*Fonte: Site Fiveminutehistory

Não foi a primeira coisa em que pensei, mas pode ter sido a segunda: como contarei às crianças?

O médico havia acabado de apresentar a fria e dura verdade: “Seu amigo, Ken, morreu”. Ken era um querido amigo da família, um homem que meus filhos amavam. Um membro antigo na igreja a qual sirvo como pastor, ele morreu de repente — durante a construção do prédio da igreja, no meio de seu trabalho. Um ataque cardíaco o levou até os braços de seu Salvador em um instante naquela manhã nublada de outono. Fiquei perturbado. Nossa equipe ficou perturbada. A congregação ficou perturbada. Meus filhos, que “lhe ajudavam” regularmente na igreja, enquanto eu iniciava as reuniões, aconselhava membros ou trabalhava na preparação do sermão, seriam os mais perturbados de todos. Planejei falar com eles com cuidado e revelar a triste notícia naquela noite.

A morte visita novamente
Nossa família enfrentou a morte novamente na semana passada com a súbita partida do meu padrasto. Como Ken, ele claramente amava Jesus e buscava agradá-lo. Gratamente, não nos entristecemos como aqueles que não têm esperança (1Ts 4.13). Quando a notícia chegou, minha esposa e eu voltamos a enfrentar novamente o fato de precisar dar a triste notícia para os nossos quatro filhos, com idades entre 7 e 13 anos.

Como pastor, sempre achei que servir de mensageiro de más notícias era particularmente difícil. É ainda mais complicado, quando você está falando a jovens corações cuja capacidade de compreender a morte e todas as suas implicações é limitada. Suavizamos a morte, referindo-se a ela em termos vagos e não ameaçadores? Ou falamos dela de maneira direta como podemos fazer com outro adulto?

Minha esposa e eu achamos que nenhuma das duas abordagens são úteis. Obviamente, quanto e exatamente o que você diz será muito diferente para uma criança menor do que para um filho de 12 anos. Ainda assim, há realidades bíblicas básicas que todos eles deveriam saber.

Aqui estão cinco verdades fundamentais que explicamos aos nossos filhos quando a morte nos visita.

1. A morte e o juízo estão vindo a todos nós
Infelizmente, a morte é parte do nosso mundo caído, e a Bíblia não omite essa verdade. O Salmo 139 nos diz que Deus tem os nossos dias contados. Como a Palavra não rejeita essa verdade como “excessivamente negativa”, nós também não devemos.

Nossa família já teve amigos que nunca falavam com seus filhos sobre notícias negativas, como desastres naturais ou 11 de setembro. Eles tornaram uma regra nunca discutir a morte. Acredito que isso é imprudente. Ao evitar más notícias, os pais criaram seus filhos para expectativas irracionais e uma grande decepção. Esta abordagem de modo sutil, ainda que involuntariamente, comunica que a vida na terra é definitiva. O pior de tudo, não oferece uma justificativa para o porquê o evangelho é uma boa notícia. Todos os dias nos aproximam um pouco mais do último dia, e nossos filhos devem estar cientes desse fato.

Há também um juízo que aguarda cada um de nós (Hb 9.27). Desejo que meus filhos saibam que, como disse o grande pregador Batista do Sul, R. G. Lee (1886-1978), chegará um “dia do pagamento” referente ao modo como vivemos na terra (2Co 5.10).

2. A morte não deveria existir
Esta verdade bíblica é o que torna a morte particularmente triste. Diga a seus filhos que a morte é uma intrusa neste mundo, que o primeiro pecado de Adão abriu a porta através da qual entrou a maldição da morte. O livro de Cornelius Plantinga – Não para ser assim – um resumo da dinâmica e natureza do pecado, é um recurso convincente (para adultos) para ajudar você a colocar mais carne bíblica nos ossos desta doutrina.

Além disso, explique aos seus filhos que é por isso que ficamos tristes quando alguém morre. Em nosso luto, através das nossas lágrimas, admitimos que realmente não exista morte por causas naturais.

3. Para o cristão, a morte é estar com Jesus
Em Filipenses 1, o apóstolo Paulo fica entre se é melhor para ele deixar este mundo para estar com Jesus ou permanecer nele para promover o evangelho. Paulo, então, escreve: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. (Fp 1.21). Em uma cultura que faz tudo o que pode para evitar qualquer indicação de que os seres humanos envelhecerão e morrerão, esta é uma verdade profundamente contracultural. Mas para o crente, atravessar o rio frio da morte é o caminho para o paraíso e os prazeres que desafiam a capacidade descritiva da linguagem humana.

4. Um dia, a morte morrerá
Dê aos seus filhos a insondável boa notícia de 1 Coríntios 15.26: “O último inimigo a ser destruído é a morte”. Quando o “já” colapsar no “ainda não”, a morte será história, e isso é motivo de alegria. Esta é uma oportunidade preciosa para recomendar Cristo aos seus filhos, para exortá-los a fugir para a cruz onde a morte foi derrotada e a misericórdia é encontrada.

5. A morte é algo sobre o qual todos devemos pensar
Eu não quero que meus filhos fiquem obcedados ou paralisados ​​com temor do fantasma da eternidade. Dito isto, o pastor e teólogo do século XVIII, Jonathan Edwards, fornece um excelente exemplo da necessidade de meditar sobre a morte, mesmo em uma idade jovem. De fato, Edwards era muito mais velho do que os meus filhos pequenos quando escreveu as suas famosas resoluções, a sétima das quais é: “Resolvo pensar muito sobre a brevidade e quão curta é a vida (Sl 90.17)”.

Edwards entendeu que a vida é um vapor, e que a morte deve nos motivar a viver para outro mundo. Diga aos seus filhos que, para aqueles em Cristo, a nossa melhor vida é a que está por vir.

E quanto à morte dos incrédulos?
O que dizemos aos nossos filhos sobre aqueles que parecem ter morrido em incredulidade? Isso é ainda mais complicado, mas dá uma oportunidade fundamental para discutirmos a eternidade, tanto do céu como do inferno. Não devemos ser menos claros sobre o inferno do que o nosso Senhor, que falou muito mais nos Evangelhos sobre a condenação do que sobre o paraíso.

Se eu estiver falando com adultos ou crianças, sempre evito avaliar o destino eterno de alguém que parece ter morrido em incredulidade. Certamente, deixo claro que qualquer pessoa que seja salva deve ir a Deus por meio da fé em Jesus. Mas temos dito aos nossos filhos (e eu tenho dito aos membros da família de incrédulos) que a pessoa que morreu está nas mãos de Deus — um juiz reto e justo que sempre faz o que é certo. Não me expresso assim para evitar ou minimizar a realidade da ira de Deus; isso simplesmente me impede de estar na posição de juiz eterno.

Embora haja muito mais que se possa dizer sobre a morte, nossos filhos precisam estar preparados — em conformidade com a idade — para a vida em um mundo cativo ao pecado e à morte. E eles precisam conhecer por que as boas novas da missão de resgate de Deus em Cristo e sua batalha vitoriosa contra a morte na cruz do Calvário são, de fato, boas notícias.

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*Jeff Robinson (PhD, The Southern Baptist Theological Seminary) é editor sênior do The Gospel Coalition. Ele também pastoreia uma igreja sediada em Louisville, Kentuchy, e serve como pesquisador sênior e monitor no Andrew Fuller Center for Baptists Studies e como professor adjunto de história da igreja no Southern Seminary. Antes de entrar para o ministério, ele trabalhou aproximadamente 20 anos como jornalista na Georgia, Carolina do Norte e Kentucky, cobrindo vários furos jornalísticos que iam desde política até à Major League Baseball e à Southeastern Conference of Football. Ele é co-autor, com Michael Haykin, do livro To the Ends of the Earth: Calvin’s Mission Vision and Legacy. Ele e sua esposa, Lisa, possuem quatro filhos.

**Esse artigo foi publicado  originalmente em português no blog Voltemos Ao Evangelho. Republicado mediante expressa autorização. Original em inglês aqui.

***Tradução: Camila Rebeca Teixera. Revisão: Renata Machado Gandolfo.