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Fonte de Imagem: Andirá Comunicação

Ainda não leu a Parte 1? Leia Aqui.

O dever primordial dos pais é educar seus filhos no Caminho

Abra sua Bíblia no capítulo seis de Deuteronômio. No contexto deste capítulo, o povo de Israel tinha sido libertado do Egito. Eles tinham passado pelo batismo no Mar Vermelho. Eles tinham andado pelo deserto até a Terra Prometida.

Tudo isto simboliza a vida Cristã. Nós e os nossos filhos nascemos no Egito do pecado (Salmo 51:5). Passamos pelo Mar Vermelho do nosso batismo, pelo qual Deus nos separou do mundo e nos santificou para Seu serviço (1 Coríntios 10:2). Agora, estamos peregrinando pelo deserto deste mundo caído, rumo à Terra Prometida: os novos céus e nova terra, a nova Jerusalém.

Para um povo libertado, consagrado, Deus dá a Sua lei. Veja que o contexto da Lei de Deus é liberdade. O prefácio dos dez mandamentos achamos em Deuteronômio 5.6: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão”. Então seguem os dez mandamentos. Claro que Deus não declararia que Ele tirou da escravidão, para logo depois escravizar Seu povo de novo com leis e mandamentos! A Bíblia fala de uma forma bastante negativa da Lei, quando se trata do homem tentar ganhar algum mérito ou ganhar a sua salvação pelas suas obras. Neste caso, a Lei é um inimigo, um peso insuportável, pois ninguém pode ser salvo pelas obras da Lei.

Tudo muda quando alguém já é salvo, pela graça soberana. Para os salvos, a Lei não é mais inimigo, mas o mais precioso amigo. Não tem coisa mais deleitosa para os salvos, do que viver conforme a santa vontade do Salvador. “Quem me ama, guarda os meus mandamentos”, diz Jesus. Nos dez mandamentos, Deus declara a um povo salvo pela graça: “Eu salvei vocês. Veja agora como viver uma vida de gratidão”. É neste sentido gracioso e agradecido que o Salmista entende a lei no Salmo 119. Ele passa pelo alfabeto Hebraico inteiro, cantando a (em) alta voz como ele acha alegria nas leis e preceitos do Senhor. Pelo mesmo motivo, o apóstolo Tiago fala da “perfeita Lei de liberdade”.

Pecadores salvos pela graça, libertados do poder do pecado pela soberana vontade de Deus, recebem pela graça soberana a operação do Espírito Santo nos seus corações e vidas. Ele mais e mais capacita e transforma os nossos corações, nos fazendo nos deleitar mais e mais em viver alegremente conforme a vontade de Deus.

Este novo relacionamento com a Lei de Deus é um estilo de vida totalmente dedicado a Deus. “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt. 6:4) Todo o nosso ser, todo pensamento, toda palavra, todo movimento dos nossos corpos, deve ser um ato de adoração e amor para a glória de Deus. O apóstolo fala de apresentarmos as nossas vidas como sacrifícios vivos ao Senhor.

Este estilo de vida é algo que Deus manda os pais ensinarem e modelarem para seus filhos. Mas veja como. “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração”. (v.5). Não tem como ensinar ou modelar o evangelho para os nossos filhos, se não temos a Palavra de Deus habitando ricamente em nós. Se você quer ser um pai ou uma mãe fiel, criando seus filhos no amor e no temor do Senhor, você precisa, antes de mais nada, fazer uma avaliação do seu coração. O que é seu estado espiritual? Educar os nossos filhos no Caminho começa com nós pais de joelhos, em oração, clamando a Deus para converter os nossos corações, derramar o Seu amor e o Seu Espírito em nossos corações, habitar ricamente em nossos corações.

Só assim que podemos pensar em prosseguir com o próximo passo, que é…

“Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.”

Moisés dá uma tarefa de casa para os pais. Toda a vida, em todo momento, em todo lugar, em toda atividade, deve ser um momento de inculcar a Palavra de Deus em nossos filhos. Veja que não é para os pais educarem apenas em alguns momentos por semana ou por dia. É algo que deve acontecer o tempo todo, desde o se levantar, até ao se deitar.

Por quê? Porque Deus é o SENHOR, Deus da aliança, o único Deus. Estar com Ele, conhecer a Ele, é vida. Estar longe dEle, não conhecer a Ele, é a morte. Não tem nenhuma prioridade maior na criação dos nossos filhos, do que a prioridade de criá-los no temor do Senhor. Veja o v. 24: “O SENHOR nos ordenou cumpríssemos todos estes estatutos e temêssemos o SENHOR, nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como tem feito até hoje.” É questão de vida, ou morte.

Quem desprezar ou ignorar os deveres que Deus exige dos pais no capítulo 6 de Deuteronômio, está encaminhando seu filho para a morte eterna. Sabe, não faz diferença nenhuma seu filho chegar ao inferno como milionário. Nem todo o dinheiro e “sucesso” na vida pode tirar uma gota da agonia e tortura eternas do inferno.

Um problema, comum em nossos dias, é uma dicotomia falsa entre a graça e a natureza, entre o sagrado e o secular. Isto também foi um problema no Catolicismo Romano medieval. Esta dicotomia falsa levaria um pai a pensar, “Mas como assim? Preciso orar, ler a Bíblia e fazer culto doméstico 24 horas por dia?”

Este tipo de pensamento equivocado leva a uma vida “Cristã” que não passa de uma fachada. Leva a uma vida que procura demonstrar sinais externos de “ser crente”: andar sempre com Bíblia debaixo do braço, encher a casa com textos Bíblicos e músicas apenas “evangélicas”, e sempre enfeitar as conversas com muitas palavras religiosas. Mas isto não é o Cristianismo bíblico.

O Cristianismo bíblico, como diz J. Gresham Machen, é um estilo de vida fundamentado sobre uma doutrina. A nossa crença não é uma fachada, mas é um alicerce sobre o qual construímos toda a nossa vida. Lutero nos dá um exemplo da diferença entre estas duas perspectivas. Ele fala num certo momento do sapateiro Cristão. O sapateiro Cristão, diz Lutero, não é aquele que cola pequenas cruzes no sapato. Antes, é o sapateiro que trata seu cliente com honestidade, faz um trabalho honesto e de altíssima qualidade, como servindo a Cristo, e não aos homens, e cumpre sua palavra em entregar a qualidade e quantidade de trabalho na data e na hora combinadas.

Vejo que o entendimento equivocado de Cristianismo tem se enraizado em nosso Brasil. É para chorar quando ouvimos pessoas do mundo comentando que eles preferem não fazer negócio com “crentes”, pois estes sempre tentam levar vantagem e são notórios por não cumprirem a sua palavra.

Uma criação conforme Deuteronômio 6 não procura construir uma fachada de espiritualidade falsa na vida dos nossos filhos, enquanto na vida “real” eles vivem conforme os padrões e as prioridades do mundo. Muito pelo contrário. A educação Cristã procura construir uma base sólida e inabalável na vida dos nossos filhos, de tal forma que eles planejam, priorizam, pensam, e praticam tudo de acordo com a Palavra de Deus. Como Calvino diz, olhamos o mundo inteiro e toda a vida pela ótica (pelas lentes) das Sagradas Escrituras.

Nos próximos artigos vou falar mais sobre como podemos e devemos fazer isto, de uma forma bem prática. Neste momento quero apenas chamar a sua atenção à responsabilidade terrível que você tem. A Bíblia diz em Hebreus 13.17, que os nossos guias, que velam por nossas almas, devem prestar contas. Sim, devem prestar contas ao Juiz de toda a terra. Nós como pais somos os guias dos nossos filhos. Um dia, estaremos diante do tribunal celestial. O próprio Deus vai querer prestação de contas. Ele vai querer saber como cuidamos destes pequeninos pelos quais Cristo morreu.

Pensar nisto deve nos encher com santo tremor e temor. Não tem nada mais importante do que cumprir o teu dever de conduzir o teu pequeno rebanho até a Nova Jerusalém.

Ninguém consegue fazer isto. Os pais que já tem isto como prioridade, e também os pais que até agora não têm levado o seu ofício a sério — todos precisam, todos os dias, cair aos pés de Cristo, rogar perdão pelos pecados e pelas muitas falhas e fraquezas, e pedir incessantemente pela graça e Espírito de Deus. Deus conhece a nossa estrutura. Ele sabe que somos pó. Portanto, a solução não é “Eu vou me esforçar para ser um pai, uma mãe, melhor”. A solução é nos refugiamos em Cristo, e rogar que o Seu Espírito habite mais e mais em nós. Desta forma, na medida em que vamos crescendo em santificação, também na área de criar e educar os nossos filhos, podemos dizer com alegria: “Não sou eu, mas Cristo operando em mim.”

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O Pr. Kenneth Wieske é Pastor da Igreja Reformada em Aldergrove, Colômbia Britânica. Desde 2000, serve as Igrejas Reformadas do Brasil como plantador de igrejas. É diretor do Instituto João Calvino. Ele é casado com Tamara, com que tem 6 filhos.