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Pastor John, olá. Estamos gravando este episódio de nossas casas em meio a um fechamento pandêmico de nossas cidades e estados. Nenhum de nós tem se reunido com nossas igrejas locais já faz semanas, e este episódio está programado para ir ao ar no começo de maio. Nós temos uma pergunta sobre código de vestimenta na igreja. E nenhum de nós sabe se, quando este episódio for ao ar, ainda estaremos de quarentena ou já nos encontrando pessoalmente aos domingos. De qualquer forma, as igrejas do país eventualmente irão se reunir novamente. E a fim de nos prepararmos para esse encontro, nós temos uma pergunta de John, um ouvinte da Carolina do Sul.

“Pastor John, olá! Quando nos juntamos à adoração comunitária e nos reunimos na casa de Deus, nós deveríamos vestir nossas melhores roupas? Eu tendo a dizer que sim. O mundo parece influenciar nossas escolhas em muitas áreas de nossa adoração — música, arquitetura dos templos, nível de reverência, etc. Sob a antiga aliança, Moisés foi claro que os sacerdotes deveriam usar “vestes sagradas” bem elaboradas (Êxodo 28.4). Ao entrar na presença de Deus por meio de Cristo, parece-me que a igreja moderna decidiu seguir a “sexta-feira casual” — um código de vestimenta advindo do mundo corporativo. O senhor sabe de algum trecho no Novo Testamento que aborda sobre o vestuário apropriado para a igreja?”.

Sim, mas talvez não da forma que você esteja pensando. Mas deixe-me esclarecer algo: independente se você se veste para “arrasar” no domingo de manhã (ou se se veste para “arrasar” aqueles que se vestem para “arrasar”); se você fecha seus olhos seriamente enquanto canta um hino da liturgia ou beberica casualmente seu café com leite enquanto canta “Santo, Santo, Santo”; se você se senta com uma postura respeitável ou se se joga no banco com indiferença; se deixa suas mãos quietas ou esfrega a nuca do seu namorado enquanto o pastor derrama seu coração no púlpito; se você desdenha de um visitante mais pobre ou se regozija no fato dele ser bem-vindo — todas essas coisas (e tantas mais) são moldadas e guiadas por sua visão de como Deus é nesse culto e o que está em jogo ali. Aquilo em que você acredita deveria influenciar essas questões.

Então, deixe-me trazer à tona algumas descrições bíblicas de Deus e de suas características. Eu acho que se essas descrições chegassem até nós com o peso, o maravilhamento, a alegria e o temor que elas devem ter, nós discerniríamos mais claramente como nos vestir e como agir nos cultos de adoração, na adoração comunitária. Em outras palavras, acredito que apenas “arrumar” a camada superficial de como nos vestimos não chega nem perto do cerne do problema que assola nossa igreja hoje. Os problemas são muito mais profundos. Certos tipos de comportamentos e vestimentas são simplesmente sintomas das concepções que se tem a respeito de Deus, da adoração e de nós mesmos, as quais são, na melhor das hipóteses, parciais, e, na pior, não bíblicas. Aqui estão as descrições bíblicas que mencionei:

1. Entenda Deus como um ser transcendente e imanente.

Que nosso comportamento e vestimenta reflitam a transcendência e imanência de Deus — a majestade e a intimidade de Deus.

“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57.15)

Então eu perguntaria: a mudança nos últimos quarenta anos da formalidade na igreja para a informalidade conseguiu obter um equilíbrio maduro entre transcendência e imanência? Eu acho que a resposta é “não”, aliás. Mas isso não é justo, porque eu não quero generalizar. Para muitas igrejas eu diria “não”, mas eu simplesmente pediria a cada um de nossos ouvintes a perguntar sobre eles mesmos e sobre suas igrejas, especialmente os pastores: “E a minha igreja?”. Não aponte o dedo para os outros.

2. Reflita a bondade e a severidade de Deus.

Que nosso comportamento e vestimenta reflitam a severidade e a bondade de Deus: “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado” (Romanos 11.22).

Que fique claro que não podemos brincar com Deus. De Deus não se zomba. Ele é mais severo e mais bondoso do que podemos imaginar. E há um comportamento que emerge de uma experiência sensata de mesclar essas duas realidades, especialmente quando nos reunimos pessoalmente e comunitariamente para adorar a esse Deus.

3. Expresse tanto gratidão quanto reverência.

Que nosso comportamento e vestimenta sejam moldados pela gratidão alegre e a reverência séria que advêm tanto da firmeza do reino quanto do fogo da santidade de Deus. “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12.28-29).

Uma adoração aceitável terá um forte teor de reverência e temor. Isso falta em muitas igrejas e afeta não apenas o tipo de roupa que usamos, mas o tipo de alma que possuímos.

 4. Busque humildade, e não autoexaltação.

Que nosso comportamento e vestimenta reflitam o chamado bíblico para nos humilharmos em vez de nos exaltarmos. “Porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lucas 18:14).

Claro que isso deve ser verdade para todos os cristãos em todo o tempo, em todo o lugar, mas aqui estou argumentando especificamente na adoração comunitária. Que todo homem e toda mulher pensem, enquanto ele ou ela se vestem para o domingo de manhã, algo assim: “Eu quero que minha presença no culto hoje não seja distrativa de forma alguma. Eu não vou, como um homem ou uma mulher, tentar aparecer — seja pelo meu estilo, seja pelas roupas caras, seja pela esperteza, seja pela ofensividade, seja pela sensualidade, seja pelo que eu revelo ou pelo quanto minha roupa está apertada, seja pelo quão elegante ou na moda está meu cabelo, seja pelo quão perfeitamente coordenadas minhas cores estão, seja pelo quão livre de tabus eu sou, seja pelo quão solene eu sou. Meu objetivo será me vestir e agir de forma que eu simplesmente não atraia ou distraia ninguém do que deveria estar acontecendo aqui”. Essa é minha interpretação do “humilhe-se a si mesmo”: saia do caminho e vista-se com o intuito de não ser uma distração.

5. Prepare seu coração para receber todas as pessoas.

Que seu comportamento e vestimenta reflitam uma prontidão alegre em receber todos os visitantes, que podem não conseguir vestir-se da forma que nós gostaríamos ou que eles mesmos gostariam. Tiago 2.1-4 aborda isso de forma direta:

“Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes: Tu, assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui abaixo do estrado dos meus pés, não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos?”.

A alternativa, porém, para esse julgamento parcial não é algo superficial como todos se vestirem com roupas gastas ou velhas. Isso é ridículo. Essa é uma questão do coração. Pode ser que a mulher mais rica da igreja, que se veste com roupas muito boas, seja a que receba mais rapidamente a pessoa pobre com roupas velhas que entra na igreja no domingo de manhã. O coração dela pode estar totalmente correto, enquanto o grupo dos descolados, vestidos informalmente, pode nem sequer prestar atenção nesse visitante. Nesse ponto, não é uma questão de vestimentas; é uma questão do coração.

6. Almeje aquilo que é mais apropriado diante de Deus.

Que nosso comportamento e vestimenta reflitam a verdade bíblica de que muitas coisas na vida, incluindo nossa vida de adoração, são decididas não pelo que é ordenado ou proibido biblicamente, mas pelo que é apropriado e adequado biblicamente.

Quando o pai na parábola do filho pródigo tenta suplicar ao seu filho mais velho para participar do banquete, ele não diz: “Venha aqui. É minha ordem, poxa vida. Eu sou seu pai”. Ele diz: “Meu filho (…) era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lucas 15.31-32). Se o único critério que você tem usado para decidir como agir e se vestir na adoração comunitária, é o de que você acredita que Deus é gracioso e nos aceita como somos, então você possui algo maravilhoso — é verdade. Mas esse é um pensamento parcial e precisa ser complementando com mais verdade.

Deixe-me ilustrar algo e irei finalizar com essa ilustração. Se você é casado com a mulher mais maravilhosa — a mais paciente, a mais bondosa, a mais perdoadora e a mais graciosa mulher do mundo —, que o ama e o aceita como você é, e você aparece na comemoração do seu aniversário de casamento de 25 anos num restaurante chique — aonde ela já chegou antes, porque você estava no trabalho, e ela com vários planos legais em mente — e você chega ao restaurante usando uma camiseta e uma bermuda de tênis porque você veio direto da quadra de tênis, ela ainda assim irá aceitá-lo e amá-lo. Esse é o tipo de mulher que ela é. E você não terá se saído bem, porque agiu inapropriadamente.

Então eu termino por onde comecei: todas essas coisas e tantas mais são moldadas e guiadas por sua visão — nossa visão — de como Deus é e do que você acredita que deveria acontecer no culto. O que é apropriado diante desse Deus?

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*John Piper é fundador e professor do blog desiringGod.org e chanceler do Bethlehem College & Seminary [Faculdade e Seminário de Bethlehem]. Por 33 anos, ele serviu como pastor na Bethlehem Baptist Church [Igreja Batista de Bethlehem] em Minneapolis, Minnesota. Ele é autor de mais de 50 livros, incluindo “Desiring God: Meditations of a Christian Hedonist” [Desejando Deus: Meditações de um Cristão Hedonista] e, mais recentemente, “Coronavirus and Christ” [Coronavírus e Cristo].

**Tradução: Rebeca Falavinha. Revisão: Paula Lima