Pessoas podem ser irritantes. A vida de família e casamento seria bem menos estressante se maridos e filhos não agissem muitas vezes de forma irresponsável ou contrariando nossos sentimentos e instruções. Ministrar seria bem mais tranquilo e bem menos exaustivo se as pessoas não fossem tão carentes ou se simplesmente se recompusessem rapidamente. Muitos dos problemas que enfrentamos em nossos trabalhos terminariam se não fossem por colegas inexperientes e clientes exigentes ou impacientes.

Sim, pessoas podem causar a grande maioria de nossas dores de cabeça. Mas, quando as servimos, nós servimos a Cristo. E, quando tratamos as pessoas com gentileza em vez de indiferença ou impaciência, nos tornamos canais de palavras e ações que dispensam graça e benção, o que inevitavelmente adorna o evangelho de Cristo.

O Exemplo de Provérbios 31
A mulher de Provérbios 31, cuja descrição nós conhecemos tão bem, é um lindo modelo bíblico da gentileza em ação. Por onde essa mulher forte, talentosa e diligente anda, ela deixa uma trilha de bondade, além de ministrar graça para todos ao seu redor: “Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua” (Pv 31.23).
Mas note quem se beneficia primeiro da boa vontade e diligência dessa mulher. Para ela, a gentileza começa em casa. Com sua família. Com seu círculo íntimo. Com aqueles que ela compartilha o dia-a-dia. Sua gentileza em relação ao seu marido, por exemplo, revela-se por meio de um comprometimento diário que não diminui com o tempo, nem quando o relacionamento está num momento difícil: “Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida” (Pv 31.12).

Nenhum dia é perdido com ataques de frustração e raiva ou com atitudes passivo-agressivas. Todos os dias são vistos como oportunidades de fazer coisas boas para seu marido por meio de atitudes, palavras e ações. Esse é um grande presente que ela dá a ele – e a si mesma, uma vez que seu marido responde com o maior dos elogios.

As obras altruístas e previdentes da mulher de Provérbios 31 também abençoam sua família inteira conforme ela trabalha fiel e incansavelmente para garantir que as necessidades de todos sejam satisfeitas.

Aqueles Próximos de Nós
O fato é que eu sou mais tentada a ser egoísta e preguiçosa em casa e em meus relacionamentos mais íntimos do que em quaisquer outros lugares ou relacionamentos. E eu temo que isso seja verdade para a maioria de nós – esposas e mães, mas também aqueles que vivem com outros membros da família ou amigos. Receio que, com muita freqüência, nós mostremos mais preocupação e gentileza com nossos vizinhos, colegas, caixas de lojas e até completos estranhos do que com aqueles que vivem sob o mesmo teto que nós ou com aqueles que temos relação, seja um parente de sangue ou nosso cônjuge.

Se um casal fosse se hospedar em nossa casa durante o fim de semana, nós garantiríamos que houvesse toalhas limpas no banheiro, que os lençóis tivessem sido lavados recentemente, que o jantar fosse flexível à agenda deles e que o café fosse fresquinho pela manhã. Mas quando nossos próprios filhos e marido precisam de algo – bom, eles sabem onde está a geladeira e como ligar o forno.

Não é assim?
Administrar uma casa agitada e lidar com tarefas diárias relacionadas a servir marido e filhos – ou qualquer outra responsabilidade que você tenha – requer diligência e disciplina todos os dias. Requer trabalho duro e, muitas vezes, exaustivo. Mas também requer gentileza – ou, como diria um autor, “a ausência de irritabilidade em face das demandas enervantes das tarefas domésticas ordinárias e rotineiras”.

E é aí que as coisas podem ficar desafiadoras. É muito fácil para nós ser como a mulher que uma vez lamentou para mim, com uma franqueza incrível: “Eu sou boa apenas o suficiente para parecer boa para o mundo”. Em casa, geralmente a história é outra.

Quando estou fora, falando em uma conferência, eu posso ser extremamente graciosa, gentil e paciente com filas de mulheres que querem compartilhar comigo seus fardos e histórias – muitas vezes longas e detalhadas. Eu as olho nos olhos e nunca reclamo do meu cansaço ou das minhas costas e pés. Mas, quando aqueles perto de mim – em minha casa, família ou ministério – precisam de um ouvido, um coração atento ou um ato de amor, eu posso ser apreensiva, insensível ou simplesmente dizer estar muito ocupada.

Quem de nós nunca teve a experiência de estar no meio de uma conversa tensa e dura em casa, apenas para mudar instantaneamente o tom e falar de forma doce com um estranho que nos chama ou passa em casa? O que isso diz para aqueles que amamos sobre como os valorizamos e sobre a autenticidade de nossa “gentileza” para com os outros?

Ajuda Extra da Graça
Sim, a gentileza em casa exige um esforço extra. Nossa casa é onde experienciamos mais intensamente as perturbações e decepções diárias que nos tentam a desenvolver uma atitude grosseira. Então, a gentileza em casa também requer uma ajuda extra da graça, o que, consequentemente, demanda uma dependência diária em Deus e o suporte de nossas irmãs de Tito 2.

No pouco tempo em que eu sou esposa, já testemunhei momentos de distância e morte da intimidade provindos da falta de gentileza de minha parte em relação ao meu marido. Tudo isto contribuiu: palavras duras faladas com grosseria; palavras dóceis não ditas; ações impensadas; estar muito autocentrada para notar e celebrar uma conquista no negócio dele; feri-lo em áreas delicadas com provocações insensíveis; estar muito ocupada com minhas próprias coisas e não conseguir realizar pequenos atos de gentileza que poderiam servi-lo e abençoá-lo.

Mas eu também experimentei a grande importância e o poder da gentileza no casamento. Eu os vi em casamentos de alguns de amigos próximos e nos meus mentores de Titos 2. Além disso, o coração tenro e a gentileza constante de Robert – sempre procurando meios para me servir e me abençoar – me inspiraram a prestar mais atenção em como eu posso fazer coisas boas para ele. Ser a destinatária de sua gentileza aumentou meu desejo de superá-lo nessa área.

Com frequência eu percebo que são as pequenas coisas – as expressões simples de gratidão e gentileza – que expressam amor para meu marido e que ditam o tom do nosso relacionamento. Deixar notas encorajadoras em sua Bíblia quando ele está saindo para uma viagem. Arrumar o lençol do seu lado na cama à noite. Entregar um sanduíche e uma cerveja gelada num dia quente quando ele está trabalhando num projeto no quintal. Parar em meio a um dia corrido de trabalho para ir ao primeiro andar, em seu escritório, e perguntar como seu dia está indo. Considerar suas preferências acima das minhas. Não pensar o mal quando ele esquece de me contar alguma novidade. Deixar passar batido alguma desfeita aparente (ou mesmo real) em vez de esfregá-la no nariz dele. Um coração gentil expresso por meio de palavras e ações gentis adoça nosso relacionamento, amolecendo e trazendo nossos corações para perto um do outro.

Seu chamado para a gentileza em casa provavelmente assumirá diferentes formas do meu. O seu pode envolver refrear uma reação dura para um acidente infantil, reabastecer a geladeira com lanches para um adolescente, ajudar um colega de quarto com um projeto, repetir sua fala com gentileza para um parente mais idoso… Mas, se todos nós demonstrarmos verdadeira gentileza para as pessoas que conhecem nosso melhor e nos vêem no nosso pior, nossas demonstrações pública de afeto provavelmente parecerão mais verdadeiras. E eu suspeito que, se fôssemos mais gentis em casa, também seríamos mais gentis com todos as outras pessoas.

E você? As pessoas que vivem e trabalham com você a considerariam uma mulher gentil? Por que sim e por que não? Deixe seus pensamentos nos comentários abaixo.

________________

Este post é uma tradução de um artigo de Nancy Leigh DeMoss publicado originalmente no site “Revive Our Hearts”, traduzido e re-publicado com permissão.

* Nancy Leigh DeMoss é autora, conferencista e apresentadora do Revive Our Hearts(Aviva Nossos Corações), um programa de rádio diário para mulheres. Ela tem vários livros, CDS e DVDs com palestras de sua autoria, e os usa para promover avivamento pessoal e em grupo, e auxiliar mulheres a desenvolver um relacionamento mais íntimo com Deus.

Tradução: Rebeca Romero