Confesso ser um desafio escrever sobre esse assunto. Em 8 anos de casamento, passei cerca de 4 fazendo uso de anticoncepcional. Quando estava grávida de meu filho mais novo, aproximei-me de modo mais expressivo do estudo da feminilidade bíblica e da fé reformada. E foi na leitura do livro “Deus, Casamento e Família” de Andreas J Kostenberger que meu esposo e eu fomos despertados sobre a questão da anticoncepção. Organizei minhas considerações em um texto que gostaria de compartilhar com vocês.

1 – Quando começa a vida?

Quando voltamos nossos olhos ao estudo da embriologia humana, e, olhamos historicamente as mudanças da nomenclatura científica utilizada perspicazmente ao longo dos anos, fica claro a dificuldade de compreensão sobre a licitude de certos métodos contraceptivos.

No século XVII, van Leeuwenhoek descobriu o espermatozoide, mas apenas cerca de 200 anos mais tarde foi afirmado cientificamente a contribuição genética tanto do homem como da mulher para a formação do embrião. O início da vida humana ocorre quando os espermatozoides e o óvulo unem seus cromossomos. Os 23 cromossomos de cada, então unidos em 46 formam uma única célula. Na ocasião da descoberta, a fecundação foi comemorada em toda ciência como “a descoberta do início da vida humana”. Ao longo dos anos, com desenvolvimento científico e a valorização do final da (sua própria) vida em detrimento do início dela (nos outros), o conceito de “início da vida humana” a partir da fecundação era uma barreira para o uso desse embrião recém fecundado em pesquisas diversas como as relacionadas às células tronco e reprodução assistida.

Explicarei um pouco sobre o processo de fecundação e nidação de forma simplificada para que a leitora quanto à questão desses no uso de contraceptivos.

O que é fertilização?

Chamamos de fertilização ou fecundação a entrada do espermatozoide no óvulo – quando realizada em laboratório, chamado de fertilização in vitro.

Como ocorre biologicamente a fertilização do óvulo? Depois da entrada do sêmen na vagina da mulher durante a relação sexual, em cerca de 10 minutos uma porção comparativamente pequena de espermatozoides é transportada através do útero e das trompas de falópio (ou também chamada de tuba uterina) até as terminações ovarianas no final das trompas. Nesse local, os espermatozoides são atraídos quimicamente pelo óvulo liberado pelos ovários. Apenas um espermatozoide consegue entrar no óvulo, pois tão logo o primeiro entra, é induzido o fechamento da parede ovular impedindo os demais de entrar. Após uma série de processos biológicos, já com 46 cromossomos, ele se divide pela primeira vez ainda nas tubas uterinas antes de chegar ao útero.


Da tuba uterina ao útero, em cerca de quarto a cinco dias, o embrião continua crescendo em número de células de maneira que por volta do quinto dia, ao entrar no útero, ele tem cerca de 100 células. No útero, ele ainda se divide por mais 1 a 3 dias se implantando no endométrio entre o quinto e o sétimo dia após a ovulação.

Lee M Silver, em seu livro “Remaking Eden: Cloning and Beyond in a Brave New World” fala sobre a evolução da nomenclatura na biologia para descrever o estágio da formação do ser humano. Muitos especialistas que trabalham no campo da reprodução humana têm sugerido parar de usar a palavra embrião para descrever o ser em desenvolvimento nas duas primeiras semanas após a fertilização. Em seu lugar, eles propuseram o termo pré-embrião. O termo pré-embrião foi adotado de todo o coração por praticantes de fertilização in vitro por razões políticas, não científicas. A mudança política desse termo também é útil para as decisões sobre experimentos entre os embriões (agora chamada pré-embrião) – bem como nos limites do consultório médico, onde pode ser usado para aliviar as preocupações morais que podem ser expressas pelos pacientes de fertilização in vitro e uso de métodos abortivos como “contraceptivos”. “- Não se preocupe”, um médico pode dizer, “- são apenas os pré-embriões que estamos manipulando ou congelando ou ajudando a não se fixarem em seu útero. Eles não se transformarão em embriões humanos reais até a segunda ou terceira semana após fecundação”. Diz Dr. Hélio Angotti Neto:

“’é que o zigoto ou o embrião nada mais é do que um amontoado de células’. Com isso, esperam demonstrar o aspecto inumano da ‘coisa’ encontrada no útero materno, talvez com o intuito de dessensibilizar as mães e a população em geral para a realidade biológica da nova vida que se desenvolve. A afirmação de que o zigoto, o embrião ou o feto não passam de amontoados de células é, no mínimo, ignorante e estúpida. Na maioria das vezes é pura mentira maliciosa. Falar que algo não passa de um amontoado de qualquer coisa dá a entender que não há um estado organizado e manifestado de modo especial, não há unidade. Nada poderia ser mais distante da realidade do embrião ou do zigoto. Qualquer biólogo honesto e minimamente inteligente concordará não haver nada de desorganizado no zigoto ou no embrião, quanto mais no feto! Desde antes dos momentos iniciais da vida humana, a complexidade e a organização estão presentes. No momento da união entre gametas, quando os cromossomos paternos e maternos se unem, a nova identidade genética surge e incontáveis processos bioquímicos se iniciam em uma fantástica ordem. Em todas as fases do desenvolvimento, o novo ser humano já demonstra incríveis capacidades.”

Valorizar a vida humana desde o início é fato que nós, cristãos, devemos ter em máxima consideração. Quão profundo é o Salmo 139 quando diz que Deus nos viu a “substância ainda informe”. E pensar que se um embrião começa a ter forma em sua segunda à terceira semana e, ainda antes disso, o grandioso Deus já havia escrito e determinado cada um desses dias.

Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. Salmo 139.13-16 (grifo meu)

Continua…

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Ester M. Ribeiro é casada há 8 anos com Fernando Ribeiro, presbítero na Igreja Prebiteriana do Brasil em Jundiapeba, Mogi das Cruzes – SP. Desde 2019 é mãe homeschooler e, atualmente é Tutora Foundations do programa Classical Conversations e, em sua igreja, professora na Escola Bíblica Dominical. Médica nefrologista por formação trabalhando em horário (bem) reduzido pelo chamado como Mãe do Davi de 4 anos e Daniel de 2 anos.