passeando

“Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato. Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus.” 1 Timóteo 3:8-13 

A esposa de um pastor tem um nobre chamado. Em alguns aspectos, este chamado é como o de qualquer outra mulher cristã. Deus diz em Gênesis 2:18: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.” Beba dessas palavras. Seu marido precisa de você. Você foi especialmente criada por Deus para ser “auxilio” para ele, feita para suprir suas necessidades, ser o encaixe perfeito, correspondendo a ele e ao seu chamado no mundo. Portanto, você deve ajustar sua vida à dele, como sua auxiliadora. Esse é o chamado de cada mulher.

No entanto, em outros aspectos, a esposa de um ministro tem uma vocação especial por causa da natureza especial da vocação do marido. Ele tem dons especiais, responsabilidades e honra dentro da igreja. Se ele serve bem, ele receberá uma coroa de glória especial do Sumo Pastor (1 Pedro 5:5). Portanto, o seu chamado como esposa dele envolve responsabilidades especiais e honra especial. Você é a auxiliadora de um pastor. Você é chamada para ser sua companheira no sentido espiritual e para ser seu apoio. Este é o cerne da minha mensagem, que é baseada em 1 Timóteo 3:11. Apesar de você, como esposa de um crente, ser chamada a muitas coisas, vamos nos concentrar especificamente na sua vocação como companheira de um ministro.

Você pode achar estranho eu ter prefaciado esta palestra com uma passagem das Escrituras que fala sobre os diáconos. Não me entenda mal, não estou nomeando nenhuma de vocês para o cargo de diácono. Também não estou dizendo que o pastor é um diácono, pois a Bíblia ensina claramente que o papel do pastor pertence à categoria de presbíteros (Atos 20:17, 28, 1 Pedro 5:1-2). Pastores são Presbíteros Docentes, uma categoria de presbíteros que são chamados para o trabalho na pregação. Eles são, portanto, dignos de honra dobrada (1 Timóteo 5:17.).

Mas vamos voltar para a 1 Timóteo 3:8-13. Em meio à descrição dos homens que estão qualificados para servir como diáconos há uma declaração que diz respeito especificamente às esposas: “Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo.” Sei que existem diferentes traduções e interpretações para este versículo. Apesar de “esposas” também poder ser traduzido como “mulheres”, a gramática grega mostra que esta categoria é distinta da de diáconos e não se refere a diaconisas. Além disso, essas mulheres não são oficiais na igreja, pois a referência de Paulo a elas é breve e é no meio de sua discussão acerca dos diáconos (vv. 8-10, 12-13). É coerente com o ensinamento de Paulo em 1 Timóteo 2:12 que as mulheres não devem ensinar ou ter autoridade sobre os homens na igreja. A mesma palavra “esposa” aparece em 1 Timóteo 3:12, que se refere a “maridos de uma só mulher”. Assim, o melhor é considerar o versículo 11 não como uma declaração genérica sobre mulheres no ministério, mas como uma afirmação de que a esposa de um diácono deve ter certas características espirituais.

Paulo não oferece nenhuma declaração comparável sobre as esposas dos pastores no início de 1 Timóteo 3. Mas, certamente, se a esposa de um diácono deve ter essas qualidades, quanto mais deve a esposa de um pastor tê-las?

Portanto, o versículo 11 estabelece o caráter espiritual da esposa de um oficial de igreja: a gravidade, a confidencialidade, a sobriedade e a fidelidade. A beleza espiritual de uma mulher piedosa é como uma linda flor, cada uma tem suas próprias características. O crescimento de um jardim de flores, desde sementes até serem flores desabrochadas, não se dá em um dia, esse crescimento leva tempo e precisa de esforço, assim como das bênçãos: chuva e sol. Assim, peço-lhe que, na dependência do Espírito Santo, você se revista das graças de uma mulher piedosa, dedicando para isso, o seu tempo e os seus esforços, e contando com as bênçãos de Jesus Cristo, que se entregou para resgatar você de toda iniqüidade e para fazer de você Sua propriedade exclusiva.

  1. A gravidade

A palavra traduzida como “Respeitáveis” em nosso texto significa honrosa ou “grave”, digna de respeito. Isso sugere uma pessoa que tem uma postura séria quanto ao viver de acordo com a lei moral de Deus. Se uma mulher é uma flor, a gravidade é o caule da flor. A esposa do pastor pode ser bonita e delicada, em alguns aspectos, como as pétalas de uma flor, mas ela também precisa de espinhos fortes. Isso não significa que você deva ser dura, mas você precisa ser forte. Provações e tentações vão exigir isso de você.

Uma mulher digna de honra, de acordo com Provérbios 31:30, é “a mulher que teme ao SENHOR”. O texto continua dizendo: “essa será louvada”. Esta mulher vê algo do esplendor infinito de Deus, e seu coração se deleita em temê-lo. Ela vê o céu e o inferno como realidades inevitáveis, o que dá a ela um grave ou sério compromisso em fazer a vontade de Deus em todas as coisas.

Não pense que a palavra “gravidade” sugere que a esposa de um pastor deva ter os nervos dos lábios cortados de forma que ela não possa mais sorrir, muito menos beijar seu marido. A verdadeira gravidade é consistente com risos e amor. Lembre-se de Provérbios 17:22, ” O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos.” Quanto mais você teme ao Senhor, menos temerá aos homens, tornando-se assim uma mulher cheia de esperança.

Uma esperança, sólida e reverente lhe permitirá fazer os sacrifícios necessários para o ministério, bem como para a vida cristã diária. Não espere que seu marido trabalhe apenas 40 horas por semana; poucos homens de qualquer vocação o fazem. Você pode desejar mais do seu tempo e atenção, eu não estou dizendo que você deva sacrificar o seu casamento diante do “ídolo do ministério”. Deus ordena que você desenvolva o seu casamento, e falaremos sobre isso em breve, mas ser uma auxiliadora envolve sacrifício. Se você vir os sacrifícios do ministério através da lente de temor do Senhor, você se alegrará. Se você tiver gravidade de alma, o ministério da pregação do evangelho terá um peso tão glorioso, que fará a dor parecer leve e momentânea.

Um caráter grave também irá ajudá-la a honrar o seu marido. Efésios 5: 22 diz: “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor”. Você deve honrar e se submeter ao seu marido, mesmo que ele tenha um caráter imperfeito, porque a sua autoridade e o que ele é chamado a fazer (o seu ministério), reflete a justiça perfeita e a infinita majestade de Deus. “A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos.” (Provérbios 12:4). Sara Leone escreve: “Lembre-se que seu marido é julgado, em parte, pelo seu comportamento. Seja seu trunfo, não sua deficiência.”

 

Continua…

 

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*Esse artigo é uma palestra ministrada pelo Dr. Joel Beeke às esposas dos estudantes do Puritan Reformed Theological Seminary, gentilmente revisada e adaptada à forma escrita pelo autor especialmente para ser publicado no blog Mulheres Piedosas.

**Dr. Joel Beeke é presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Theological Seminary (EUA). É pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation, editor da Banner of Sovereign Grace Truth, diretor editorial de Reformation Heritage Books, presidente da Inheritance. Foi co-autor, escreveu ou editou mais de 50 livros, dentre os quais, “Vivendo para a Glória de Deus” e “Vencendo o Mundo”. Obteve seu Ph.D. em Teologia da Reforma e Pós-reforma no Westminster Theological Seminary. Ele é convidado freqüentemente para lecionar em seminários e pregar em conferências ao redor do mundo. Ele e sua esposa, Mary, foram abençoados com três filhos: Calvin, Esther e Lydia.

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*** Tradução: Flávia Silveira