Art-AuctionNão é preciso muita experiência de vida para saber que, oferecidas as opções, um jovem rapaz escolherá uma jovem atraente com um belo rosto em vez de uma jovem com olhos fracos. Até mesmo os patriarcas bíblicos eram suscetíveis à beleza exterior. “Ora, Labão tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel, a mais moça. Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante. Jacó amava a Raquel […].” (Gênesis 29:16-18a). Ele escolheu a garota bonita. E, num tempo em que não existia Maybelline, ela provavelmente possuía uma beleza natural. Ela não ganhou no jogo do “ganhe o homem” porque ela era melhor nos negócios e tinha contatos. Deus fez Raquel mais bonita do que sua irmã e conquistou para ela o amor do marido.

Somos inclinadas a gostar do bonito, não? É agradável aos olhos e presumimos que é bom de ter por perto. O romancista vitoriano George Eliot diz algo sobre belos olhos: “Cílios longos e escuros, agora – o que pode ser mais primoroso? Acho impossível não esperar alguma profundidade de alma por trás de olhos verdes-escuros com longos cílios escuros, apesar de uma experência em particular que me mostrou que eles podem vir acompanhados de decepção, desvio e estupidez. […] Começo a suspeitar afinal que não há relação direta entre cílios e moral […]” (BEDE, Adam, p. 154).

É preciso experiência de vida e sabedoria para ver além dos olhos e enxergar o caráter. Talvez seja por isso que o livro de Provérbios é tão explícito acerca da dicotomia interna/externa enquanto fala aos jovens rapazes: “Enganosa é a graça, e vã, a formosura […].” (Provérbios 31:30a). Na narrativa de Gênesis, vemos que depois de anos de uma casamento difícil, Lia está aprendendo a louvar ao SENHOR (Gênesis 30:35), enquanto Raquel continua tão apegada a falsa religiosidade que furta os ídolos de seu pai e mente sobre isso (Gênesis 31:19). Olhos fracos não impediram o cuidado de Deus com Lia e um rosto bonito não estava ajudando Raquel.

Augustine comentou que a beleza era um presente de Deus, mas um presente que Ele deu a todas as pessoas de modo que os crentes não a valorizassem demais em si mesmos. As pessoas geralmente não veem isso. Mesmo a astuta Jezebel, quando ouviu que Jeú estava a caminho para encontrá-la, pensou que um pouco de maquiagem e delineador o desviaria de cumprir a profecia de Deus sobre a sua morte (2 Reis 9:30-3). É a imaturidade espiritual que nos faz associar o bonito com o bom, confundindo a verdadeira beleza com a atração exterior.

Belos olhos podem nos fazer pecar (Marcos 9:47) ou serem cheios de adultério (2 Pedro 2:14). Eles podem ver o SENHOR trabalhando e permanecerem inalterados (1 Samuel 24:10). Eles podem ser cegos às suas próprias faltas (Lucas 6:42). Por outro lado, olhos fracos que podem ser lâmpada para o corpo (Lucas 11:34). Eles podem ver o retorno do SENHOR (Isaías 52:8).

No final, é Lia quem é enterrada na caverna de Macpela com os outros da linha messiânica. Olhos fracos, uma irmã bonita e um casamento sem amor não impediram do SENHOR usar Lia de forma poderosa. Isto deveria ser um encorajamento para aqueles dentre nós que não são tão bonitos quanto desejam, assim como um aviso para aqueles que são iludidos por belos olhos vazios de conteúdo. Isso não é para condenar a maquiagem como essencialmente má; é para dar perspectivas e alinhar as prioridades.

2014-10-29

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Este post é uma tradução de um artigo de Rebecca VanDoodewaard publicado originalmente no Blog “The Christian Pundit” traduzido e re-publicado com permissão da autora.

*Rebecca VanDoodewaard é dona de casa, editora free-lancer e escritora. Ela é esposa do Dr. William VanDoodewaard, ministro da Associate Reformed Presbyterian Church e professor de História da Igreja no Puritan Reformed Theological Seminary, com quem tem 3 filhos. O casal bloga no “The Christian Pundit”

** Tradução: Vivian Junqueira