Olá a todos. Aqui é o Tony com o Pastor John no estúdio para um episódio especial de Pergunte ao Pastor John. Como imagino que vocês saibam, o coronavírus continua a ocupar as manchetes conforme se espalha ao redor do mundo, agora já chegando em 53 países. O número global de infectados já passa de 83 mil pessoas. As mortes já chegam quase a 3 mil. É uma epidemia multinacional caminhando para se tornar uma pandemia global.

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Na quarta-feira de manhã, o presidente encarregou o vice-presidente a parar com o avanço do vírus aqui nos Estados Unidos. Alguns estão esperançosos que isso possa acontecer. Outros dizem que isso é futilidade, pois o vírus não será contido e continuará a se espalhar por meses a fio. Alguns especialistas chegam até mesmo a dizer que a maioria dos americanos será exposta o vírus antes que qualquer coisa seja feita de fato. Existem muitas especulações em curso. Mas saindo um pouco da teoria, os mercados mundiais estão em queda. A bolsa americana continua a despencar nessa semana à medida em que a interrupção do trabalho ao redor do mundo interrompe importação, exportação e comércio global.

Em situações como essa, é muito fácil perder a fé e viver com medo das manchetes e do desconhecido. E essa incerteza global agora atingiu os Estados Unidos. Mas antes disso, vários dias atrás, começamos a ouvir dos nossos seguidores do sudeste da Ásia atualizações sobre a situação por lá. Isso inclui um homem de Singapura que nos escreveu isto: ‘Querido Pastor John, olá! Gostaria de perguntar-lhe sobre o desdobramento do surto do coronavírus que começou na China e continuou a infectar muitas pessoas mais ao redor do mundo. Quando chegou à Singapura, o governo e os cidadãos reagiram bem, e os nossos esforços coletivos foram elogiados internacionalmente. Mas as reações das igrejas variaram. Muitas continuaram com os cultos dominicais, apenas com algumas precauções mais. Algumas igrejas suspenderam todos as atividades. Alguns pastores estão prometendo: ‘Se você é cristão, Deus não permitirá que o vírus toque em você!’. Outros pastores estão dizendo: ‘Esse é o julgamento de Deus para cidades pecaminosas e nações arrogantes’. Pastor John, como cristãos, com suas Bíblias abertas, podem entender uma epidemia viral como essa?’”

Bem, vou tentar responder a pergunta feita — “Como podemos entender isso? Como podemos obter esse entendimento?” — com uma Bíblia aberta diante de mim. Mas, antes de fazê-lo, deixe-me apenas dizer que tenho alguns receios, porque faço distinção entre duas coisas. Uma coisa é ajudar pessoas a se prepararem para sofrer dando sentido ao ensinamento bíblico sobre o sofrimento. Outra coisa é realmente incorporar essa teologia no nosso físico e emocional quando alguém está sofrendo. E nós temos agora milhares de pessoas que estão morrendo, o que significa centenas de milhares de pessoas em luto. E o que estou para dizer pode não bater com o momento de vida de algumas dessas pessoas, pois se eu estivesse falando sobre esse assunto na igreja, eu estaria discernindo justamente se há um momento certo para falar sobre isso aqui ou não.

Nada é Mais Forte que Jesus
Com esse prefácio, deixe-me tentar dominar o assunto que foi pedido para eu falar: entender um vírus mortal. Vamos começar com um fato empírico, histórico, e um fato claro da Bíblia. O fato empírico é que em um dia do Senhor, domingo, no dia 26 de dezembro de 2004, mais de 200 mil pessoas foram mortas por um tsunami no oceano índico, incluindo igrejas inteiras que se reuniram para adorar no dia do Senhor. Todas foram varridas para a morte. Esse é o fato histórico. Esse tipo de coisa acontece com cristãos desde que eles existem. Agora, o fato bíblico está em Marcos 4.41: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem [Jesus]?”. Isso é tão verdade hoje quanto era antigamente. “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus 13.8).
Então, junte esses dois fatos juntos — o fato histórico e o fato bíblico — e você chega a esta verdade: Jesus poderia ter impedido o desastre natural, mas ele não o fez em 2004. Uma vez que ele sempre faz o que é sábio, certo, justo e bom, conclui-se que ele tinha propósitos sábios e bons naquele desastre natural.
Eu diria a mesma coisa, portanto, sobre o coronavírus. Jesus tem todo o conhecimento e toda a autoridade sobre as forças naturais e sobrenaturais desse mundo. Ele sabe exatamente onde o vírus começou e para onde irá em seguida. Ele tem completo poder para contê-lo ou não. E é isso o que está acontecendo. Nem pecado, nem Satanás, nem doença, nem sabotagem é mais forte que Jesus. Ele nunca é enquadrado; ele nunca é forçado a tolerar o que não quer. “O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações” (Salmos 33.11).

“Bem sei que tudo podes”, Jó diz em meio a seu arrependimento, “e nenhum dos seus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2). Então a pergunta não é se Jesus está supervisionando, limitando, guiando e governando todos os desastres e todas as doenças do mundo, incluindo todas as suas dimensões pecaminosas e satânicas — pois ele está fazendo tudo isso. Com nossas Bíblias abertas, a pergunta é: como podemos entender isso? Como podemos dar sentido a isso?

Aqui estão quatro realidades bíblicas que podemos usar como blocos de construção em nossos esforços para entender e dar sentido a isso.

Sujeitos a Frivolidade
Quando o pecado entrou no mundo por meio de Adão e Eva, Deus estabeleceu que a ordem criada, incluindo nossos corpos físicos, como pessoas criadas à sua imagem, iriam experimentar corrupção e frivolidade, e que todas as coisas vivas morreriam.
Os cristãos, sendo salvos pelo evangelho da graça de Deus, não escapam dessa corrupção física, da frivolidade e da morte. O fundamento desse ponto está em Romanos 8.20-23:
“Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele [Deus] que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. [E aqui o versículo chave para os cristãos] E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.”

O dia está chegando em que toda criação será livre do cativeiro da doença, do desastre e da morte e herdará a liberdade da glória dos filhos de Deus. Até lá, os cristãos — Paulo diz sobre os que têm “as primícias do Espírito” — gemem com toda a criação, compartilhando a corrupção, a frivolidade, a doença, os desastres e a morte, conforme esperamos com gemidos pela redenção de nossos corpos (que acontecerá na ressureição).

A diferença para os cristãos, que confiam em Cristo, é que a experiência dessa corrupção não é condenação para nós. Romanos 8.1 diz: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. A dor para nós é purificadora, não é punitiva. “Deus não nos destinou para a ira” (1 Tessalonicenses 5.9). Nós morremos de doença como todos os homens, mas não necessariamente por causa de algum pecado em particular — isso é importante sabermos.

Nós morremos de doença como todos os homens por causa da queda. Mas para todos aqueles que estão em Cristo, o aguilhão da morte é removido (1 Coríntios 15.55). Esse é o primeiro bloco de construção para entendermos o que está acontecendo.

Doença como Misericórdia

Deus às vezes inflige doença em seu povo como forma de um julgamento purificador e salvífico, o que não trata-se de condenação, mas sim de um ato de misericórdia que serve seus propósitos salvíficos. E esse ponto é fundamentado em 1 Coríntios 11.29-32. O texto fala sobre o uso displicente da Ceia do Senhor, mas o princípio é mais amplo. Aqui está: “pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si [isso está referindo-se aos cristãos na Ceia do Senhor]. Eis a razão por que há entre vós [entre os cristãos] muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando julgados [com essa enfermidade, fraqueza e morte], somos disciplinados pelo Senhor [disciplinados como crianças], para não sermos condenados com o mundo.”

Agora, vamos deixar o texto realmente entrar em nós. O Senhor Jesus pega as vidas de seus amados em meio à fraqueza e à enfermidade — essas, inclusive, são as mesmas palavras usadas para descrever a fraqueza e a enfermidade que Jesus cura em sua vida terrena (Mateus 4.23; 8.17; 14.14) — e as leva para o céu. Ele leva seus amados para o céu por causa do pecado — Jesus os salva dele, interrompendo sua trajetória. Ele não faz isso para puni-los, mas para salvá-los.

Em outras palavras, alguns de nós morrem de enfermidade “para não sermos condenados com o mundo”. Se ele pode fazer isso com apenas alguns de seus amados em Corinto, ele pode fazer isso com muitos mais, incluindo os acometidos pelo coronavírus. Isso não vale apenas para aqueles que abusam da Ceia do Senhor, mas para qualquer outra trajetória pecaminosa — apesar de nem todos morrerem por causa de um pecado em particular. Esse é o bloco de construção número dois.

Doença como Julgamento

Deus às vezes usa a doença para trazer julgamentos específicos sobre aqueles que o rejeitam e se lançam para o pecado. Vou dar dois exemplos. Em Atos 12, o rei Herodes exaltou a si mesmo ao ser chamado de deus. “No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (Atos 12.23). Deus pode fazer isso com qualquer um que exalta a si mesmo. Isso significa que deveríamos ficar maravilhados pela maioria de nossos governantes não cair morta todos os dias por causa de sua arrogância diante de Deus e dos homens. Pura graça comum e misericórdia.
Outro exemplo é o pecado da relação sexual homossexual. Em Romanos 1.27 diz: “semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro”. Esse é um exemplo da ira de Deus descrita em Romanos 1.18, que diz: “A ira de Deus se revela [atualmente] do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”. Este é o bloco de construção número três: Deus pode e de fato usa a enfermidade para às vezes trazer julgamento sobre aqueles que o rejeitam e rejeitam seu caminho.

O Trovão de Deus

Todos os desastres naturais — seja enchente, fome, gafanhoto, tsunami ou doença — são trovões da misericórdia divina em meio ao julgamento, chamando todas as pessoas de todos os lugares a se arrependerem e a reconstruírem suas vidas,pela graça, alinhando-as com o valor infinito da glória de Deus. E o fundamento desse bloco de construção está em Lucas 13.1-5. Pilatos havia matado adoradores no templo. E a torre de Siloé havia acabado de cair e matado dezoito passantes. E a multidão queria saber de Jesus, assim como perguntaram para mim: “Ok, faça-nos entender isso, Jesus. Diga-nos o que você pensa sobre esses desastres naturais e essa crueldade. Essas pessoas estavam apenas paradas lá e agora estão mortas”.

Aqui está a resposta de Jesus em Lucas 13.4-5: “Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes [ele muda de “eles” para “tu”], todos igualmente perecereis”.
Essa é a mensagem de Jesus para o mundo nesse momento da história com o coronavírus — uma mensagem para todo ser humano. Eu, você, Tony e todos que estão escutando, e todos os governantes do planeta, e todos os que ouvirem sobre isso estão recebendo uma mensagem como um trovão de Deus, dizendo: “Arrependam-se”. (E eu acredito que especialmente as autoridades chinesas deveriam prestar atenção, pois eles recentemente — e eu li novamente outro artigo ainda ontem — tornaram-se ainda mais duros e repressivos contra os seguidores de Cristo). Arrependam-se e busquem a misericórdia de Deus para alinhar suas vidas — nossas vidas — com o infinito valor de Deus.

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John Piper é o fundador e professor do blog desiringGod.org e chanceler do Bethlehem College & Seminary [Faculdade e Seminário de Bethlehem]. Por 33 anos, ele serviu como pastor na Bethlehem Baptist Church [Igreja Batista de Bethlehem] em Minneapolis, Minnesota. Ele é autor de mais de 50 livros, incluindo “Desiring God: Meditations of a Christian Hedonist” [Desejando Deus: Meditações de um Cristão Hedonista] e, mais recentemente, “Why I Love the Apostle Paul: 30 Reasons” [Por que eu Amo o Apóstolo Paulo: 30 Razões].

Texto Original : https://www.desiringgod.org/interviews/how-do-we-make-sense-of-the-coronavirus

Tradução por: Rebeca Falavinha