Eu nunca amei a analogia da “mamãe-ursa”. Quando eu penso em mamães ursas imagino mães que arrancam a cabeça das professoras e abrem caminho na multidão a cotoveladas para que seus filhos consigam os melhores lugares na hora da estória. Eu preferiria muito mais ser a mamãe cisne, pacificamente deslizando pela vida com todos os meus pequenos bebês cisnes enfileirados. Mas eu não sou. Eu sou a mamãe com cara de cisne e com o coração de urso pardo.

A verdade é que você não tem que ser barulhenta e irritante para ser uma mamãe ursa. Você só precisa se preocupar demais com o bem estar de sua família. Você tem que idolatrá-la, curvar-se a ela em adoração, de modo que se alguém na sua casa não estiver bem, nada está bem. Perceba, a questão sobre mamães-ursas é que, lá no fundo, desejamos controlar nosso universo, para assim proteger as pessoas a quem amamos. Se somos cristãs, em algum nível sabemos que isso é impossível. Mas isso não nos impede de tentar.

Uma fundação instável

Como podemos parar de tentar? Aí sim, as coisas poderão realmente desmoronar. Então interminavelmente nos esforçamos, ansiando pelo momento em que poderemos respirar fundo e dizer, “A vida é boa! Ninguém está hospitalizado. Ninguém está tendo pesadelos. Ninguém se sentindo muito infeliz no trabalho.” Claro que esse tipo de paz é tão frágil como uma casca de ovo. É como construir a sua casa sobre um alicerce de palitos de dente.
Eu sabia que seria muito trabalhoso me tornar uma esposa e mãe; só não sabia o quanto desse trabalho seria feito com meu coração ao invés de com minhas mãos. E como é cansativo! Quanto mais pessoas acrescentamos a nossa família, mais meu coração tem que carregar. Preocupação, ansiedade, amor, alegria, dor, afeição, medo. Nem quero ter cachorro, porque não tenho a capacidade emocional para cuidar de mais um ser vivo!

Há dias em que meu marido entra em casa com uma expressão pesada em seu rosto, e eu quero erguer a mão e dizer, “Eu sinto muito! O medidor de ansiedade atingiu seu nível máximo. Se colocar mais um fardo nas minhas costas eu vou cair morta agora mesmo aqui na cozinha! Aí você terá que terminar o jantar!” Em vez disso, eu normalmente opto por uma solução rápida: “O que há de errado? Conte-me. Conte-me agora.” Talvez eu possa salpicar alguma verdade do evangelho nesse aí rapidinho e tirá-lo da lista de problemas antes que o molho do espaguete queime.

Encurtando o caminho de Deus

Mas não funciona assim por uma simples razão. Eu não sou Jesus. Todas as minhas tentativas exteriores de “consertar” nosso universo são apenas isso – tentativas exteriores. Elas são os palitos de dente lutando para suportar o peso da casa que sempre vai esmaga-los. Eu ainda lembro do dia em que Clint olhou para mim e disse, “Você não pode simplesmente me deixar não estar bem? Você consegue simplesmente me amar quando não estou feliz?”

Mas se você não estiver bem, então eu não estarei bem, eu pensei. E foi assim que eu finalmente percebi. Querer que ele esteja bem nunca foi realmente sobre ele. Sempre foi sobre mim. Eu não queria ter que suportá-lo durante um período prolongado de sofrimento. Eu queria isso terminado. Resolvido. Para que eu pudesse voltar a ser feliz. Eu sabia que mamães ursas (como eu) são protetoras e controladoras mas essa foi a primeira vez que eu percebi que somos também egoístas. Tão egoístas que, de fato, estamos dispostas a cortar caminho no que Deus deseja fazer na vida de alguém, só para que não tenhamos que aguentar o desconforto de assistir.

Quando a pequena Susie não se enturmou na escola, mamãe ursas (como eu) não querem caminhar pelo longo e doloroso caminho de ensiná-la a confiar em Jesus. Nós simplesmente queremos fazer a dor de cabeça desaparecer. Queremos dar uma grande festa e convidar todas as meninas de cinco anos do estado. Mas e se Deus destinou esse momento para ser a primeira vez em que a pequena Susie se volte para Jesus com um problema real? E se essa dor de cabeça for a ocasião em que ela experimente pela primeira vez confiar em Deus e vê-lo agir em seu favor? Será que isso não vale um pouco de sofrimento? Para Susie… e mamãe ursa?

Confiando ao invés de consertando

Mas a única maneira de nos tornarmos o tipo de mulher com a capacidade de confiar ao invés de consertar é se estivermos em Cristo. Como cantou Davi.

Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares. (Salmo 46:1-2).

Você não anseia por ter tamanha confiança no dia em que suas montanhas pessoais se abalarem no seio dos mares? No dia em que seu marido perder o emprego? Ou o pediatra disser que você precisa consultar um especialista? Ou sua filha adulta ligar dizendo que vai se divorciar? Eu garanto a você, mamãe ursa anseia por isso. Porque ela entende a vida do outro lado. Ele vive numa casa construída sobre a areia, e mesmo nos dias bons, teme que ela esteja afundando. Eu gostaria de poder dizer que é fácil pegar uma casa e colocá-la sobre a Rocha Sólida de Cristo. Eu gostaria de dizer que é algo imediato. Mas não é. É uma escolha momento-a-momento de entregar e confiar. Então, e só então, nós poderemos ministrar às nossas famílias com o tipo de amor que diz: Venha como está, confuso e em dor. Eu permanecerei com você. Pelo tempo que for necessário.”

_____________

jeanne harrison*Esse texto foi publicado originalmente no blog True Woman, traduzido mediante autorização. Veja o original em inglês aqui.

** Jeanne Harrison é esposa de pastor e mãe de três meninas.

*** Tradução: Paula Ximenes