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Fonte: Google Imagens

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As crianças devem ser treinadas no caminho da fé no Senhor Jesus Cristo.

Eu espero que muitos de vocês saibam, para a alegria diária das vossas almas, que Cristo é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14: 6). É por meio dEle que, com confiança, temos ousadia e acesso a um Deus que de outra forma poderia aparecer como um “fogo consumidor” (Hb 12:29).

É, portanto, muito importante levar as crianças rapidamente ao conhecimento de Cristo. Sem dúvidas, o conhecimento de Cristo é uma parte considerável da “doutrina e admoestação do Senhor”, que o apóstolo recomenda e talvez seja o que ele se referia principalmente por meio daquelas palavras (Ef 6: 4).

Devemos, portanto, ensinar-lhes rapidamente que os primeiros pais da raça humana se rebelaram contra Deus da forma mais ingrata possível e sujeitaram a si mesmos e toda a sua descendência à ira de Deus e à sua maldição (Gn 1-3). As terríveis consequências disto devem ser explicadas de forma geral e devemos trabalhar para convencê-los de que eles se fizeram merecedores da ira de Deus – algo terrível – por causa de sua culpa pessoal. Assim, pelo conhecimento da lei, devemos abrir caminho para o Evangelho – a alegre notícia da libertação por Cristo.

Feito isso, muito cuidado deve ser tomado para que não preenchamos as suas mentes com uma aversão a uma Pessoa sagrada da Trindade, enquanto nós nos esforçamos para atraí-los à outra. O Pai não deve ser representado como severo e quase inexorável, ao qual triunfamos com grande dificuldade por meio da intercessão de seu Filho compassivo, a fim de ter sua atenção voltada para pensamentos de misericórdia e perdão.

Longe disso, deveríamos falar de Deus como a fonte transbordante de bondade, cujo olho sente pena de nossa angústia impotente, cujo braço todo-poderoso estava estendido para o nosso resgate, cujos eternos conselhos de sabedoria e amor formaram esse importante plano de salvação no qual colocamos todas as nossas esperanças.

Nossos filhos devem ser ensinados desde cedo a respeito disso para que aprendam acerca do plano da salvação tanto quanto o seu entendimento e nossas explicações permitam.

Devemos repetir muitas vezes a eles que Deus é tão santo e tão gracioso que, apesar de ter em suas mãos o poder de destruir o homem ou punir o pecado, Ele fez de seu próprio Filho um sacrifício vivo, fazendo-o humilde para que fôssemos exaltados e morrendo para que pudéssemos viver.

Devemos também mostrar a eles – com uma santa admiração e alegria – como o Senhor Jesus prontamente consentiu em comprar nossa libertação por um preço tão caro. Como alegremente Ele disse: “Eis que venho para fazer a tua vontade, ó Deus” (Hb 10: 7, 9), para enfatizar o valor deste amor incrível. Devemos nos esforçar, de acordo com nossa fraca capacidade, para ensiná-los quão compassivo o Redentor é, para apresentar a eles um pouco da Sua Glória como Filho eterno de Deus e grande Senhor dos anjos e dos homens. Devemos instruí-los a respeito de sua maravilhosa condescendência ao deixar de lado esta glória para que pudesse tornar-se pequeno, fraco, criança impotente e, posteriormente, um homem de dores, afligido (Is 53). Devemos levá-los ao conhecimento dessas circunstâncias da história de Jesus que pode ter a maior tendência para alcançar as suas mentes e impressioná-los com um senso precoce de gratidão e amor a Ele. Devemos contar-lhes como Ele se fez pobre para que pudesse nos enriquecer, como diligentemente Ele andou fazendo o bem, como de boa vontade Ele pregou o Evangelho para as menores das pessoas. Devemos contar-lhes especialmente como Ele foi gentil aos pequeninos e como Ele repreendeu os discípulos quando eles tentaram impedir que eles fossem levados a Ele. É expressamente dito que Jesus estava muito descontente e disse: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.” (Lc 18:16) – Uma situação delicada que talvez tenha sido lembrada, pelo menos em parte, por esta mesma razão: as crianças quando mais velhas poderiam ser impressionadas e tocadas por isso.

Através destas cenas de Sua vida, devemos conduzi-los à morte de Cristo. Devemos mostrar a facilidade com que Ele poderia ter libertado a si mesmo – afinal, Ele mesmo deu evidência tão sóbria de que com uma palavra podia derrubar aqueles que viriam a prendê-lo (Jo 18:6) – e ainda como ele pacientemente se submeteu às mais cruéis injúrias: ser flagelado e cuspido, ser coroado com espinhos e carregar a sua cruz.

Devemos mostrar-lhes como esta pessoa inocente, santa e divina foi levada como um cordeiro ao matadouro; e, enquanto eles estavam perfurando-o com pregos, ao invés de amaldiçoá-los, Ele orou por eles, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”(Lc 23:34). E quando seus pequenos corações ficarem admirados e derretidos com uma história tão estranha, devemos dizer-lhes que foi assim, Ele gemeu, sangrou e morreu pelos pecadores como nós, e devemos lembrá-los, muitas vezes de seu próprio interesse com o que foi realizado.

Devemos conduzir os seus pensamentos para as visões gloriosas da ressurreição e ascensão de Cristo e dizer-lhes com que adorável bondade Ele ainda se lembra de Seu povo em meio à Sua exaltação, defendendo a causa de criaturas pecadoras e empregando Seu interesse no tribunal do céu para adquirir vida e glória para todos os que creem Nele e que O amam.

Devemos, então, continuar a instruí-los nessas demonstrações de obediência por meio das quais a sinceridade de nossa fé e do nosso amor devem ser aprovadas. Ao mesmo tempo, devemos lembrá-los de sua própria fraqueza e dizer-lhes como Deus nos ajuda, enviando o Seu Espírito Santo para habitar em nossos corações para nos capacitar a toda boa obra e palavra. Uma lição importante sem a qual tanto a nossa instrução quanto os seus ouvidos atentos serão vãos!

2015-04-27

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doddridge_p2 *Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Janeiro de 2015) , traduzido com permissão do editor.

** Philip Doddridge (1702-1751) foi um ministro Inglês não conformista; prolífico autor e escritor de hinos; nascido em Londres, Inglaterra. Este artigo foi tirado do livro “The Godly Family” (A Família Piedosa), reimpresso em Inglês pela editora Soli Deo Gloria.

*** Tradução: Bruna Burgana e Flávia Silveira