abigail e davi

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Como exerci a sabedoria da Escritura e evitei uma tragédia – Certo dia se soube que uns homens estavam acampados perto de onde os nossos rebanhos pasciam, nas proximidades da nossa fazenda. Soubemos que se tratava de um valoroso soldado do nosso rei Saul, que havia deserdado das hostes de Israel porque o rei sentiu ciúmes dele porque ele ganhava fama rapidamente quando retornava das batalhas, em todas vencedor, e o povo o saudava e o engrandecia acima mesmo do rei. Mas o comentário geral era que se tratava de um soldado leal e que tinha o rei em alta conta, respeitando-o como o ungido do Senhor. O nome desse soldado era Davi. Então, tendo deserdado, esse soldado foi acompanhado por uma turba de homens desocupados e endividados, que encontraram nele um líder. Esses homens, então, estavam acampados bem perto onde os nossos empregados cuidavam dos rebanhos. Um dia, o líder deles – Davi –enviou alguns dos seus moços a pedir algum tipo de ajuda ao meu marido, qualquer coisa, a fim de serem ajudados na vida difícil que estavam levando na qualidade de fugitivos. Os moços vieram de forma humilde até a nossa fazenda e apresentaram a solicitação, mas foram duramente respondidos pelo meu marido, que mandou que os rapazes levassem um recado muito desaforado, mesmo os rapazes tendo dito na apresentação que não estavam ali cobrando nenhum direito, embora estivessem fazendo o bem aos rebanhos, respeitando os pastores, servindo de proteção para eles e para os rebanhos, mas nem assim meu marido os ouviu, despedindo-os de mãos vazias e ainda fazendo-os levar uma atrevida resposta. Eu mesma não vi a cena, mas fui informada rapidamente por um dos servos da fazenda, que me procurou e relatou como os rapazes vieram com humildade e falaram ao meu marido e como ele disparatou com eles.  O meu empregado me fez um relato tão vívido e impressionante, que pude enxergar que a sabedoria divina estava nele, pois que também é filho de Abraão, tendo sido criado na instrução da Palavra de Deus, por isso da sabedoria que manifestou ao fazer a leitura correta de tudo quanto presenciou, dando inclusive possibilidades exatas do que aconteceria, caso não fosse tomada uma providência. Antes que pudesse agir, glorifiquei a Deus porque vi se cumprir no meu servo as palavras de que “a lei do Senhor é perfeita e dá sabedoria aos símplices” [Salmo 19.7], e também exultei no Senhor porque Ele oculta essas coisas dos sábios e entendidos e as revela aos pequeninos. Depois disso, e movida pelo alerta do meu empregado, e também sendo pressionada pela Palavra de Deus, que me ensinou a ter espírito conciliador, espírito bondoso, espírito ajudador, preparei rapidamente uma feira considerável, com a ajuda dos criados, carreguei os mulos e parti pressurosa com alguns criados, sem nada dizer ao meu marido. Nada disse a ele não por falta de submissão, mas porque se fosse dizer ele certamente me impediria, e, nesse caso eu não poderia ser impedida de agir, pois havia risco de vida no episódio. Lembrei-me das parteiras judias, Sifrá e Puá, que para preservar a vida dos recém-nascidos de Israel, quando sob o cativeiro egípcio, desobedeceram a Faraó a fim de livrarem da morte os pequeninos. Lembrei-me também de Raabe, a moradora de Jericó que protegeu os espias mandados por Moisés, escondendo-os dos que os procuravam para matá-los, e os encaminhou de volta ao seu porto-destino. Então, parti a toda pressa rumo a Davi e seus homens, a fim de evitar uma tragédia que certamente se abateria contra os homens da nossa fazenda, porque nesses casos de afronta, o costume do afrontado era matar todos os homens. A certa altura do caminho, encontrei Davi e seu bando vindo céleres na direção da nossa fazenda. Eu gelei, porque toda a nossa expectativa se mostrou verdadeira. Vi como a sabedoria de Deus, presente no meu servo, o conduziu a mim, e juntos lutamos para pacificar essa situação. Quando nos aproximamos de Davi, imediatamente eu desci do meu mulo e me inclinei diante dele, prostrando-me sobre o meu rosto até a terra. Aquela atitude minha foi um gesto de respeito, mas também de paz. Eu precisava mostrar rapidamente a disposição do meu coração, e a forma mais prática que encontrei foi prostrar-me e me inclinar até a terra, deixando clara a minha disposição de paz. Depois disso fui além: lancei-me aos seus pés e assumi qualquer culpa decorrente de uma mulher que se dirige a um homem sem ser chamada, algo que não poderia acontecer na nossa sociedade, por causa da obediência ao 5º mandamento da lei do Senhor. Como Davi não reprovou a minha iniciativa de falar a um homem sem ser chamada, então entendi que poderia prosseguir no meu argumento, que ele estaria pronto a me ouvir. Prossegui descrevendo o espírito louco do meu marido, e que em nada eu compactuava com a atitude dele em afrontar os moços que o procuraram. Eu disse também que não estava presente quando os rapazes chegaram para apresentar o pleito. Chamei a atenção de Davi para o fato de que a minha intervenção o impedia de derramar sangue e vingar-se pelas próprias mãos e classifiquei todos os seus inimigos como procedendo semelhantes ao meu marido, isto é, com loucura (disse isso porque o que ouvíamos acerca de Davi era que era um soldado leal e mesmo assim era vítima de ciúme, perseguição e tentativa de homicídio, o que se constituía numa tremenda injustiça). Ao falar, percebi que minhas palavras estavam produzindo os efeitos que a sabedoria promete produzir, isto é, estavam apaziguando o ânimo exaltado de Davi. Essa é a grande vantagem de falar segundo os oráculos de Deus, segundo a sabedoria que Ele nos ensina na sua Palavra. Um só argumento segundo a Palavra do Senhor vale mais do que milhares de preceitos humanos e sabedoria pessoal. Antes de concluir o meu argumento, apresentei a Davi e seus homens o presente que havia trazido para eles: comida, muita comida, farta e saborosa, com a qual eles poderiam saciar a fome e ainda sobraria para outras refeições. Terminei pedindo perdão pela minha transgressão – por ter dirigido a palavra a ele sem que ele a tenha dirigido primeiro a mim – e então pronunciei as palavras que normalmente são endereçadas aos ungidos do Senhor (pois ouvíamos que o Senhor havia rejeitado a Saul e ungido a Davi em seu lugar, segundo todas as palavras do nosso pai Samuel, o profeta): Disse a ele que o Senhor o protegeria dos inimigos, e que estes seriam arrojados para longe, e para isso usei todos os meus dons poéticos, aprendidos e desenvolvidos na minha juventude. Ainda lembrei a Davi que quando ele ascendesse à condição de príncipe do povo de Deus, o sangue do meu marido – caso ele o poupasse – não seria peso na sua consciência (por ter exercido a vingança pessoal, algo da exclusiva autoridade de Deus) ao longo do seu reinado. Depois que falei tudo isso, então Davi tomou a palavra e bendisse a Deus, reconhecendo que foi o Senhor que me enviou até ele, e bendisse a minha prudência e a minha pessoa, reconhecendo que a minha argumentação o impediu de cometer um crime contra Deus. Eu tenho plena consciência que nada fiz de mim mesmo, mas a Palavra de Deus em mim foi quem agiu dessa forma sábia, conduzindo as coisas pelo caminho da paz, desarmando fortalezas e estabelecendo a glória de Deus.

Minha viuvez e meu novo casamento – Tendo Davi recebido o presente das minhas mãos, e tendo ficado declarado que a paz havia prevalecido, montei no meu mulo e retornei à minha casa juntamente com os meus servos. Ao chegar em casa, Nabal estava em pleno banquete (a festa que fazíamos comumente quando da tosquia das ovelhas, pois significava a prosperidade da fazenda e a bênção do Senhor) e o banquete era ao estilo regalado, tudo do bom e do melhor. Como percebi que ele estava já dominado pelo vinho, nada lhe referi do acontecido (pois uma esposa nada pode ocultar do seu marido, principalmente num caso grave desse). Esperei, então, a festa terminar e Nabal dormir o sono dos embriagados. Mas, assim que ele acordou no dia seguinte, e ainda na cama, eu lhe contei tudo quanto acontecera, sem lhe encobrir qualquer detalhe. A reação dele foi uma profunda comoção, ficando completamente imóvel. Senti que a situação dele era grave e chamei depressa os criados e mandei buscar os médicos para diagnosticarem e cuidarem do meu marido. O amor da esposa pelo marido deve conduzi-la a agir para com ele da melhor maneira, tudo por causa do temor do Senhor, independente de quem ele seja, do seu caráter, da sua ignorância ou brutalidade. Tudo pode acabar, mas o amor jamais acaba. Os médicos vieram e disseram que a situação dele era muito grave. Eu me dediquei a ele ao máximo, cuidando dele e tudo fazendo para que ele se sentisse bem e fosse curado. Mas essa cura não veio e depois de dez dias o Senhor o tomou. Chorei meu marido e chorei pela minha viuvez. Mas nunca deixei de confiar em Deus, tendo nele o meu refúgio. Nos dias seguintes pude perceber na prática aquilo que sempre cantei no Salmo 146, que Deus ampara o órfão e a viúva, e isso me confortou o coração e me senti plenamente segura, mesmo na minha viuvez. Depois de um tempo passado, Deus providenciou-me um novo casamento. Estando eu em casa, recebi uns moços que me traziam uma proposta de casamento, mandada justamente por Davi. Eu sei que Deus me fez uma mulher formosa, porém, tenho absoluta certeza que Davi, sendo um homem de Deus, não se deixou encantar pela minha beleza, mas pela minha sensatez. O que me enfeitava não era a minha beleza, mas a minha prudência. Lembro-me que quando estive com ele, argumentando, e ao terminar, ele elogiou não a minha beleza, mas a minha prudência. Eu sempre aprendi da Palavra de Deus que os enfeites de uma mulher não são as jóias, os pendentes, as arrecadas, mas as boas obras de obediência aos preceitos do Senhor. A beleza passa e vã é a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada. Enquanto pensava na proposta, entendi que foi Deus quem deparou essa nova oportunidade para mim. Reuni minhas moças e juntas fomos ao encontro de Davi. Ao chegar, fui recebida por ele, que me tomou como esposa.

Às mulheres que viverão depois de mim, digo que não há tesouro maior do que ser instruída na lei do Senhor. As rendas que ela nos proporciona são bem maiores do que o fino ouro, mesmo o ouro depurado. Fui enriquecida desde a minha meninice e me tornei mais e mais rica no temor do Senhor, algo que me acompanhou por toda a vida e me ensinou a agir de conformidade com a vontade de Deus. Por tudo isso eu as encorajo a também temerem a Deus, procurando aprofundar-se na sua Palavra, a fim de manter a submissão ao pai, ao marido, às autoridades da igreja, pois somente desta forma é que tudo lhes irá bem, pois serão sempre louvadas e a glória do Senhor será estabelecida.

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Pr edson azevedoPr. Edson Azevedo serve como pastor da Primeira Igreja Batista Reformada em Caruaru – PE desde 22 de julho de 2000.  É formado em Engenharia Civil pela UFPE, em Teologia e Música Sacra pelo Seminário Batista (STBNB), Pós graduado em Bíblia pelo Mackenzie e Mestrando pelo Seminário Internacional de Miami – MINTS. É membro da Comissão Brasileira de Salmodia – CBS. É casado há 30 anos com Rute, com quem tem 2 filhos, Filipe Levi (29) e Anna Maria (26).