* Esse post é a segunda parte do artigo “A Mulher Puritana”. 

“Seja Útil”

Os puritanos sabiam como medir a utilidade das instituições de educação. Certo puritano escreveu este sintetizado padrão para avaliar a escolaridade de uma jovem: “Quando uma jovem volta para casa, se ela não é tão boa filha quanto era antes, qualquer que tenham sido as aquisições que ela possa ter adquirido na escola, teria sido melhor ela não ter ido para lá”.

Se a escola e a igreja de fato tiverem enfatizado esses valores louváveis, os puritanos preveniriam aos pais a que não anulassem o que essas instituições tinham feito por essas filhas. O puritano Richard Greenham avaliou essa advertência, dizendo: “Se os pais têm seus filhos abençoados na igreja e na escola, que eles tomem cuidado para que não dêem a seus filhos nenhum exemplo corrupto em casa… De outra forma, os pais lhes causarão mais danos em casa do que o bem que pastores e professores possam lhes fazer fora”. George Swinnock vai ainda mais ao ponto: “Alguns pais”, ele escreveu, “como Eli, criam seus filhos para a ruína de sua casa”. Nos dias do puritano John Angell James, havia também tendências educacionais em distúrbios, também de um tipo não desconhecido entre nós hoje, que estavam então tentando interromper o treinamento das moças puritanas. Ele escreve: “Na educação moderna, quanto não é programado, se não intencionado, mais para preparar nossas mulheres de modo que fascinem nos círculos da moda e nas festas, do que para brilhar no retiro de sua casa. Polir o exterior com aquilo que é chamado realizações, parece mais ser a finalidade do que dar um sólido substrato (i.e., fundamento) de piedade, inteligência, bom senso, e virtude social.

Nunca houve um assunto menos bem compreendido que educação. Armazenar a memória com fatos, ou cultivar um gosto musical, canto, desenho, línguas, e corte-costura, são o ultimato para muitos. O uso do intelecto no sentido de reflexão profunda, juízo são, discriminação acurada não é ensinada como deveria ser”. “O que James almeja para a educação das moças?”, você poderia perguntar. “Eu quero que elas sejam adequadas [de modo que possam] treinar homens e mulheres que serão o suplemento da força e glória da nação”.

A moça puritana era educada, não apenas em casa e na escola, mas também na igreja. Em uma série de sermões sobre educação religiosa de crianças, Phillip Doddridge, dirigindo-se a jovens, disse: “Primeiro, sejam dispostos a aprender as coisas de Deus. Segundo, orem por aqueles que ensinam vocês. Terceiro, atentem para que vocês não os aprendam em vão”. No mesmo sermão ele continua, a certa altura, dirigindo-se a desatentos e também a jovens piedosos, todos que estavam chegando à maturidade. Como mais e mais de nossas congregações recebem pastores de si mesmas, pela graça de Deus, eu penso que presbíteros, e especialmente os pastores, precisam mais e mais assistir aos pais dirigindo pelo menos parte de suas mensagens a nossas crianças sentadas na igreja.

A esse respeito, eu tenho citado hoje largamente o extenso livro escrito pelo puritano John Angell James sobre Piedade Feminina. A moça puritana a quem ele se refere, embora possa não ter tido uma educação universitária, deve ter sido pelo menos tão inteligente quanto muitas de nossos dias atuais graduadas no ensino médio. Uma mente precariamente educada teria tido considerável dificuldade em acompanhar seu raciocínio agudo e, às vezes, elevado vocabulário. O mesmo poderia ser dito do puritano A Guide for Young Disciples (Um guia para Jovens Discípulos) de J. G. Pike.

Talvez nós devamos pensar duas vezes antes de sentirmos pena da assim chamada escassa educação formal das moças puritanas. Depois de ter me preparado para este tópico eu receio que muitas moças aprenderam mais de real substância nos poucos anos de estudo que elas tiveram do que muitos de nós em talvez duas vezes os mesmos anos. A educação puritana era sempre considerada um meio para um fim útil. Utilidade quase nunca era medida em termos de riqueza ou realização pessoal, mas em termos de serviço para a família e para outros.

Tanto antes como depois do casamento, a jovem moça puritana era freqüentemente encorajada a, na linguagem puritana clara, “ser útil”. Dirigindo-se a mulheres, baseado em Filipenses 4:3, onde se lê sobre aquelas mulheres que “juntas se esforçaram comigo no evangelho”, o puritano John James escreve página após página despertando as mulheres, não “a fazerem prosélitos de uma denominação para outra”, mas ao “trabalho mais nobre e santo de salvar as almas de criaturas suas semelhantes, especialmente aquelas de seu próprio sexo…”. Ele acrescenta uma advertência, contudo. “O curso do zelo religioso é freqüentemente sobre uma vastidão, sobre pedras pontiagudas e rochas descobertas… Vocês terão que fazer sacrifícios de tempo, conforto, diversão, sentimentos, talvez de amizades; vocês terão que suportar dificuldades, e deparar-se com muitas coisas desagradáveis: vocês terão que estar preparadas para abandonar a vontade-própria… reivindicações por proeminência. Vocês podem ser zelosas de boas obras em tais termos? Se sim, vamos; se não, volte”.

Fiel à forma puritana, o escritor prossegue descrevendo quais características espirituais eram pertinentes para esse trabalho e depois continua a destacar “os meios nos quais seu zelo pode ser empregado apropriadamente ao seu sexo, idade e circunstâncias.” Qualquer moça podia ser útil. O mesmo autor ilustrou este ponto contando uma história sobre uma menina que ficou ofendida com o fato de várias lojas em sua vizinhança estarem abertas no domingo. Ela foi até seu ministro e pediu por folhetos sobre a observância do Dia do Senhor, colocou-os em envelopes e deixou-os nas casas da vizinhança. Sete lojas acabaram por fechar aos domingos.

Os puritanos, fossem meninas ou homens maduros, não eram pessoas não-fazemos-nada. Mas, muito do que eles fizeram, fizeram com séria preparação, consulta sábia e ação em oração. Uma pergunta para nós é: “Nossas filhas são úteis no sentido bom e correto da palavra?”. E quanto a isso, nós somos?

_____________
Este post é parte da Palestra “A Mulher Puritana” proferida na “Conferência da Mulher – HNRC” no ano de 1998 pelo Pr. David Lipsy. Traduzido e publicado em português originalmente na ”Revista Os Puritanos” (Ano XII, nº 02:2004), re-publicado com permissão do Projeto Os Puritanos e do autor.

*O Rev. David Lipsy é pastor da Grace Reformed Christian Church, Arkansas, USA. É casado com Ruth desde 1981 e são abençoados com oito filhos e dois netos. Depois de participar de Rutgers College of Pharmacy por quatro anos, completou a licenciatura em Educação em Lakeland College e serviu 14 anos como professor da escola cristã em Wisconsin. Cursou o M. Div. no Puritan Reformed Theological Seminary (PRTS) em Grand Rapids, MI e completou programas de certificação introdutória e avançada em Aconselhamento Bíblico no “Aconselhamento Cristão e Fundação Educacional” de Glenside, PA. Ele está próximo de completar o Doutorado do programa no Ministério Aconselhamento Pastoral de Westminster Seminary, na Filadélfia. Atua no Conselho de Administração do PRTS bem como no Covenant College, na Zâmbia, na África. Periodicamente ensina em ambas as instituições. Pastoreou a Congregação Reformada Heritage of New Jersey 1999- 2008.