V0015876 Portrait of Oliver Caswell and Laura Bridgman reading emboss Credit: Wellcome Library, London. Wellcome Images images@wellcome.ac.uk http://images.wellcome.ac.uk Portrait of Oliver Caswell and Laura Bridgman reading embossed letters from a book. Lithograph by W. Sharp, 1844, after A. Fisher. 1844 By: Alanson Fisher and BouvÈ & Sharp.after: W. SharpPublished: 1844 Copyrighted work available under Creative Commons by-nc 2.0 UK, see http://images.wellcome.ac.uk/indexplus/page/Prices.html

Como o evangelho fala sobre deficiência dentro da igreja? Que lugar os deficientes tem no Reino de Deus? Esses assuntos são maravilhosamente abordados na graciosa história de redenção em 2 Samuel 9. Esse capítulo e a interação entre Davi e Mefibosete nos dá uma amostra da política do reino para os deficientes.

A Busca do Rei pelo Deficiente

O Rei Davi estava em busca de qualquer pessoa da casa de Saul a quem ele pudesse demonstrar bondade, por amor de Jônatas. Perceba que no versículo 1 a busca de Davi é motivada pela bondade. Ele não é movido por um motivo altruísta, mas pela bondade prometida em sua aliança com seu amigo Jônatas. O seu compromisso é mostrar amor àqueles que seriam considerados seus inimigos, àqueles que possivelmente poderiam roubar o seu trono. A sua busca resultou em Mefibosete, aleijado, cujo nome significa “o portador da vergonha”, na cidade de Lo-Debar, que significa “nada”. Não há nada em Mefibosete que se possa elogiar à Davi. Ele carregou a vergonha da casa de seu pai, foi exilado e banido e era aleijado de ambos os pés. Davi poderia tê-lo ignorado ou deixado em Lo-Debar, mas ao contrário disso, ele mandou que Mefibosete fosse levado à sua presença.

Que cenário poderoso para a igreja acerca dos deficientes. O nosso compromisso para com os incapacitados não vem meramente de uma motivação altruísta – de ajudar àqueles que não podem se ajudar – mas é guiado pela bondade de um compromisso de dupla aliança – o compromisso de toda a igreja em educar suas crianças na doutrina e na admoestação do Senhor; e o compromisso de aliança do Rei Jesus para com a Igreja. Essa bondade busca os menos favorecidos no reino, que muitas vezes são esquecidos, e os traz à presença do Rei. Nesses versículos, o Evangelho fala a pessoas com uma vasta gama de deficiências – mentais, físicas, emocionais e espirituais. O evangelho fala àqueles que não tem nada do que se vangloriar em si mesmos. A aliança misericordiosa do rei Jesus que deve ser refletida na igreja busca e acha os deficientes e os traz à Sua presença. Se você conhece essa bondade constrangedora, então não deveria estar preocupado com os deficientes na igreja também?

O Rei Recepcionando o Deficiente

O coxo Mefibosete manca na presença do rei Davi. Ele fica ali, como um objeto de vergonha com nada a oferecer ao rei, exceto seu defeito. Ele se prostrou no chão do saguão real em miséria desprezível, sem dúvida pensando que esse era o fim da sua vida terrena. Mas Davi fala no versículo 7, “Não temas, porque usarei de bondade para contigo”. Essa duas palavras, “Não temas”, foram as melhores palavras que Mefibosete ouviria. Elas falam de paz ao seu coração e existência atribulados. E as palavras que se seguem são como chuva para sua seca alma, “porque usarei de bondade para contigo”. Ele esperava morrer, mas foi restaurado e favorecido pelo rei. Ele esperava raiva, mas recebeu bondade vinda dos céus.

O Evangelho fala sobre essa mesma mensagem poderosa àqueles que são deficientes, àqueles que foram marginalizados pela sociedade e até mesmo pela igreja. Frequentemente eles se encolheram com medo e vergonha, porque suas deficiências os impediram de participar dos meios regulares de graça. Aqueles com deficiência, mesmo que possuam um entendimento extremamente limitado, pertencem ao menor do reino. Eles também precisam do “Não temas” do Rei Jesus. Eles também precisam da bondade do Rei Jesus para suas almas. O Evangelho não impede estes de virem à presença do Rei, antes os convida à sua presença gloriosa, acalmando seus medos e falando bondades às suas almas.

A Provisão do Rei para o Deficiente

Como o Rei Davi provê para Mefibosete? Ele restitui a Mefibosete toda a herança de seu pai. Isso seria inédito naqueles tempos e, ainda assim, é exatamente o que acontece no versículo 7: “e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu comerás pão sempre à minha mesa”. E além da herança, ele promete uma provisão futura para o deficiente Mefibosete. A bondade de Davi não retém nada do homem deficiente; ele ministra sobre toda a pessoa de Mefibosete.

A bondade do Rei Jesus não retém nada dos deficientes em nosso meio. Nas últimas décadas a igreja começou a ver seu papel na institucionalização e na marginalização dos deficientes. Nós precisamos perguntar: Nós privamos os deficientes de sua herança no Evangelho? Muito frequentemente esse tipo de pensamento ainda influencia alguns dentro da igreja: os deficientes estão em melhor situação onde outros podem cuidar deles. Preferimos ter igrejas cheias de pessoas totalmente saudáveis a lidar com aqueles que nos desafiam com suas deficiências. Mas nosso desafio deveria ser alcança-los com o evangelho e devolver a eles o que é legitimamente deles no pacto da graça controlado pela bondade do Rei Jesus. Isso é desafiador, porque significa que a igreja deve receber calorosamente aqueles que podem fazer barulho e no início fazer com que nos sintamos estranhos no culto público. Significa que nós precisaremos gastar energia ensinando um a um a levar o evangelho para crianças e adultos deficientes. Significa que a igreja como corpo de Cristo deve demonstrar o coração daquele que é o cabeça da Igreja aos que são deficientes. Essas crianças que Deus confiou aos seus pais e à sua igreja são tão valiosas e merecedoras do evangelho quanto crianças que não possuem deficiência. Elas também foram criadas à imagem de Deus e são herdeiras do Reino de Deus (forma para a administração do batismo).

A Adoção do Deficiente pelo Rei

Veja como Davi trata Mefibosete. Ele não simplesmente o coloca num quarto solitário, longe das atividades da casa real. Mefibosete é colocado no centro da família real. Davi o trata como um de seus filhos. No versículo 13 é falado enfaticamente, “Morava Mefibosete em Jerusalém, porquanto comia sempre à mesa do rei” (ênfase do autor). Ele senta à mesa do rei com Salomão, Adonias, Absalão e com a família real. Ele não é tratado como um exilado, mas recebe força e sustento da comida e da comunhão do rei. O rei adota Mefibosete como um dos seus, mesmo que ele não possa contribuir muito com a casa. Sua presença fala sobre benefícios intangíveis. Ele é um emblema da bondade e da graça do Rei.

Aqui novamente há um paralelo poderoso com o lugar do deficiente no reino de Deus. Eles não devem ser meramente postos num quarto silencioso à parte da vida e das atividades do reino. Eles devem ser tratados como filhos e filhas do Rei e devem se assentar em sua presença. Isso significa que eles estão debaixo dos meios de graça através dos quais o Rei fala. Esse paralelo fala sobre o lugar dos deficientes na mesa, até mesmo na Mesa do Senhor, quando eles são ensinados a discernir entre o corpo e o sangue do Senhor. Eles também devem receber força e cordialidade na Mesa do Senhor. Alguns podem ser tentados a pensar que pessoas deficientes não oferecem benefícios reais à igreja, ou que eles não são merecedores do evangelho. Mas o oposto normalmente é verdade. A própria presença deles no corpo da igreja não apenas beneficia a igreja, mas fala sobre a maravilhosa bondade do Rei Jesus.

A Cura dos Deficientes pelo Rei

Mefibosete era aleijado de ambos os pés e nunca lemos sobre sua cura. Mas o evangelho fala sobre a cura dos deficientes. Mefibosete foi curado da sua vergonha e reintegrado por Davi do seu banimento, e nós confiamos que ele viveu com esperança na cura futura, no cumprimento do reino. Essa deve ser a grande esperança que o evangelho oferece aos pais e parentes daqueles entre nós que são deficientes, e a igrejas que os recebem em seu meio, preocupando-se com eles e nutrindo suas almas nessa vida. É por isso que nós os trazemos ao Rei em oração. É por isso que nós os trazemos à presença do Rei para ouvir sua voz de misericórdia e bondade. Não somos nós compelidos por nossas confissões a declarar e difundir o evangelho com suas promessas e ordenanças “a todos os povos e a todos os homens, aos quais Deus em seu bom propósito envia o Evangelho, com a ordem de se arrepender e crer” (Cânones de Dort, II.5)? É para isso que a igreja é chamada, a fim de que os deficientes também possam ter seus corações mudados pela bondade do Rei soberano, cujo prazer está na multidão de sujeitos, não importando quais habilidades ou deficiências eles tenham.

Na esperança do evangelho, também há a esperança na cura futura, na plenitude do reino de Cristo. O ressurreto Senhor da vida dá vida espiritual a crianças deficientes e tem prazer em toma-los para si e curar tanto corpo quanto alma. Isso é demonstrado pelo ministério de boas novas de Cristo, por sua bondade em curar alma e corpo de inúmeros deficientes (Lc 13:10-17). Reflitamos sobre o coração bondoso do Rei Jesus enquanto ministramos o evangelho aos deficientes. Que essa política do reino também seja a nossa política.

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maarten*Esse artigo foi originalmente publicado na revista The Banner of Sovereign Grace Truth (Edição online de Janeiro/Fevereiro/2016 , traduzido com permissão do autor.

**Rev. Maarten Kuivenhoven é pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation of Grand Rapids, Michigan, e estudante de doutorado no Calvin Theological Seminary, Grand Rapids, Michigan.

*** Tradução: Sara Mendonça