DodgeVictorianWomanInWhiteTem uma rachadura no meu para-brisa. Meu marido e eu estamos no limite um com o outro. Minha filha está com cárie. Meu cachorro está com uma infecção no ouvido. O congelador parou de funcionar ontem à noite.
Essa manhã eu abri a geladeira para pegar leite para meu chá. Não havia leite.
Eu me encontrei sentindo como o Ió, do Ursinho Pooh, com uma nuvem escura em cima de minha cabeça e um alvo atrás de mim. Meu prato já cheio não parece capaz de suportar mais nada, e eu estou numa queda vertiginosa na ladeira escorregadia da autopiedade. Ao mesmo tempo, estou irritada comigo mesma por causa do meu desapontamento.
Eu percebo que nenhuma das minhas frustrações são tragédias. O para-brisa tem conserto. Eu amo meu marido; nós superaremos nosso desentendimento. O dentista irá tratar a cárie e o veterinário tem o remédio para meu cachorro. Nosso congelador ainda está na garantia e o leite está a uma ida ao mercado de distância.
Minha compreensão das notícias relativamente boas do meu dia ruim me leva ainda mais perto do limite. Minha fé é tão fraca que eu já perco a alegria porque não tenho leite para meu chá por um dia? A rachadura no meu para-brisa é suficiente para eu duvidar da bondade de Deus para comigo? Por que pequenas enfermidades parecem fardos tão pesados quando outras pessoas são diagnosticadas com doenças que trazem risco à vida? As frustrações mundanas das minhas lutas de primeiro mundo evidenciam ainda mais os meus fracassos. Eu sou o barro mais difícil nas mãos do Oleiro.
E a espiral continua descendo.
Mesmo uma vida boa é uma vida despedaçada. Planos são atrasados, sentimentos machucados e bens materiais costumam quebrar constantemente. Muitas vezes não são as provações maiores da vida que nos afundam, mas a pressão constante de vários pequenos fardos que nos faz cair.
Eu quero passar por esses momentos mundanos com a graça, mas essa é uma luta contra as atitudes mais endurecidas do meu coração. O que podemos fazer quando nos vemos sucumbindo à murmuração e à reclamação no nosso dia a dia árduo? Há quatro verdades que eu acho úteis para se considerar conforme pedimos ao Senhor para nos resgatar de nossa queda.

Nomeie
Se eu quero lutar contra minha murmuração e reclamação, a primeira coisa que devo fazer é chamar as coisas pelo que elas são, sem meias palavras. Eu preciso nomear minhas atitudes erradas pelo seu nome apropriado: pecado. Eu não quero fazer isso de forma alguma. Eu quero sentar, preparar e me servir com uma xícara gostosa e quentinha de autopiedade. Mas, se os israelitas foram mantidos fora da Terra Prometida por 40 anos por causa de seu espírito murmurador e reclamador, então eu tenho um alerta enorme de neon me dizendo que um coração descontente não agrada ao Senhor. É um ato de deslealdade, uma reivindicação de que eu poderia governar melhor se eu pudesse ser soberano sobre minha vida. A primeira freada na ladeira do descontentamento é admitir a mim mesmo o pecado do meu coração e de minhas atitudes.

Confesse
Uma vez que eu admiti a mim mesmo que tenho um problema com o pecado, não apenas um problema circunstancial, eu confesso. Às vezes eu me arrasto até o trono da graça, hesitando e vacilando, mas vou. Ali tiro tudo de dentro. Eu conto a Jesus que estou frustrada com as minhas circunstâncias e que sei que meu coração é o problema maior. Conto a Ele que estou cansada e exausta do mundo e de como nada nele parece dar certo. Conto a Ele que estou envergonhada da minha própria falta de progresso e de fé em Sua providência na minha vida. Eu imploro a Ele para me mudar e me fazer mais parecida com Jesus (o que eu reconheço que envolverá muitos dias como esse, em que o fogo está bem ardente para que Ele possa remover minhas impurezas). Enquanto eu confesso, Sua palavra me lembra de que Ele sabe, Ele compreende e de que Ele nos ensina: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33).

Aceite
Enquanto eu confesso, também estou admitindo minha necessidade contínua da graça. Eu quero ser melhor do que um pedinte carente que sempre volta por mais. Meu desencorajamento por causa da minha falta de progresso é misturado com meu desânimo por eu ainda precisar da graça. Conforme eu começo a aceitar que o processo de confissão e arrependimento faz parte da caminha diária com Deus, meu espírito começa a se reerguer. Claro que eu ainda preciso de Jesus! Eu sei disso, mas agora sou forçada a experimentar na prática minha profunda sede pelas águas vivas que só Ele pode proporcionar. É Ele que, ao me dar forças, permite que eu seja plena, e não que eu seja forte o suficiente para não mais precisar d’Ele. Eu preciso aceitar que esta será uma “perseguição” por toda a vida: Sua graça correndo atrás de mim, mostrando meu pecado e me resgatando de novo e de novo.

Acolha
Enquanto a confissão trabalha na minha alma, a graça surte seus efeitos no meu coração. Ao invés de reclamar do meu dia, eu me arrependo e o acolho. Eu acredito que a alegria é possível, não por que as circunstâncias são ideais, mas por que Deus é o Senhor sobre todas as minhas circunstâncias (1 Tessalonicenses 5:16-18).
O alicerce do nosso regozijo não é o quão bom foi nosso dia, mas quão bom é nosso Deus. Ele nos promete em todas as coisas (as boas, as ruins e as desagradáveis) estar trabalhando para nosso bem. Ele promete me fazer santo e, frequentemente, suas melhores ferramentas são justamente aquelas que vão polindo minha autoconfiança. Ah, que humildade é forjada quando percebo que preciso d’Ele para muito mais do que apenas para as tragédias da vida! Eu preciso d’Ele para cada e todo momento; para cada pensamento que tenho e para cada passo que eu dou.
Essas meditações abrem meu coração para acolher meu dia e me regozijar nele, agradecendo a Ele em todas as coisas. A espiral descendente cessa conforme Ele me tira do tremedal de lama. Meu coração se regozija:

“Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR” – Salmos 40:1-3.

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melissakruger*Esse artigo foi postado originalmente no The Gospel Coalition. Original aqui. Traduzido mediante autorização.

**Melissa Kruger é esposa, mãe e autora de “The Envy of Eve” [A inveja de Eva] e “Walking with God in the Season of Motherhood” [Andando com Deus na temporada da maternidade]. Ela gosta de ensinar mulheres a Bíblia e serve como coordenadora do ministério de mulheres na Uptown Church PCA.

*** Tradução: Rebeca Romero