* Esse post é a sexta (e última) parte do artigo “A Mulher Puritana”. 

Embora o marido fosse sempre considerado a autoridade final em casa, com relação aos filhos e/ou servos ele devia permitir à esposa o lugar apropriado de autoridade sobre eles. O marido e os filhos deviam respeitá-la dessa forma. De fato, um corpo teológico publicou nessa época: “… pois, embora o marido seja cabeça da esposa, todavia ela é cabeça da família”. O lugar da mãe puritana certamente era em casa. Um puritano ‘tardio’, Benjamim Morgan Palmer, escreveu: “A esposa encontra seu mundo no lar, cujo cuidado pertence profissionalmente a ela. É sua função presidi-lo, assim como é a do juiz sentar na tribuna… ou a do mercador se mover nos círculos do comércio”. A seguir, Palmer descreve as diferentes esferas de influência designadas por Deus ao marido e esposa, concluindo: “Tão logo os limites entre eles sejam bem definidos, e nenhuma parte seja disposta a invadir a província designada por natureza ao outro, sérias colisões serão evitadas”. Palmer ressalta que se a esposa vive com respeito apropriado por seu marido, ela pode se dar como exemplo para seus filhos do por que a obediência deles a seu pai pode ser perfeitamente consistente com seu respeito próprio e felicidade. Ele escreve: “A esposa não impõe nada que ela mesma, hora após hora, não pratique. No momento em que ela ordena, ela lidera no modo de obedecer”. As crianças não precisam aprender essa lição com palavras: tudo pode ser compreendido num relance de olhos. Isto é, ele ressalta, de fato nada diferente daquilo que o próprio Senhor Jesus fez. Jesus voluntariamente colocou-Se sob o doce jugo de Seu Pai, mesmo até à morte, e foi altamente exaltado por ter feito assim. A mãe puritana devia fazer o mesmo.

Educação das Crianças

Damos a volta completa ao considerarmos agora a mãe puritana treinando a próxima geração de moças puritanas. Benjamim Palmer nos fornece uma advertência na hora certa, mesmo quando ele exorta os pais puritanos quanto ao método de treino que eles põem em prática com seus filhos. Ele ressalta, criando suspense nos detalhes, que método provavelmente terminará em tristeza. Ele chama a atenção, em primeiro lugar, contra o lar… 1. Onde há severidade, rigor habitual, mantendo a criança angustiada, e nunca penetrando com simpatia vivaz nas alegrias e tristezas dele ou dela. Ele acautela sobre ser muito reservado, muito absorvido nas preocupações dos negócios, muito temeroso de adentrar no simples mundo de nossos filhos. Ele conclui este ponto dizendo que um pai que evita esta cilada “governa fácil e bem, e governa quase sem freio ou rédea”. 2. O perigo da extorsão constante e dura do dever requerido. Não deixe que a única voz paternal ouvida seja a que manda, ele adverte. Um pai, ele continua, é mais do que um supervisor. Um filho, ele conclui, deve ser capaz de sentar à luz do sorriso de seus pais e regozijar-se em seu amor. 3. Há o perigo da crítica supérflua e sarcástica. Ninguém deve estar sob alerta para achar faltas. Ele escreve: “É melhor deixar a manga da jaqueta dilacerada do que, pior, dilacerar o coração do menino, que é repelido por um pai a quem ele deve prestar contas de todo contratempo…” Ao contrário, onde houver um desejo evidente por parte da criança para agradar, reconheça e encoraje o mesmo, ainda que a maneira de expressar não seja no geral satisfatória. 4. Evite favoritismo e comparações depreciativas entre uma criança e outra. O ciúme surgido dessa forma “queima como carvão de zimbro no coração que se sente rejeitado”. 5. Acautele-se do castigo severo infligido pela raiva ou em grau excessivo. Ele escreve que a criança pode rapidamente discernir entre a punição que é merecida daquela que é produto da raiva excessiva. Nunca humilhe ou degrade, mas antes corrija para correção. 6. Finalmente, conforme nossas crianças forem ficando mais velhas, tenha cuidado para não reter autoridade quando deveria gradualmente ser dado caminho à persuasão. Ele escreve: “É uma parte do próprio treinamento lançar a jovem águia sob suas próprias asas a balançar no ar. O jovem de dezesseis não pode ser governado como o menino de seis anos; e perde sua chance o pai que não for capaz de, quieta e gradativamente, substituir sua influência no lugar de autoridade… Sabedoria e tato são requeridos para se efetivar a mudança. Mas, como o tempo em que o exercício da autoridade deverá cessar deve chegar, a maneira como se dará essa gentil abdicação deveria ser objeto de estudo dos pais”. Quem de nós não recua com culpa ao ouvirmos essas advertências? Possa Deus não apenas perdoar nossos pecados, mas nos dar graça para andar no caminho bom e correto no que se refere a nossos filhos.

Conclusões

  1. Primeiro, nós não devemos esquecer que os puritanos eram pessoas como nós. Eles tinham seus temperamentos, seus fracassos, seus pecados, exatamente como nós temos. Mas eles exibiam, sim, no todo, uma séria determinação, pela graça de Deus, de viver tão próximo do padrão bíblico quanto eles podiam discernir que devia ser. Eles levavam a Palavra de Deus mais a sério do que qualquer outra coisa na vida. Nós precisamos disso também.
  2. Os puritanos eram sujeitos a muitas provações e dificuldades. Isso foi usado por Deus para moldá-los em um povo cujo foco da vida não estava nesta vida. Deus usava seus freqüentes encontros com a morte para dar-lhes uma “outra-mundanidade” – Eles verdadeiramente viviam como peregrinos e estrangeiros na terra. Esta visão penetrou na educação das suas crianças e penetrou no ainda mais privado recesso da vida humana, a ligação marital. Nós precisamos da graça de Deus para viver em todos os tempos à vista da eternidade e das coisas eternas.
  3. A mulher puritana era uma mulher que não apenas estava contente em viver conforme o padrão bíblico de Deus, mas era entusiasta em fazer isso, aperfeiçoando quase como uma ciência como ela poderia viver esse padrão em toda a sua plenitude e complexidade. Nós costuramos vestidos usando modelos. Ela costurava sua vida pelo modelo da Escritura.
  4. A visão puritana afinal cedeu lugar à invasão do mundanismo de nossa época. Creio que nós também estamos perdendo rapidamente os distintivos deixando-os para um mundo rapidamente invasor. Eu temo que nós todos temos captado muito mais do espírito deste século do que nós percebemos. Precisamos da graça de Deus para nos arrepender e procurar retomar, por Sua força, o terreno perdido.
  5. Nós apenas poderemos fazer isso quando novamente e seriamente considerarmos nosso papel ordenado por Deus na educação de nossos filhos. Sejam eles ensinados em casa ou educados em uma escola cristã, nós nunca podemos “abandonar” a responsabilidade do treino de nossas crianças passando-a para outros. Nós temos que ser diligentes e vigilantes para ficarmos seguros de que não apenas o nome da educação de nossos filhos seja “cristão”, mas que a substância dela o seja. Nenhuma escola ou igreja pode se responsabilizar pelos votos que você fez quando seu filho foi batizado. Você terá que responder por esse filho no último dia.
  6. Estudar, buscar, orar, aplicar as Escrituras – este era o coração da vida puritana. Nós podemos aprender com eles. Nós não apenas devemos buscar direção da Palavra de Deus, mas nós podemos, com a bênção de Deus, também aprender muito de nossos antepassados através de seus escritos. Nunca deixe os escritos dos homens suplantarem a Palavra de Deus. Mas, sim, permita esses escritos complementarem sua leitura das Escrituras.

O que John Geree escreveu sobre o Caráter de um Velho Puritano Inglês poderia ser corretamente aplicado à mulher puritana que nós temos tentado expôr para você hoje. Ela era… [uma mulher franca], firme em todo o tempo, de modo que aqueles que, no meio de muitas opiniões, tinham perdido a visão da verdadeira religião pudessem retornar a ela e encontrá-la ali.

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Este post é parte da Palestra “A Mulher Puritana” proferida na “Conferência da Mulher – HNRC” no ano de 1998 pelo Pr. David Lipsy. Traduzido e publicado em português originalmente na ”Revista Os Puritanos” (Ano XII, nº 02:2004), re-publicado com permissão do Projeto Os Puritanos e do autor.

*O Rev. David Lipsy é pastor da Grace Reformed Christian Church, Arkansas, USA. É casado com Ruth desde 1981 e são abençoados com oito filhos e dois netos. Depois de participar de Rutgers College of Pharmacy por quatro anos, completou a licenciatura em Educação em Lakeland College e serviu 14 anos como professor da escola cristã em Wisconsin. Cursou o M. Div. no Puritan Reformed Theological Seminary (PRTS) em Grand Rapids, MI e completou programas de certificação introdutória e avançada em Aconselhamento Bíblico no “Aconselhamento Cristão e Fundação Educacional” de Glenside, PA. Ele está próximo de completar o Doutorado do programa no Ministério Aconselhamento Pastoral de Westminster Seminary, na Filadélfia. Atua no Conselho de Administração do PRTS bem como no Covenant College, na Zâmbia, na África. Periodicamente ensina em ambas as instituições. Pastoreou a Congregação Reformada Heritage of New Jersey 1999-2008.