Houve um tempo em que a memorização era uma importante parte do processo de aprendizagem de nossos filhos. Como atualmente o velho é considerado obsoleto e sem função, a memorização foi uma das habilidades deixadas pelo caminho há muitos anos.

Nesses tempos antigos, a tecnologia não oferecia suas facilidades para guardar uma gama incontável de informações. Então, a responsabilidade estava sobre os próprios ombros do aprendiz, ou melhor, ao encargo de seus próprios neurônios!

Pensemos no povo de Deus no Antigo Testamento, bem no início de sua constituição. Reflitamos um pouco na responsabilidade dos pais hebreus na educação de seus filhos. Muito mais que aprender como fazer o pão e métodos de plantio (que certamente são tarefas importantíssimas), a prioridade era “inculcar” nos filhos a palavra do Senhor: seus feitos, suas maravilhas, seu poder, além de perpetuar por gerações a noção de que Deus escolheu um povo para si e que por meio desse povo viria a salvação de muitos.

Portanto, é quase impensável falar de memorização e não citar o texto de Deuteronômio 6: 4-9:

“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”.

Percebam que a transmissão das verdades deveria ser uma constante na vida dos filhos, em meio a rotina. Elas deviam penetrar profundamente nos pequenos corações por meio da repetição incansável dos pais, até que fossem cimentadas às suas almas.

Como mencionei anteriormente, a facilidade de acesso que a tecnologia proporciona, tem nos tirado a necessidade da memorização. Afinal, decorar para quê, se na ponta de um dedo temos um doutor em milhões de assuntos? (Entenda-se Dr. Google). Temos ficado preguiçosas cognitivamente, e por consequência temos criado filhos apáticos ao esforço mental, principalmente no que diz respeito as Escrituras.

Afinal, para que serviria decorar centenas de versículos, se ao abrir a minha Bíblia (ou o meu tablet e afins..), posso recorrer ao meu Pai Celestial ? A resposta é simples: você deve sempre recorrer a Bíblia, mas nem sempre você e seus filhos a terão à mão. Por isso, devem ser guardadas no coração (= decoradas) como seu tesouro mais inestimável. Pois, em momentos difíceis e alegres, em situações de decisão e angústia, na hora da disciplina, você e seus filhos poderão sacar rapidamente de seus corações os versículos decorados, os trechos guardados durante todos os anos de empenho. E o melhor, o Espírito Santo irá aplicá-los diretamente a estas situações.

Em nossa casa, nossos filhos desde bebês tem decorado, os Provérbios, e hoje ao entrarem na adolescência, eles já sabem dezenas deles. No momento da exortação, citamos apenas o início do provérbio adequado à situação, e eles mesmos completam:

“Sem lenha o fogo se apaga, e não havendo maldizente, cessa a contenda.” (Pv 26:20)

“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera seus caminhos e sê sábio.” (Pv 6:6)

Em nosso Homeschooling, temos empreendido a tarefa de decorar as Epístolas de João. Não tenho conforto maior que pensar que meus filhos saberão textos inteiros que os ajudarão a passar pela juventude, e que em momentos cruciais, deverão tomar decisões sábias e honrar o nome de Cristo. Penso nos versículos já decorados:

“Não ameis o mundo e nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2: 15); ou “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1: 8).

Também gosto de imaginar, que meus filhos homens serão líderes da preciosa noiva de Cristo, e para tanto, saberão de cor perguntas como esta:

“Qual é a coisa principal que a Escrituras nos ensinam? R: A coisa principal que as Escrituras nos ensinam é que o homem deve crer a respeito de Deus, bem como o dever que Deus requer do homem. ” Pergunta n º03 do Breve Catecismo de Westminster.

Antes de terminar essa pequena reflexão, gostaria de dar alguns conselhos práticos sobre a memorização em família:

  • Não subestime a capacidade intelectual das crianças, inclusive as bem pequenas. Suas mentes são como esponjas, e a primeira infância é a ideal para inculcar a Palavra de Deus. Aliás, nessa idade elas tem um prazer enorme em decorar!
  • Não se preocupe se seu filho irá compreender completamente toda a extensão exegética do versículo. Faça-o decorar assim mesmo, e na medida que for retomando e ampliando os trechos bíblicos ao longo dos anos, o entendimento irá crescendo juntamente com sua estatura e graça. Portanto, não espere a maturidade espiritual para começar.
  • Tenha rotina. Crie um hábito diário de memorização, sempre retomando o que já foi decorado.
  • Insista com seu adolescente a memorização mesmo que ele demonstre uma certa apatia. Ele deve compreender que não é uma questão de escolha, mas sim um uma necessidade de sua vida devocional. Separe um tempo para decorar juntamente com ele, dessa forma ele se sentirá mais encorajado.

E que o Senhor possa fazer de nossa família verdadeiros portadores da verdade! Que sejamos soldados que manejam suas armas com eficácia, que conquistem as trevas de uma maneira triunfante, resgatando as almas que lá estarão. Tudo isso através dos oráculos do Senhor guardados como ouro em nossos corações!

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* Nota do MP: Na próxima semana publicaremos um excelente sistema de memorização que poderá ajudar as nossas leitoras (como tem feito conosco) a implementar a memorização na rotina diária da familia. Aguardem! 😉
* Renata é casada com César Miranda. Fisioterapeuta e professora universitária, ela agora dedica-se integralmente à criação e educação em casa de seus 3 filhos.