victorian womanQuando pensamos no tema Finanças atrelado à fé cristã, o que nos vem à mente? Será que meditamos sobre a importância de administrarmos bem nossos recursos como forma de obediência e de render glórias ao Deus criador de todas as coisas? Como mulheres cristãs, pensamos como um assunto de relevância apenas às mulheres que têm renda própria? Nas atividades do lar, posso apoiar mais ativamente meu marido nesta administração?

Buscaremos refletir sobre isto no decorrer do texto. Mas, antes precisamos meditar sobre alguns aspectos importantes quando o assunto é Finanças.

Um pouco sobre Mordomia Cristã
Deus é o criador e o mantenedor de tudo o que há (Sl 24:1-10), e escolheu confiar ao ser humano os cuidados e a gerência de uma parcela daquilo que Lhe pertence. Vemos isto desde o princípio, quando o Senhor criou Adão e lhe atribuiu a responsabilidade e o privilégio de ter domínio sobre todo o restante da criação (Gn 1:26).

Deus soberanamente decidiu designar a administração de parte de sua criação ao homem e à mulher – os bens, o tempo, a família, o trabalho, etc. A este papel é dado o nome de mordomo (administrador dos bens de outrem). Ou seja, não somos donos de nada, mas nos cabe cuidar, zelar e buscar fazer melhorias ou prosperar tudo aquilo que o Senhor nos confiou, de forma que o nome dEle seja glorificado!

Na passagem de 1 Crônicas 29:9-19, encontramos uma belíssima oração do rei Davi após dirigir ao povo algumas instruções para edificação do templo. Essa oração nos mostra elementos importantes para entendermos um pouco da doutrina da Mordomia Cristã:
Teu, Senhor, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos.

Riquezas e glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo está o engradecer e a tudo dar força.
Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos. (1Cr 29: 11,12,14)

Dízimo e Ofertas
Vale uma breve palavra sobre o dever cristão da entrega do dízimo como uma demonstração de fidelidade ao Senhor (Ml. 3:6-12). O dízimo é um assunto espiritual tanto quanto qualquer outra ordenança que as Escrituras abordam. As ofertas também são mencionadas como um ato que deve ser voluntário, espontâneo, como expressão do contentamento, alegria e interesse genuíno de colaborar em uma causa específica (2Co. 8 – 9).

Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento falam sobre o dízimo e as ofertas:
Antigo: Gênesis 14:20; Levítico 27:30-34; Deuteronômio 12:6,11,17; Provérbios 3:5-10; Provérbios 11:24-26; Malaquias 3:6-12.
Novo: Mateus 23:23; Marcos 12:41-44; 2Coríntios 8:1-15; Hebreus 7:1-10; 1João 3:17.
Certo, então alguém pode pensar: “Se entrego fielmente o dízimo e oferto algumas vezes, o restante é todo meu e posso gastá-lo como bem entendo!”. A resposta é NÃO! O cristão deve demonstrar sua fidelidade e temor a Deus também no uso de seu dinheiro. Por isso, devemos administrar os recursos e cuidar dos bens com sabedoria, cientes de que prestaremos contas de tudo ao Senhor no dia final (Ap 20:12).
Não vou me ater a isso, mas investir em educação / instrução, saúde, em sua moradia e em lazer com sua família são algumas sugestões práticas de onde podemos aplicar o dinheiro que Deus nos dá.

Fidelidade e Frugalidade
Deus é o provedor para atender a todas as nossas necessidades. Em Mateus 6:25-34, temos a linda passagem que diz que o Todo-Poderoso compromete-se em suprir nossas vidas com o alimento e as vestes. Como Pai celeste, ele cuida continuamente de maneira especial daqueles que nEle confiam. O salário que nossa família recebe é um instrumento da providência de Deus para que nossas necessidades sejam supridas.

Ligada à provisão de Deus está o Seu domínio sobre todas as coisas. Ele é o proprietário absoluto de tudo (Jó 41:11, Êx 19:5, Sl 24:1). De maneira geral, os cristãos afirmam reconhecer que tudo pertence ao Senhor, porém alguns demonstram incoerências na prática, com falta de confiança, zelo e mal uso de seu tempo, bens e outras bênçãos, não honrando ao senhorio de Deus sobre tudo o que têm e são.

A busca desenfreada para obter mais e mais lucro, não pode fazer parte da vida de um verdadeiro cristão. Ao invés de ter uma vida caracterizada pela ganância e pelo consumismo, um embaixador de Cristo deve buscar ter uma vida de frugalidade, que espelhe contentamento e gratidão por tudo o que tem recebido das graciosas mãos do Senhor (1 Tm 6:6-8).

Muitos evangélicos atualmente creem na chamada “doutrina da prosperidade” como verdadeira e benéfica, porém encontramos nas Escrituras ensinamentos no sentido oposto – aqueles que seguem a Cristo são chamados a um voto de simplicidade. Devemos usar o dinheiro sem abusar dele; usá-lo de maneira controlada, sem ser controlado por ele. Assim como todas as demais coisas, o dinheiro deve ser usado nos limites de uma vida espiritual disciplinada, administrado para a glória de Deus e não visando apenas o próprio bem. A maneira como lidamos com a provisão material deve expressar um estilo de vida de modéstia e temperança, sem luxos, extravagâncias ou ostentação.

Vale ressaltar que um estilo de vida simples não significa “voto de pobreza”, no qual a pessoa se destitui quase que totalmente de recursos financeiros, julgando que esta obra comova a Deus e o faça merecedor do céu. Comunismo nunca foi defendido nas Escrituras!

A esse respeito, Richard J. Foster diz o seguinte: “Cristãos ensinados e disciplinados corretamente adquirirão a capacidade de possuir as coisas sem ser corrompidos por elas e usá-las para os propósitos mais amplos do Reino de Deus… a destituição total geralmente é uma forma bastante rasa de ajudar aos necessitados. Com certeza é muito inferior à administração e ao uso apropriados dos recursos. Quão melhor é ter riqueza e recursos nas mãos daqueles que são corretamente disciplinados e estão bem informados, a partir de uma visão cristã do mundo, do que abandonar essas coisas aos servos de Mamom!” (termo usado em Mateus 6:24 mostrando o dinheiro como um deus deste mundo).

O cristão não deve permitir que o dinheiro oriente seus planos de vida. Mas, como em tudo em nossa vida, Deus e Sua boa vontade devem guiar nossas decisões, inclusive, as financeiras, como no orçamento familiar, planejamento financeiro, investimentos, doações.

Tentações
Alguns podem ter a tendência de achar que administração dos recursos seja de importância apenas para as pessoas mais abastadas. Outros podem pensar que a necessidade de administrar bem o dinheiro seja uma preocupação apenas para os que não o recebem em grande quantidade. Mas, a responsabilidade de ser bom mordomo é para todos, com muitos ou poucos recursos. E a tentação de cair em pecados nesta área também pode alcançar todas as “classes sociais”, afinal sabemos que a raiz de todos os males não está nas circunstâncias da vida, mas sim em nosso coração enganoso e corrupto (Jr 17:9; Mt 15: 18-20).

Para citar alguns pecados que surgem do relacionamento humano com o dinheiro são: ganância, avareza, consumismo, desperdício, falta de contentamento e cobiça. E todos estão atrelados à Idolatria ao dinheiro (Mt 6:24, Lc 18:18-25, 1Tm 6:9-11). Para que não profanemos a santidade do Senhor com nosso adultério de adoração a outro deus e, não soframos com tais pecados, precisamos destronar o dinheiro, não o atribuindo elevada prioridade em nosso viver.

Novamente, usando uma citação do pastor Richard Foster: “Ao invés de fugir do dinheiro, devemos tomá-lo e usá-lo para os propósitos do Reino… Em lugar de rejeitá-lo, devemos conquistá-lo e usá-lo para finalidades não econômicas. O dinheiro deve ser subjugado e usado para propósitos mais grandiosos… Que tragédia será se a única coisa que fizermos com o dinheiro for usá-lo das formas comuns, e não com finalidades mais grandiosas.”

Alguns exemplos das finalidades grandiosas supracitadas podem ser:
– Estar atento a oportunidades para dedicar seu tempo e doar recursos para pessoas necessitadas (dê preferência aos da comunidade da fé);
– Investir na propagação do Evangelho: Auxiliando missionários ou investindo recursos em atividades locais que promovam isso;
– Lutar contra o materialismo, valorizando mais as pessoas em vez do dinheiro e das coisas: Lembrar que a criança que quebra o brinquedo é mais importante do que o brinquedo; Uma casa limpa e arrumada é para servir à sua família, não é a família que deve ser escrava da limpeza e da organização da casa; Estar presente é mais importante do que dar presentes; Desistir de comprar coisas caras para poder ajudar outros; Estar em casa para cuidar dos filhos que são heranças do Senhor, ao invés de sair para ter mais dinheiro para a família; Investir nos estudos de um jovem (não necessariamente seus próprios filhos); Quando for necessário emprestar dinheiro a alguém, não cobrar juros, pois denotaria exploração da dificuldade alheia;
– Eliminar qualquer possibilidade de favorecimento com base no dinheiro: Não fazer acepção de pessoas devido a suas posses, como o mundo o faz. Na igreja, não existe “status” e o dinheiro não deve significar nada, além do meio de sustentar sua família e ajudar ao próximo.

Continua…

2015-05-20

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Carol Ana Carolina S. Oliveira é casada há oito anos com Eduardo R. Oliveira, presbítero membro do Conselho da Igreja Presbiteriana em Poá-SP. É mãe de Sara de 4 anos e Leonardo que completará 1 ano de idade. Na igreja, realiza aconselhamento e discipulado com mulheres, atua na Sociedade Auxiliadora Feminina e realiza palestra para mulheres. Também possui formação em Comunicação Social e Pós graduação em MBA. Ela dedica-se em tempo integral à família e ao lar.