Ultimamente, os evangélicos brasileiros têm se despertado para a importância do conhecimento intelectual para a vida cristã. Ler bons livros, ouvir e seguir bons pregadores nas redes sociais, participar de bons congressos, tem se tornado coisas cada vez mais comuns entre nós, que costumam ser apontadas como o caminho para o crescimento espiritual. Considerando este cenário, eu gostaria de compartilhar algumas verdades sobre a relação entre o conhecimento intelectual e a vida cristã. São quatro.

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A primeira é a de que o conhecimento é fundamental para o nosso crescimento espiritual. Deus nos fez seres racionais, à sua imagem e semelhança. Essa já seria razão suficiente para que levássemos a sério a nossa racionalidade, e buscássemos com afinco o conhecimento. A Bíblia, no entanto, oferece mais razões, e para nosso propósito aqui, uma das mais importantes é a de que Deus se revelou de maneira proposicional, ou seja, Ele escolheu falar conosco através de um conjunto de proposições que foram registradas em um livro: a Bíblia Sagrada. Ainda que o universo criado esteja repleto de informações sobre Deus [como afirmam Davi no Salmo 19, e o Apóstolo Paulo em Romanos 1.18ss], Deus não pode ser verdadeiramente conhecido à parte do que Ele fala nas Escrituras Sagradas. O conhecimento pessoal de Deus passa pelo conhecimento racional da Bíblia. Isso é verdade para a conversão [a Bíblia diz que a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Romanos 10.17)] e também para a santificação [a Bíblia diz: santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade (João 17.17)].

A segunda verdade é a de que embora fundamental, o conhecimento não é suficiente. Você deve se lembrar do episódio em que um jovem rico se encontrou com Jesus interessado em saber como herdar a vida eterna (Marcos 10.17). Naquela ocasião Jesus o fez uma pergunta: sabes os mandamentos?, à qual o jovem respondeu sem titubear: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe (Marcos 10. 17-19). O conhecimento estava lá, mas se você conhece o fim da história sabe que ele não foi suficiente. Judas é outro exemplo disso. Ele esteve entre as pessoas que, possivelmente, tiveram o maior número de informações sobre Jesus. Mas isso não foi suficiente para que ele deixasse de receber o título de filho da perdição (João 17.12).

Talvez, poucas coisas sejam tão eloquentes como argumento em favor deste tópico, quanto a nossa própria experiência pessoal. Se formos honestos, concordaremos que há muitas coisas que sabemos que deveríamos fazer, mas não fazemos; ler mais a Bíblia, orar com maior frequência, usar palavras brandas, contribuir, perdoar. Da mesma forma que há tantas outras que sabemos que não deveríamos fazer, mas ainda assim fazemos; como: mentir, maldizer, vingar, cobiçar, roubar, dentre outras. Nossa própria experiência ensina que, embora fundamental, o conhecimento não é tudo o que necessitamos para o crescimento espiritual.

Além de não ser suficiente, o conhecimento pode se tornar um empecilho para o nosso crescimento espiritual. Esta é a terceira verdade. O pecado possui uma natureza pervertedora, e que quanto maior é a dádiva com a qual estamos nos relacionamos, maior é o risco de substituirmos por ela, o doador. Isso é verdade para o conhecimento. Ele é uma grande dádiva, e, exatamente por isso, pode tornar-se, com muita facilidade, um ídolo. Quando isso acontece, ele deixa de ser um instrumento para o nosso crescimento espiritual, e se torna um instrumento de nossa derrocada, dentre outras razões, por que fecha nossos ouvidos para a vontade de Deus e nos coloca em rota de colisão com o próximo. O saber ensoberbece, mas o amor edifica (1 Coríntios 8.1).

Para que o conhecimento contribua com o nosso crescimento espiritual, ele precisa ser um conhecimento sujeito ao Senhor. Esta é a quarta e última verdade que gostaria de compartilhar. Dois aspectos são importantes aqui. O primeiro é que o conhecimento que implica o nosso crescimento espiritual não é qualquer conhecimento, mas aquele que procede de Jesus. Quando livros, pregadores e congressos se tornam meios através dos quais ouvimos a Cristo, então podemos ter benefício e crescimento espiritual. Mas quando eles se tornam fins em si mesmos, simplesmente não valem nada. A questão não é apenas O QUE aprendemos, mas, principalmente, DE QUEM aprendemos. Nosso grande desafio ao ler bons livros, ouvir bons pregadores e participarmos de grandes congressos é ouvirmos a Jesus. O segundo tem a ver com a necessidade de sujeição. Muitas pessoas ouviram a Jesus, mas nunca se beneficiaram de suas palavras. Por que? Por que ao invés de receberem as palavras de Jesus para obedecer, as receberam para discutir. O conhecimento que implica o nosso crescimento espiritual é aquele que se faz acompanhado de humildade e obediência, como diz Tiago:

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar (Tiago 1.22-25).

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Filipe Fontes

Filipe Fontes :Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Rev. José Manoel da Conceição. Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Licenciatura Plena em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção. Mestre em Teologia (THM) com concentração em Filosofia pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Doutor em Educação, Arte e história da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.