* Esse post é a quinta parte do artigo “A Mulher Puritana”.

 

 

Com relação a seu Marido

Da atitude da esposa puritana com relação a seu marido Morgan nos diz que “Ela deveria, portanto, vê-lo com reverência, uma mistura de amor e temor, não, contudo, um ‘temor’ de escravo, que é nutrido com ódio ou aversão; mas um temor nobre e generoso, que procede do amor”. Ela não era serva ou escrava dele. Às vezes os homens eram multados até mesmo por sugerir tal coisa, especialmente se algum vizinho ouvisse isso sem querer e o reportasse às autoridades. O marido podia e com freqüência era punido pelas autoridades se ele batesse em sua esposa ou tentasse mandá-la fazer algo contra a lei de Deus. Samuel Willard escreveu que o marido devia governar sua esposa de tal maneira que “sua esposa pudesse se deleitar nisso, e não tomasse isso como uma escravidão, mas liberdade e privilégio; e a esposa devia transmitir isso a seu marido de modo que ele ficasse contente com ela: e qualquer coisa que seja contrária a isso e seja doloroso para alguma das partes, deriva não do preceito, mas da corrupção que há nos corações dos homens”.

O amor não era considerado algo extra, mas um dever, uma obrigação solene rendida alegremente. Na obra Well-Ordered Family (Família Bem-Ordenada) de Benjamim Wadsworth’s, nós lemos: “… Se ela [a esposa] bate em seu marido (como algumas descaradas, impudentes desgraçadas farão), se ela é cruel em sua conduta, usa linguagem ruim, é mal-humorada, de cara azeda, tão irritada que raramente come ou fala pouco; além disso, se ela negligencia manifestar amor real e amabilidade em suas palavras e em sua conduta, ela então dissimula sua profissão de cristianismo, ela desonra e provoca o Deus glorioso, pisa em sua autoridade; ela não apenas afronta seu marido, mas também a Deus, seu Autor, Legislador, e Juiz com esse seu comportamento ímpio”.

 

A Estabilidade do Casamento

Os puritanos tomavam cuidados para preservar os casamentos e manter as pessoas casadas juntas. Freqüentemente, até mesmo as cortes judiciais sentiam ser este seu dever paternal. A uma mulher, por exemplo, foi dito pela corte que ela teria que permanecer em Boston e deveria retornar à sua casa e ao seu marido. Se uma esposa abandonava seu marido (ou vice-versa), ela deveria esperar uma multa, e o homem, multas e talvez açoites severos. Se um homem ou mulher viesse a Massachusetts sem seu marido ou esposa, eles podiam logo descobrir que sua permanência seria encurtada pela corte, a menos que eles pudessem provar que estavam em negócio temporário ou preparando um lugar para seu cônjuge antecipadamente. Se um cônjuge viesse sozinho da Inglaterra, ele ou ela seria embarcado de volta no barco seguinte. Cônjuges que fugissem se encontrados, eram freqüentemente forçados a retornar para casa e o casal seria mantido junto trancado até as dificuldades serem admitidamente resolvidas. As leis não apenas forçavam que continuassem a coabitar, mas procurava que isso fosse feito de forma pacífica. Cada um era proibido pela lei de bater no outro ou usar linguagem abusiva. A lei se envolveria e até emitiria multas se eles encontrassem um homem ou senhora mantendo o que os magistrados pensavam ser uma companhia muito freqüente com outra pessoa que não fosse o cônjuge.

Na Nova Inglaterra o adultério era levado muito a sério e punido severamente. As punições variavam de multas a açoites, estigmatizar, o uso de uma grande letra “A”, execuções simbólicas, e até mesmo, embora raramente, execuções reais. Nosso governo hoje não tem um papel de forma tão típica em preservar casamentos (embora isto pareça estar mudando – casamentos do pacto no sul). Quão mais, então, os membros individuais na congregação deveriam estar tomando este papel em promover casamentos fortes e estáveis. Nós não estamos defendendo que as pessoas sejam bisbilhoteiras, mas sim que ajam com um senso de dever e amor cristão.

 

Amor

Embora houvesse ênfase na necessidade do amor em um casamento (também em nossa forma de casamento), os casais eram advertidos contra o amor imoderado. É triste que em nossos dias muitos cônjuges anseiem por mais amor de seus parceiros. Para os puritanos, alguém apreciar seu marido ou esposa de forma muito elevada era desarrumar a ordem da criação e descer à idolatria. John Cotton escreveu: “Quando nós nos deleitamos excessivamente em nossos maridos, ou esposas, ou filhos” isso “embrutece e turva a luz do Espírito”. Homens e mulheres esqueceram seu Autor quando foram “tão transportados em sua afeição” que eles não objetivavam “nenhum fim mais elevado que o casamento em si mesmo”. 

O verdadeiro amor marital tinha em vista que os homens casados deveriam “vê-las [i.e., suas esposas] não para seus próprios fins, mas para serem mais bem preparados para o serviço de Deus, e para trazê-los para mais perto de Deus”. Não era incomum para os ministros lembrar casais recém-casados a “amar um ao outro acima de tudo e de todos no mundo”, embora eles freqüentemente acrescentassem a advertência: “Que se tenha cautela para que não amem desordenadamente, porque a morte logo os irá separar”. Cartas entre maridos e esposas piedosos com freqüência mostravam evidência deste balanço. Uma carta de um Rev. Edward Taylor de Connecticut começa: “Minha Dove, envio-lhe não meu coração, pois isso eu confio foi enviado aos Céus há muito tempo atrás… todavia, o mais daquilo que é permitido ser estendido sobre qualquer criatura seguramente e unicamente cai como sua porção”. Cotton Mather escreveu sobre o leito de morte do Rev. Jonathan Burr, que disse a sua esposa: “Não gaste muito tempo comigo, mas vá,siga seu caminho e gaste algum tempo em oração: você não sabe o que pode obter de Deus; eu temo que você olhe muito para esta aflição”.

J. I. Packer nos lembra em sua obra sobre os puritanos, Entre os Gigantes de Deus (editora FIEL), que nós podemos aprender uma importante lição dos puritanos a este respeito: ver e sentir mais a natureza transitória desta vida, e em particular, de nossos casamentos. A vida puritana era difícil, e com freqüência muito passageira. Ouça esta extensa descrição de Packer: “Os puritanos experimentaram perseguição sistemática por sua fé; a idéia que temos hoje dos confortos de uma casa eram desconhecidas a eles; sua medicina e cirurgia eram rudimentares; eles não tinham aspirinas, tranqüilizantes, soníferos ou pílulas anti-depressivas, assim como não tinham nenhuma segurança social ou seguro; num mundo em que mais da metade da população adulta morria jovem e mais da metade das crianças nascidas morria na infância, (uma média de expectativa de vida inferior a apenas trinta anos, doenças, perigos, aflições, desconforto, dor e morte eram seus constantes companheiros. Eles estariam perdidos se não mantivessem seus olhos no céu e não conhecessem a si mesmos como peregrinos rumo ao lar na Cidade Celestial.” “… a consciência dos puritanos de que no meio da vida nós estamos na morte, a apenas um passo da eternidade, deu-lhes uma profunda seriedade, calma embora apaixonada, com respeito aos negócios da vida que os cristãos no mundo ocidental de hoje opulento, mimado, materialista, raramente conseguem se igualar. Eu penso que poucos de nós vivem diariamente à margem da eternidade da forma consciente que os puritanos viveram, e o resultado é que nós ficamos na desvantagem”. “Eles tinham um ‘realismo matéria-de-fato’ com o qual eles se preparavam para a morte, como se sempre se encontrassem, como por dizer, de mala arrumada, prontos para ir. Calculando assim, a morte trouxe apreciação por cada dia de vida contínua; e o conhecimento de que Deus decidiria afinal, sem consultá-los, quando seu trabalho na terra estivesse terminado, trouxe energia para o próprio trabalho enquanto ainda lhes era dado tempo para prosseguir nele”.

 

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Este post é parte da Palestra “A Mulher Puritana” proferida na “Conferência da Mulher – HNRC” no ano de 1998 pelo Pr. David Lipsy. Traduzido e publicado em português originalmente na ”Revista Os Puritanos” (Ano XII, nº 02:2004), re-publicado com permissão do Projeto Os Puritanos e do autor. 

*O Rev. David Lipsy é pastor da Grace Reformed Christian Church, Arkansas, USA. É casado com Ruth desde 1981 e são abençoados com oito filhos e dois netos. Depois de participar de Rutgers College of Pharmacy por quatro anos, completou a licenciatura em Educação em Lakeland College e serviu 14 anos como professor da escola cristã em Wisconsin. Cursou o M. Div. no Puritan Reformed Theological Seminary (PRTS) em Grand Rapids, MI e completou programas de certificação introdutória e avançada em Aconselhamento Bíblico no “Aconselhamento Cristão e Fundação Educacional” de Glenside, PA. Ele está próximo de completar o Doutorado do programa no Ministério Aconselhamento Pastoral de Westminster Seminary, na Filadélfia. Atua no Conselho de Administração do PRTS bem como no Covenant College, na Zâmbia, na África. Periodicamente ensina em ambas as instituições. Pastoreou a Congregação Reformada Heritage of New Jersey 1999-2008.