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A mulher feita por Deus como Seu trabalho manual especial

A mulher não é somente feita para o homem; ela é também feita por Deus como um ato especial da criação. Tanto o homem como a mulher foram criações especiais de Deus. Eles foram criados em igual dignidade.

Gênesis 2:21-22 diz: “E o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem e este adormeceu; tomou uma das costelas e fechou o lugar com carne”. Deus causou um profundo sono em Adão como um passo inicial na criação da mulher. Este “sono profundo” deve ter sido algo como uma anestesia hoje, e a operação que Deus realizou, semelhante à cirurgia médica. Deus extraiu uma das costelas do homem e preencheu o lugar vazio com carne, fechando a ferida. Da costela, Deus então “fez” — literalmente, em hebraico, “edificou” ou “construiu” uma mulher.

Deus miraculosamente, meticulosamente, belamente, laboriosamente, formou uma mulher com Suas próprias mãos, fazendo-a cada pedacinho, tão especial quanto o homem que Ele havia criado antes. Existe algo particularmente belo, até mesmo poético, sobre esta criação. A mulher é feita para o homem e, por isso, poder-se-ia pensar nela como uma serva do homem. Gênesis porém, não diz isto. Ao contrário, como coloca Matthew Henry:

“A mulher foi feita da costela do lado de Adão; não da sua cabeça, para não governá-lo; nem de seus pés, para não ser pisada por ele; mas do seu lado, para ser igual a ele, debaixo de seu braço, para ser protegida, e perto do seu coração, para ser amada”.

Então, o Pai amoroso apresentou ao homem a noiva que Suas próprias mãos tinham cuidadosamente formado. Ele “a trouxe para o homem” (verso 22b), o que é uma frase especial em hebraico que significa “apresentou-a ou conduziu-a ao homem”. A palavra também implica na entrega solene, formal da mulher dentro dos vínculos do pacto matrimonial, que Provérbios 2:17 chama “o pacto de Deus”.

Deus, como Criador e Pai da mulher, trouxe-a ao homem, como os puritanos costumavam dizer: “como o seu segundo eu, para lhe ser uma auxiliadora idônea”. Ao trazer a mulher para o homem, Deus estabeleceu o casamento como a primeira, a mais fundamental das instituições humanas. Antes que houvessem governos ou igrejas ou escolas ou quaisquer outras estruturas sociais, Deus estabeleceu uma família baseada no respeito e no amor mútuos de um esposo e uma esposa.

Todas as outras instituições humanas derivam-se desta. Da autoridade do pai vieram os sistemas patriarcais de governo humano, os quais eventualmente dariam origem às monarquias e democracias. Da responsabilidade dos pais para educar seus filhos vieram os sistemas de educação mais formais que chamamos escolas e colégios. Da necessidade de cuidar da saúde da família vieram os médicos e os hospitais. Da obrigação dos pais de treinarem seus filhos no conhecimento de Deus vieram templos, sinagonas e igrejas. Todas as organizações humanas podem ser acompanhadas retrospectivamente até o lar, a família e, finalmente, até o casamento.

Adão, a quem Deus despertou, reconheceu Eva imediatamente como sua companheira — complemente perfeita para a necessidade que havia sido despertada nele. Em resposta ele explodiu numa espécie de canção nupcial, celebrando sua similaridade e união com a mulher, ao dar-lhe um nome. Adão diz: “Esta, afinal” (verso 23a) — i.e., “desta vez” — agora, finalmente, Adão encontra aquela que lhe corresponde. A íntima associação é enfatizada pelos seus nomes, desde que ela é chamada “varoa” [ishah] porque foi tirada do varão [ish]. A palavra hebraica para “varoa” é formada pelo acréscimo da terminação feminina “— ah” à palavra “varão”. Uma diferença paralela seria leão e leoa, ou tigre e tigreza.

Assim Adão, por revelação divina, percebeu que a mulher havia sido tirada dele. Seu ato de dar o nome à sua esposa reforçou sua liderança e autoridade sobre ela, mas seu nome indicou também que ele compreendeu a igualdade dela com ele, como sua parceria. O milagre divino testemunhado por Adão encheu-o de alegria inexprimível, inspirando-lhe o lindo brado poético: “Esta afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (verso 23).

Adão e Eva entraram, então, num casamento sem pecado. “O casamento é honroso”, escreveu Matthew Henry, “mas este foi certamente o mais honroso matrimônio que jamais houve, no qual o próprio Deus teve desde o começo uma participação direta”. À canção nupcial de Adão, Deus acrescenta no verso 24 um projeto sagrado para o casamento que envolve um deixar, um juntar, e uma unidade: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Estas são provavelmente as palavras de Moisés, o inspirado autor de Gênesis, que nos provê com este preceito sagrado que Jesus repete em Marcos 18 e Paulo repete em Efésios 5:31-32, dizendo: “Eis porque deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja”. Estes três traços essenciais — deixar, unir [ou juntar] e unidade — ainda existem depois da queda, num bom casamento, em Cristo.

Continua…

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Este post é um artigo do Dr. Joel Beeke traduzido e publicado em português originalmente na “Revista Os Puritanos” (Ano XII, nº 02:2004), re-publicado com permissão do Projeto Os Puritanos e do autor.

*Dr. Joel Beeke é presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Theological Seminary (EUA). É pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation, editor da Banner of Sovereign Grace Truth, diretor editorial de Reformation Heritage Books, presidente da Inheritance. Foi co-autor, escreveu ou editou mais de 50 livros, dentre os quais, “Vivendo para a Glória de Deus” e “Vencendo o Mundo”. Obteve seu Ph.D. em Teologia da Reforma e Pós-reforma no Westminster Theological Seminary. Ele é convidado freqüentemente para lecionar em seminários e pregar em conferências ao redor do mundo. Ele e sua esposa, Mary, foram abençoados com três filhos: Calvin, Esther e Lydia.