizer que todas as formas de controle de natalidade são moralmente aceitáveis”. Vamos abordar o uso de todos eles de forma biológica e bíblica posteriormente, mas por hora vamos falar sobre as formas moralmente aceitáveis ou não.

Para esclarecimento das leitoras, sabemos que uma linha da igreja Católica é contrária a todos os contraceptivos por discordarem do conhecimento bíblico que o sexo foi criado por Deus como uma dádiva a ser desfrutada exclusivamente dentro do casamento. Logo, independente do dispositivo, se hormonal, comportamental, tabelas e quaisquer outros que vierem a existir – no conceito católico romano, o único motivo para manter a relação sexual é para procriação de filhos; até por isso eles defendem que Maria, mãe de Jesus permaneceu virgem até o fim de sua vida. Essa não é a visão bíblica verdadeira.


Avaliar o início da concepção humana e explicar anteriormente sobre embriologia era visando que você, querida leitora, entenda que todos os métodos que impedem a fecundação são permitidos do ponto de vista moral. Entretanto, os que interferem na implantação do embrião na parede uterina são inapropriados.

Formas aceitáveis seriam a abstinência (inclusive a única forma para os que não são casados), o método rítmico ou tabelinha e os métodos ditos de barreira (diafragma, camisinhas, espermicidas, dentre outros). Esses métodos impedem o encontro do óvulo com o espermatozoide e, assim, impedem a fecundação.

Métodos inaceitáveis, que interferem mais diretamente na descamação do endométrio seriam a ‘pílula do dia seguinte’, o DIU e os métodos hormonais. A seguir falaremos sobre cada um deles:

a) Pílula do dia seguinte

A pílula do dia seguinte é um medicamento composto por um hormônio ou a combinação de dois desses, e pode ser usado até cinco dias após a relação sexual “desprotegida”. Conforme descrito em um site ginecológico:

“A pílula é composta por um hormônio presente nos anticoncepcionais de rotina, mas em doses bem mais elevadas, que agem evitando que o óvulo seja liberado e retardando a fertilização. Caso a ovulação já tenha ocorrido, ela atua descamando o endométrio, ou seja, causando sangramento e fazendo com que o embrião não implante.” (grifo meu)

b) DIUs

Os DIUs são dispositivos implantados no útero e podem ser tanto o de cobre como o hormonal. Eles agem em diversos mecanismos gerando assim o controle da concepção. Em um site médico, as informações são que o DIU age promovendo “Alterações no muco cervical (muco do útero), estimuladas pelo cobre ou pela progesterona inibem a mobilidade dos espermatozoides dificultando a sua chegada ao óvulo.” Até aqui, tudo bem. Outro efeito do DIU seria a “Irritação crônica do endométrio (parede do útero) e das trompas de Falópio, que têm efeitos espermicidas, inibem a fertilização e a implantação do ovo no útero.(grifo meu), além disso, promove “atrofia e adelgaçamento glandular do endométrio, que inibe a implantação do ovo ao útero.” e finalmente “Efeitos diretos no ovo, impedindo sua evolução para embrião.”.

O que esse médico quer nos “vender” é a sua concepção que o embrião só passa a ser vida após sua implantação no útero. Mas já vimos anteriormente que quando isso ocorre, ele já conta com mais de 100 células. O termo “ovo” usado por ele já é o próprio embrião no início de seu desenvolvimento. Se cremos que a vida começa na fecundação, como poderíamos utilizar um método que não somente inibe a implantação do embrião ao útero como ainda tem efeitos diretos nesse?

c) Anticoncepcionais hormonais

Mas o que dizer do ponto de vista moral, sobre os anticoncepcionais hormonais?

Os anticoncepcionais podem ser combinados (estrógeno e progesterona) ou apenas de progesterona. Hoje estão disponíveis na apresentação de pílulas diárias (com pausas ou não), injetáveis, implante subcutâneo, adesivos e, o mais recente, anel vaginal.

Os hormônios dos anticoncepcionais imitam os hormônios ovarianos e durante seu uso e por um mecanismo de feedback negativo eles inibem a liberação de um hormônio produzido no sistema nervoso central, na região do hipotálamo chamado GnRH responsável, ao final do ciclo, por estimular a ovulação. Os ACOs (AntiConcenpcionais Orais) agem no útero em três frentes. Primeira, como explicado anteriormente, inibindo a ovulação, ou seja, a liberação do óvulo pelo ovário na tuba uterina. Os ACOs também causam um espessamento do muco cervical, que é a secreção presente na entrada do útero, tornando-o impermeável aos espermatozoides. Até aqui, tudo bem. Mas há um mecanismo de escape, caso esses dois anteriores falhem, o terceiro mecanismo: eles modificam a mucosa do útero (endométrio).

Ora, não temos muitos problemas para reconhecer como aceitável as duas primeiras frentes de ação dos ACOs, mas o terceiro me traz questionamentos. Neste mecanismo, a modificação do revestimento interno uterino – endométrio – serve como “backup” caso os dos dois outros métodos falhem. Considerando que os índices de gravidez em uso de ACOs variam de 0,3% em um uso perfeito do método até 8% com o uso típico podemos afirmar que esse mecanismo de backup com certeza será exigido em algum momento.

Particularmente, ao buscar textos acessíveis para compor esse artigo eu mesma tive dificuldade em encontrar essas informações nas bulas. Em uma dessas, encontrei o seguinte texto: “Os hormônios contidos nesse anticoncepcional oral previnem a gravidez por meio de diversos mecanismos, sendo que os mais importantes são inibição da ovulação e alterações na secreção cervical (do colo uterino).” Quais então seriam os métodos menos outros não citados na bula? Eles omitiam completamente a questão de a pílula interferir na qualidade do endométrio.

Querida leitora, você consegue compreender que a principal diferença em considerar o DIU, a “pílula do dia seguinte” ou os anticoncepcionais hormonais como abortivos ou não está embasado em qual momento consideramos o início da vida? Ora, a vida humana começa ainda na fecundação, logo após a entrada do espermatozoide no óvulo.

Continua….

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Ester M. Ribeiro é casada há 8 anos com Fernando Ribeiro, presbítero na Igreja Prebiteriana do Brasil em Jundiapeba, Mogi das Cruzes – SP. Desde 2019 é mãe homeschooler e, atualmente é Tutora Foundations do programa Classical Conversations e, em sua igreja, professora na Escola Bíblica Dominical. Médica nefrologista por formação trabalhando em horário (bem) reduzido pelo chamado como Mãe do Davi de 4 anos e Daniel de 2 anos.